"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

domingo, 31 de julho de 2016

A iluminação a gás em Lisboa

Porque ontem fez anos que se inaugurou a iluminação pública a gás na cidade de Lisboa (30 de Julho de 1848), recordo uma passagem de um dos textos que compõem Lisboa Galante, de Fialho de Almeida (De noite).

«Um a um, os lampiões de gás acendem as suas luzinhas vermelhentas, em fúnebres fieiras, que parece fazerem nas ruas grandes perspectivas de enterros. Os garotos apregoam jornais e os cauteleiros, cautelas: sob as árvores das praças, ao longo dos asfaltos marginais das ruas, escuros formigueiros de gente hesitam, vão e voltam, fosforentes os olhos, os gestos torturados, como se uma inquietação começasse a desorientá-los.
(...)
Vista do cimo dos montes, a essa hora, a cidade perdeu completamente a configuração burguesa que havia à luz do sol, para tornar-se numa indefinida necrópole de assustadoras perspectivas (...)
Neste corpo de monstro escamoso e fosforente, que é Lisboa de noite, feito de placas, corcovas, pernas, anquiloses, há um sistema arterial desenhado a luzes de gás, por cujos grandes vasos carroçam movimento e vida; e um sistema nervoso para a repercussão das suas grandes misérias e das suas grandes dores.»

Como mais prosaicamente escrevia Júlio César Machado, no final de Lisboa de Ontem:


A Polka e a iluminação a gaz... uma mistura explosiva!


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