"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Gute nacht

Não dou palpites sobre os (possíveis) resultados das soluções políticas que venham a ser adoptadas.
Mas há coisas que nos desopilam os fígados.
E enquanto o pau vai e vem...



domingo, 25 de janeiro de 2015

Michel Giacometti, a música e o cante

O etnomusicólogo nascido a 100 metros da casa de Napoleão, em Ajaccio, na Córsega, palmilhou Portugal - não digo de lés a lés porque não terá chegado a ir aos arquipélagos* - à descoberta do povo que canta, consciente de que "a música traduz não só o sentimento do Povo, mas também toda a complexidade da sua vivência".

*Corrijo: percorreu Portugal de lés a lés. O arquivo sonoro do Museu da Música Portuguesa contém documentação fonográfica com gravações feitas, também, nos Açores e na Madeira por Michael Giacometti e Veiga de Oliveira.





«Cheguei com 30 anos a Portugal, depois de ter viajado por dezenas de países, ter falado línguas e dialectos estrangeiros, ter vivido com camponeses da Europa, de África e e parte da Ásia. A certa altura senti a necessidade de fazer uma pausa, para a síntese. Podia ter ido para a minha terra, mas ela não me dizia nada, saí de lá com poucos meses de vida.»

A nossa sorte - a de quem se interessa pelo património - foi o seu enorme trabalho de recolha das tradições musicais e dos próprios instrumentos. 
Foi ter captado uma alma. 

E quando falhei (por descuido - atraso na compra dos bilhetes) o espectáculo de cante alentejano no CCB, encontrei esta pequena exposição no Museu da Música Portuguesa - Casa Verdades de Faria (Monte Estoril) 



Pensando bem, no CCB, os grupos corais estão deslocados - o espectáculo devia ser numa adega (com direito a vinho tinto, a uns enchidos e a uns bons queijinhos)! 


quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

O livro que desceu do céu

No passado dia 6, o livreiro que habitualmente vai à Paulo da Gama, já conhecedor de alguns dos meus gostos, disse-me que tinha, por um preço muito baixo, um romance sobre a origem do Corão e da religião islâmica.
Ele próprio já o lera e achara muito interessante. Fez um pequeno resumo do livro e, a propósito, falámos sobre os conflitos permanentes no Médio Oriente ao longo da História.
O preço era mesmo de saldo, porque o livro, editado em 2007, está longe de ter sido um sucesso de vendas.
Vista de olhos dada, um preço tão em conta, obra comprada.
No prefácio, o autor, professor universitário, nascido em Nápoles em 1961 e convertido ao islamismo em 1990, escreve:
«Há algum tempo que estava interessado em escrever uma história sobre a origem do Islão que tivesse a fluidez de um romance ocidental e os conteúdos da sabedoria oriental. (...) Espero que esta história proporcione horas agradáveis de leitura. Se, no fim, o Oriente e o Ocidente estiverem mais próximos e o desejo de conhecimento prevalecer (ainda que pouco) sobre a desconfiança e o medo, sentir-me-ei amplamente recompensado pelo esforço que fiz.» 
O romance reflecte a preocupação de destacar a existência de origens comuns e, portanto, de relações estreitas entre islamismo, judaísmo e cristianismo.

No dia seguinte deram-se os atentados de Paris e todos os acontecimentos conhecidos.
Não parece que o Oriente e o Ocidente estejam mais próximos, nem que prevaleça o desejo de conhecimento do outro. A desconfiança e o medo estão melhor instalados.
Não sei como se sentirá o autor.

Lembrei-me disto hoje, porque os acontecimentos me despertaram a curiosidade de ler o livro e, andando com o livro na mala, se tivesse proporcionado que, na aula de hoje com o 6.º D, eu lesse a passagem do prefácio acima transcrita quando o tema da aula passou a ser os acontecimentos em França.  
Por coincidência, estávamos em aula quando se iniciou a cadeia de acontecimentos de 4.ª feira passada.

Da conversa com os alunos, destaco a pergunta de um deles: "Porque temos medo?" e a indignação revelada por outro (também mais informado) a propósito da utilização de crianças nos atentados bombistas na Nigéria.
Na contracapa do livro afirma-se: «É que, com a ajuda do conhecimento, é possível construir uma ponte entre o Oriente e o Ocidente e encontrar a estrada da tolerância e da paz.»
Alguns jovens, como os que participaram na discussão de hoje, ainda me fazem acreditar que sim.

«E se todas as árvores da Terra fossem uma pena e o mar a tinta, e ainda que o ampliassem sete mares, as palavras de Deus não se esgotariam. Deus é poderoso e sábio.» (XXXI, 27)


terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Parabéns ao Rei Escarlate


1969, ano um.
A 13 de Janeiro começaram a ensaiar na cave do Fulham Palace Cafe.
A 6 de Julho (o que é que esta data me faz lembrar?) já tocaram num concerto organizado pelos Rolling Stones, no Hyde Park (Londres).
Em Agosto gravaram o primeiro álbum, In The Court of the Crimson King, o da célebre capa.
Em 10 de Outubro foi o lançamento desse disco.

Aqui a versão de In The Court of the Crimson King apresentada na BBC, a 6 de Maio.



domingo, 11 de janeiro de 2015

Júlio Pomar

Com um dia de atraso - Júlio Pomar nasceu a 10 de Janeiro de 1926.

Júlio Pomar por António Santos (Santiagu)


A economia está doente

Já que aqueles que fazem parte do "arco da governação" (ou nos controlam) não o dizem... diz o Papa, lembrando que a mensagem sobre "o cuidar dos pobres" é uma mensagem da Igreja e que quer S. Ambrósio quer o Papa Paulo VI afirmaram que "a propriedade privada não pode ser um direito absoluto e incondicional".

«Hoje em dia os mercados financeiros contam mais do que as pessoas», o que é sinal de que a economia está doente. (Papa Francisco, em entrevista ao La Stampa, segundo informação do i)

Pescaria - Rodrigo Rocha


Pelo sentido de humor

Pela liberdade.



segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Lua cheia (e o Pico)

Dizem que, em Janeiro de 1839, Louis Daguerre fotografou a Lua pela primeira vez.
Daguerre dominava a técnica que envolvia máquinas e o efeito da luz.

Dizem que, depois de ter observado, pela primeira vez, a Lua ampliada através de um telescópio, a prosa de Galileu nunca mais foi a mesma. Revelava melancolia...

Vasco Graça Moura afirmava que "A poesia é uma questão de técnica e de melancolia".
Mas não sabia o que predominava mais...

Praia do Almoxarife (ilha do Faial), 2005


Pintor Europeu das Ilhas

Foi este o cognome que Vitorino Nemésio atribuiu ao seu amigo António Dacosta, pintor nascido em 1914, na cidade de Angra do Heroísmo.


Assinalando o centenário do seu nascimento, o Centro de Arte Moderna apresenta uma exposição que abarca a obra de António Dacosta, das obras de juventude, marcadas por paisagens da Terceira natal, às suas últimas produções, em Paris.


«Não se deixa de fazer as coisas que se traz em si.»







«A sua obra, entre o delírio e a cena aberta, entre a memória, as séries e o rumo a sul, cresceu pluralmente desde os primeiros ensaios, surpreendentes, surgidos durante 1928, decisivos sinais da sua tendência para as artes. Insular, talvez ainda vivesse as observações da marcenaria e do restauro, quer do seu pai, quer do avô dedicado a esta última profissão.»
Rocha de Sousa

Foi também lançado o primeiro catálogo digital de um artista português - www.dacosta.gulbenkian.pt


sábado, 3 de janeiro de 2015

Objecto não voador identificado

Diz a Wikipédia que a 3 de Janeiro de 1496 Leonardo da Vinci testou sem sucesso uma máquina voadora que tinha construído.

Afirmou Mário Cláudio sobre Leonardo, "(...) ele é um apocalipse de fracassos. E, ao mesmo tempo, uma enciclopédia de curiosidades (...)"



quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Henrique Pousão, um percurso fulgurante

Henrique Pousão nasceu a 1 de Janeiro de 1859, em Vila Viçosa.

Em 1872 foi viver para o Porto, onde iniciou os seus estudos em Belas Artes.

Auto-retrato (1878)
«Artista singular na pintura portuguesa do século XIX, Henrique Pousão inicia uma precoce carreira como aluno brilhante na Academia Portuense de Belas Artes, onde ganha um concurso de pensionista do Estado no estrangeiro, em 1880. Nos três anos seguintes, absorve com particular originalidade os estímulos que recebe nos diferentes locais por onde passa, Paris, Roma, Nápoles e ilha de Capri.
(...) Muito depressa, Pousão distancia-se do ensino académico e enceta uma pesquisa plástica independente, apurada num rigor compositivo muito próprio e no valor autónomo da cor, intensificada pela luz mediterrânica que encontra em Itália. 
É um percurso fulgurante que será interrompido com a sua morte precoce, aos 25 anos de idade. Mas a excepcional produção que nos legou revela a surpreendente originalidade de um estudante promissor, que em pouco mais de quatro anos se torna num mestre da pintura portuguesa.»
Carlos Silveira, Henrique Pousão


Casas brancas de Capri (1882)

Cecília (1882)

«(...) Pousão, aprendiz libertado de academias e sem mestres na sua experiência mediterrânea, foi mais longe que qualquer outro pintor português da sua geração, no caminho de um esquema pictórico actual
José-Augusto França, A arte em Portugal no século XIX

Janela das persianas azuis (1883)

Regressou a Portugal num estado de saúde já muito debilitado.

«Quando já não podia sair de casa, no final do ano de 1883, pinta um pequeno estudo, Aspecto da casa do primo Matroco. É uma pintura minuciosa e sensível, semelhante a uma estampa japonesa (...).
Os últimos dias passa-os acamado na sala de estar da casa, tuberculoso, pintando quadros de flores. Papoilas, margaridas, amores-perfeitos. Flores primaveris, que ele pedia a familiares que fossem buscar ao quintal da casa. E é assim que um promissor paisagista, um dos maiores pintores portugueses do século XIX, termina os seus últimos dias, pintando flores campestres.»
Carlos Silveira, Henrique Pousão


Aspecto da casa do primo Matroco

Uma das suas últimas pinturas, em casa do primo Manuel Matroco
(Vila Viçosa), onde viria a falecer, a 25 de Março de 1884 
«(...) a sua vida foi breve e talvez feliz, porque fez o que desejou e morreu pintando, logo depois de três anos de França e de Itália.»
José-Augusto França, A arte em Portugal no século XIX










Aos amigos

«Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado.
Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos,
com os livros atrás a arder para toda a eternidade.
Não os chamo, e eles voltam-se profundamente
dentro do fogo.
- Temos um talento doloroso e obscuro.
Construímos um lugar de silêncio.
De paixão.»
Herberto Hélder