«Juristas e pensadores palestinianos têm analisado o regime de colonatos, a lei marcial, o estado de direito, a separação, o confisco de terras, as detenções sem julgamento. Entre 1948 e 1966, era um regime de emergência, e tornou-se um regime marcial desde a ocupação de 1967. Antes de me tornar professora, representei uma organização que preparou relatórios para o Comité das Nações Unidas para a Eliminação de Todas as Formas de Segregação Racial, cuja Convenção proíbe o apartheid no artigo 3.º. Em 2005, eu era uma jovem advogada e fiz um manual para ativistas sobre Israel enquanto regime de apartheid. O que é novo é que agora outros o admitem.
O que os políticos têm feito nestas décadas é separar a criação de Israel, em 1948, da ocupação da Faixa de Gaza, em 1967, como se a primeira estivesse certa mas a Ocupação não. Ao falarmos de apartheid dizemos que há um só regime, não há separação. Israel tem um regime contra todos os palestinianos e um outro regime para todos os seus nacionais judeus.
(...) Conseguimos mudar o que pensa a comunidade dos direitos humanos, conseguimos que reconheça o apartheid. Mas em vez de a comunidade internacional se mobilizar, está a permitir que Israel faça pior ainda. Têm o governo mais à extrema direita de sempre, o que é dizer muito em Israel, e nem os israelitas gostam.
A sociedade de Israel está zangada com o regime porque sente que a democracia está a ser roubada. Mas não contestam a ocupação, o apartheid. Por outro lado, ninguém exerce pressão sobre Israel, pode fazer tudo impunemente, não há sanções internacionais. Se alguém diz que é ilegal, é logo considerado anti-semita. Portanto, ninguém faz nada. (...) Portanto, a situação vai piorar. E a comunidade internacional vai continuar assim, com medo de agarrar esta questão como deve ser e os palestinos pagam o preço.»
Noura Erakat, jurista e ensaísta norte-americana, professora na Univ. George Mason (Virgínia), filha de palestinianos que emigraram para os EUA.
As frases são retiradas da entrevista que deu a Ana Sousa Dias para o JL (Jornal de Letras) de 6 de Setembro deste ano (há só um mês).
"A situação vai piorar."
O terrorismo não é (não devia ser) a resposta, nomeadamente porque "justifica" a violência de Israel.
O ataque do Hamas já está a suscitar a retaliação do governo israelita. Benjamin Netanyahu terá o apoio da maioria da população israelita e deixará de ser contestado. A comunidade internacional ocidental, que antes "o deixava andar em rédea solta", menos o vai incomodar - os palestinianos não são louros nem têm os olhos azuis e os israelitas têm direitos especiais (para além de continuarem a participar no Festival da Canção e nas competições desportivas europeias), sendo que as suas ocupações do território palestiniano são vistas como "benignas". Há ocupações e... ocupações!...
Reacende-se a guerra e "os palestinos pagam o preço", como se todos sejam terroristas.
Netanyahu deve estar grato ao Hamas.
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