"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

sexta-feira, 15 de março de 2013

O fio do tempo

Mais História do que romance.
«Imóvel sobre a mesa, a ampulheta assinalava o movimento incessante do mundo».
D. Álvaro de Ataíde, já centenário, revê a sua vida e a História em que foi actor, seguindo um fio do tempo.

A segunda obra da trilogia de João Paulo Oliveira e Costa, Professor Catedrático de História, recua no tempo relativamente à época abordada em O Império dos pardais, o primeiro livro.
Em Lisboa, ano de 1500, o servidor da Casa de Viseu e elemento próximo dos "amigos do rei" (D. Manuel I), enquanto espera que a morte o venha buscar, perde-se (ou encontra-se) nas memórias de quadros da história de Portugal em que teve um papel importante. Sem ordenação cronológica, viajamos ao século XV português, ao seu ambiente, pelos olhos de quem era próximo da corte, assistiu a intrigas políticas e interveio nos jogos de poder.
A História, aquela que foi realmente vivida, é suficientemente rica para, devidamente recriada, ofuscar a imaginada, aquela que podia ser o romance. O historiador sobrepõe-se ao romancista, o que não me desagrada, apesar de ter sido "educado" numa perspectiva mais favorável ao Infante D. Pedro (de Alfarrobeira), a D. João II e a D. Jorge.
D. Manuel I será o rei favorito do autor. D. Manuel, que parece ser o "rei pardal", no sentido que J.P. Oliveira e Costa dá ao título O Império dos pardais.
Contrariando a tendência que considera D. Manuel um "acaso" no trono e dá a D João II a primazia, inclusive a nível do romance histórico, pela sua visão política e pragmatismo, temos a leitura que nos aproxima do que terá sido a visão manuelina, a sua habilidade política e diplomática. E, sempre ao lado do rei, os seus fidelíssimos amigos, que admiram o veterano cavaleiro.
D. Álvaro de Ataíde é a figura exemplar, o humilde herói que congrega, igualmente, a admiração de D. João II (que mandou matar o seu neto), que com ele se aconselha a propósito da política da expansão - a que Oliveira e Costa considera como a mais positiva da acção do monarca - mas não a propósito da política interna - a que Oliveira e Costa considera como a menos positiva na acção do monarca.
Mas tudo isto é História. O romance é secundário. A História (quase que) basta como ficção.

P.S.:
"Contra" a trilogia de João Paulo Oliveira e Costa, três romances pró-D. João II:


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