"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

domingo, 22 de janeiro de 2023

Dia de S. Vicente

 Hoje é o dia do padroeiro de Lisboa.


Iluminura representando a trasladação
do corpo de S. Vicente (1502)

Nau de S. Vicente - Armas da Cidade de Lisboa,
baixo-relevo do século XVII


sábado, 21 de janeiro de 2023

No Reino da Estupidez

Do DN de hoje

Seguindo esta lógica, aguarda-se pela contratação de ninguém mais do que uma grávida para o papel de grávida, a contratação de um marreco para O Corcunda da Notre Dame, de um prisioneiro para fazer de bandido, de padres a sério para O Crime do Padre Amaro e um dos Secretários de Estado demitidos a representar um político.

O Teatro é para ser levado a sério, não é para fazer de conta!

Olho por olho, dente por dente! Os coxos que se preparem...

Vamos ver quem é o próximo a invadir o palco...


P.S. - Peço desculpa se ofendi alguém: não era minha intenção ofender coxos, marrecos, políticos demitidos ou outros. 


quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Eugénio de Andrade - O amigo mais íntimo do Sol

«(...) o meu mundo também não era o das letras, mas o dos pássaros e do vento, o das águas e dos amieiros. Essa era a "poesia" que me chegava, mas havia outra, ela vinha na voz da minha mãe, e nos seus intermináveis romances, cuja lembrança me aquece ainda.»

«Por mais voltas que dê, é sempre à minha mãe que vou ter quando me ponho a imaginar como é que a poesia se me cravou tão fundo na carne. À minha mãe e àquele lugar onde os meus sentidos despertaram para uma luz atravessada por um chiar de carros de bois pelas quelhas, a caminho das terras baixas dos lameiros. É sempre àquela fonte que regresso. Nela bebi os primeiros versos (...)»

Eugénio de Andrade

Nascido há 100 anos


terça-feira, 10 de janeiro de 2023

É só fazer as contas!...

Esta notícia é do passado dia 31 de Dezembro
 

O jornalista sabe quanto o Ronaldo ganha por mês, mas enganou-se no cálculo relativo à hora.
Provavelmente nem acreditou e, por isso, baixou o valor ao nível... do minuto!
É que os 386 euros são aquilo que Ronaldo ganha por minuto, mesmo que esteja a dormir.
Não é para um vulgar humano, um reles médico, enfermeiro, engenheiro, professor... Chefe de Governo, Presidente da República...
Eu, professor do Básico, teria de trabalhar 357 anos integrado no mais alto escalão (valores ilíquidos e incluindo subsídio de férias e de Natal) para conseguir ganhar o que Ronaldo vai ganhar num ano!
Não acredito muito que tenha vida para tanto!

Acho piada quando ouço dizer que lhe devemos estar gratos pelo que já fez por Portugal.

Toca Xutos


A humidade corrói a Humanidade

 

O tempo estava de chuva, como se pode ver, e isso terá influenciado o escrivão dos rodapés.

 A exposição Anjos e Lobos - Diálogos da Humanidade está na Galeria de S. Roque (Lisboa).

«(...) apresento uma série de retratos, bastante realistas, de mulheres a que chamei Machas, em português Marias (...). E estas Marias vivem uma guerra terrível, uma tragédia a que estamos a assistir. E não sabemos uma milésima do que está a acontecer. As mulheres, como sempre nas guerras, são violadas e torturadas. Tirei essas mulheres de um jornal e trouxe-as para a minha pintura. Não são seres como fiz em Metamorfoses da Humanidade, pessoas que se transformavam em bichos, são cabeças que nos interrogam. São mulheres geralmente pobres que ficaram naquele país, porque não quiseram ou não puderam fugir. E a minha vontade ao retratá-las é mostrar como são fortes. Porque o olhar dessas Machas é de luta.» 
(Graça Morais)

A guerra corrói mais do que a humidade!...



segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

A invasão alienada merece ser filmada


«Brasília foi invadida por alienígenas – seres provenientes de uma realidade paralela onde não só é permitido invadir, destruir e roubar os edifícios sede dos poderes executivo, legislativo e judicial, como se deve filmar essa afronta aos pilares da democracia e partilhá-la desassombradamente nas redes sociais.»

António Rodrigues, Público, 9 de Janeiro de 2023
aqui


sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

Expresso - 50 anos

"Expresso, um jornal para saber ler" (as linhas e as entrelinhas).

O slogan era do próprio jornal, os parêntesis são meus, a propósito de um tempo em que nem tudo se podia dizer.


No Sábado 6 de Janeiro de 1973, saiu o primeiro número do semanário Expresso
Foram 60 mil exemplares (a 5$00).

Como seu fundador, director e principal proprietário, Francisco Pinto Balsemão, deputado da "ala liberal", em ruptura com o regime depois de várias batalhas perdidas em torno da liberdade de expressão, do direito de e à informação e do fim da censura.

A manchete do primeiro número revelava que 63% dos portugueses nunca tinham votado.

O jornal contava com uma coluna de opinião de Francisco Sá Carneiro, outro dos deputados liberais, e a redacção era chefiada por Augusto de Carvalho.

Marcelo Rebelo de Sousa, Francisco Pinto Balsemão e Augusto de Carvalho

Um mês depois, nas páginas do jornal, MRS (Marcelo Rebelo de Sousa) estreou-se na análise política (o que nunca deixou de fazer até agora!).

Sujeito à censura, como toda a imprensa, muitos foram os cortes que sofreu até ao 25 de Abril. 
"Se o 25 de Abril não tivesse acontecido, o Expresso teria acabado!" (Francisco Pinto Balsemão).

O record de vendas verificou-se em Outubro de 2006: 202 108 exemplares.

Expresso: um jornal que foi uma lufada de ar fresco na balofice do anterior regime e referência do jornalismo português - não o será tanto actualmente, mas é verdade que toda a imprensa (a escrita em especial) vive um momento crítico. A sua qualidade (rigor, pertinência, independência) é muito questionável.  

Penso no carácter que tinha muito jornalismo na época em que não havia cursos superiores de comunicação social...


terça-feira, 3 de janeiro de 2023

Quem pudesse sintonizar tudo isto!

Há mais de meia hora
Que estou sentado à secretária
Com o único intuito
De olhar para ela.
(Estes versos estão fora do meu ritmo.
Eu também estou fora do meu ritmo).
Tinteiro grande à frente.
Canetas com aparos novos à frente.
Mais para cá papel muito limpo.
Ao lado esquerdo um volume da «Enciclopédia Britânica».
Ao lado direito -
Ah, ao lado direito!
A faca de papel com que ontem
Não tive paciência para abrir completamente
O livro que me interessava e não lerei.
Quem pudesse sintonizar tudo isto!

3.01.1935
Álvaro de Campos


segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Martinho da Arcada


A 2 de Janeiro de 1782*, abriu, nas lojas de um dos primeiros edifícios construídos na Praça do Comércio após o Terramoto de 1755, aquele que se transformou no actual café-restaurante Martinho da Arcada, com o nome de Casa da Neve, vendendo bebidas e sorvetes. Sucederam-se outras designações: Casa de Café Italiana, Café do Comércio, Café dos Jacobinos, Café da Arcada do Terreiro do Paço...


Em 1829, um novo dono, Martinho Bartolomeu Rodrigues, deu-lhe o seu próprio nome, passando a chamar-se Martinho da Arcada para o distinguir do café homónimo do antigo Largo Camões (actual Largo de D. João da Câmara), pertencente ao mesmo gerente.

Foi paragem obrigatória para governantes, artistas e intelectuais, e local de tertúlias. 
Foi a segunda casa do seu cliente mais famoso: Fernando Pessoa. A sua mesa, ex-libris da casa, continua reservada no recanto onde passou tardes a escrever.



Foi aqui, no dia 27 de Novembro de 1935, que Fernando Pessoa e Almada Negreiros se sentaram, beberam um café, conversaram durante algumas horas e se despediram. Três dias depois, Pessoa morreria no Hospital de São Luís dos Franceses e este encontro ainda hoje é recordado como a última vez que o poeta entrou no seu local favorito, em Lisboa. 


* Também encontrei o ano de 1778 como a data fundadora, sendo que em 1782 também vendia bilhetes para as carreiras de sege entre o Terreiro do Paço e Belém.