"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

sábado, 30 de novembro de 2019

Estamos na arena global


Excertos da entrevista de Adriano Moreira, hoje, à TSF e ao Diário de Notícias.


«É o que está a acontecer. Ninguém adivinhava ou desejava que seríamos incapazes de impedir que a ordem mundial se transformasse na arena mundial em que está neste momento. (...) Neste momento, muitas vezes me ocorre um comentário do Bismarck, que disse o seguinte: uma leviandade pode conduzir a um desastre. Aconteceu com o arquiduque. Mataram um arquiduque e pagámos isso em milhões de vítimas. E aquilo de que nós estamos, a meu ver, neste momento dependentes nesta arena é que uma leviandade pode levar à destruição da Terra, com o número de países que têm a bomba atómica.»




«(...) não temos conceito estratégico global, pois é uma arena, não há conceito estratégico renovado da Europa, os tais partidos que se multiplicam e cada um quer sua coisa, etc., e não há conceito estratégico português renovado. Hoje toda a gente anda a pedir a reforma do Estado, ora a reforma do estado tem duas vertentes. Aquilo de que as pessoas mais se queixam é da execução, da administração, é a saúde, é o ensino, é tudo. Mas a administração é para executar um conceito estratégico, e nós temos de ter um conceito estratégico português, que não temos, articulado com o conceito estratégico europeu, que se deteriorou, e com o conceito estratégico global de que andamos à procura, estamos na arena global.»


quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Novas tecnologias


As escolas também estão a ficar sem computadores!
Funcionamos com PCs do tempo de José Sócrates (2008-2009).
Demorei, hoje, 15 minutos numa aula para descarregar e abrir uma apresentação PowerPoint, sendo que, depois, ela ganhou um colorido estranho a que eu sou alheio.
Novas tecnologias!


quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Não confio, desconfio!

Se são polícias, fico preocupado.
Como lhes posso confiar a segurança pública, a minha segurança? 


Confiança zero!


terça-feira, 19 de novembro de 2019

Obrigado, José Mário




«(...) Há princípios e valores
Há sonhos e há amores
Que sempre irão abrir caminho
E quem viver abraçado
À vida que há ao lado
Não vai morrer sozinho
E quem morrer abraçado
À vida que há ao lado
Não vai viver sozinho»
Do que um homem é capaz

E José Mário Branco era capaz disto! 


domingo, 17 de novembro de 2019

As velas espalholas

Os erros acontecem.
Mas às vezes são bugalhudos e hilariantes.


Erro é saber que as velas são espanholas e, depois, insistir no desenho da cruz de Cristo nas velas em vez da cruz de Santiago.

Evolução da cruz de Santiago:



A cruz de Santiago nas velas das naus de Magalhães, na capa do livro de BD Magalhães - Até ao fim do mundo.


Tocar com o coração





sábado, 16 de novembro de 2019

Deus deve andar preocupado!

Outra!
Parece que voltámos ao poder divino dos monarcas absolutos do século XVIII.

Reconhecida, segundo a revista Visão, por EUA, Brasil e Venezuela. O que a loucura junta!!!...


Como Deus anda carente de um gabinete de imprensa ou de um assessor de comunicação!...

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P.S.:




El Ciudadano

José Saramago

A caminho do centenário...
José Saramago nasceu a 16 de Novembro de 1922.



quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Plano para salvar Veneza II

Plano para salvar Veneza (citação de nós próprios, transcrevendo Jorge Sousa Braga)


«Todos os anos o Adriático cresce alguns milímetros sobre Veneza, o século vinte [e um] ameaçado pelas águas...»
Jorge Sousa Braga, Plano para salvar Veneza II


king Crimson Epitaph


"Recuperei" o disco (i.e. comprei-o, novamente, em vinil) 30 anos depois.

Há empréstimos que não se devem fazer!



Museu Nacional Millennium Arte Antiga?

Se seguirem o exemplo do Palácio de Cristal...


P.S. - Ou Painéis Millennium de S. Vicente...


segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Parabéns, Mário Cláudio

Deve ter sido assim, na Cooperativa Árvore, no Sábado passado.




«Não há nada que eu quisesse fazer além da escrita.»


sábado, 9 de novembro de 2019

Queda do Muro de Berlim - 30.º aniversário





Cidade
Sem muros nem ameias 
Gente igual por dentro 
Gente igual por fora 
Onde a folha da palma 
Afaga a cantaria 
Cidade do homem
Não do lobo, mas irmão 
Capital da alegria

Utopia sem muros


quarta-feira, 6 de novembro de 2019

A última coisa que desapareceu na minha mãe foi a poesia

«- Qual é a última memória que tem dela?
- A última é a do dia em que ela morreu, mas essa não é uma memória bilateral. A memória que tenho de como a minha mãe era é justamente na casa de Lagos. Ela já estava muito enfraquecida e doente, fazia confusões e, a certa altura, eu estava desesperado porque não conseguia ter uma conversa directa com ela e sentia-a completamente ausente. Então, de repente, veio-me uma inspiração, e comecei a dizer o princípio de poemas dela e ela acabava-os. Era impressionante! Eu disse o princípio de uns cinco poemas e ela terminava-os com um sorriso. Acho que é a última memória bonita que tenho dela tal como era. A última coisa que desapareceu na minha mãe foi a poesia.»
Entrevista de Miguel Sousa Tavares ao DN, 26 de Outubro de 2019




segunda-feira, 4 de novembro de 2019

(...) como uma bomba-relógio

Só vi um bocadinho do Prós e Contras desta noite. 
Não sei quem era o senhor que ouvi - alguém cheio de boas vontades, das que chocam com a realidade que não a dos meninos de elite, que será a sua.
Desliguei. Por questões de sanidade mental.
Quem governa ignora ou faz por ignorar a realidade.
E lembrei-me do texto de Valter Hugo Mãe de que a Teresa (como colega) me falara.

«O descalabro do Mundo incide sobre o universo escolar como uma bomba-relógio. Tudo o que falha se dissemina pelas crianças e pelos jovens. Mas julgo que ninguém pode desejar a degeneração do lugar onde os seus filhos se educam, o lugar onde o futuro se educa. A atenção à sanidade escolar precisa de ser prioritária. Não vai haver esperança para gerações mal formadas, admitidas à demasiada ignorância ou egoísmo.»
Valter Hugo Mãe

E lá vamos, cantando e rindo.
Levados, levados sim!


O Coreógrafo




domingo, 3 de novembro de 2019

Os dias das pequenas coisas

Num Domingo molhado, com...
Sarah Affonso no Museu Nacional de Arte Contemporânea (Chiado).


 Auto-retrato

Meninas

Ilustrações de Sarah Affonso para a 1.ª edição de
A Menina do Mar, de Sophia de Mello Breyner (1958)

Sarah Affonso com Almada Negreiros e os filhos
(na Quinta da Lameirinha?)

Fotografia da casa da Quinta da Lameirinha (Bicese)


Girassóis e girachuvas



sábado, 2 de novembro de 2019

Epígrafes

«A residência no estrangeiro, abraçado a um exílio com tanto de voluntário como de empenhado, contribuía sem dúvida para a escassa validação do escritor no seu berço pátrio, sempre disposto a esquecer os filhos que transpõem as fronteiras, votando-os ao silêncio em que se detecta o amuo da imaturidade, ou o castigo da independência. Respeitado pelos seus pares como uma voz importantíssima, se bem que no entusiasmo algo tépido, autorizado pela inveja que não se contém, Sena lutaria contra semelhante ostracismo, usando a tenacidade risonha com que retrucava, ao acusarem-no de falar demasiadamente de si mesmo, "Se não for eu a fazê-lo, quem o fará por mim?"»
Mário Cláudio, A Alma Vagueante


«Tenho horror de falsas modéstias, de facto. Mas tenho ainda maior horror da mediocridade que se compraz em recusar-se a reconhecer o que a excede. Não, não sou um dos meus mais seguros admiradores. Se o fosse, seria como a maioria dos membros da vida [literária] portuguesa, tão satisfeitos de si mesmos [que escrevem sempre um livro pior que o anterior]. O problema não está em eu me considerar muito grande - mas sim em os outros serem, na maioria, tão pequenos. (...) O mais que fazem é louvar às vezes um medíocre ou desenterrar um morto, com medo da sombra que lhes seja feita. A diferença entre mim e eles é que não temo o juízo do futuro, e não procuro tapar o sol com uma peneira. Não: a minha segurança é total e absoluta: ninguém pode destruir-me senão eu mesmo.»
Jorge de Sena, Entrevistas


Nesta data centenária, a RTP epigrafa Jorge de Sena como "um dos intelectuais mais influentes do século XX português". Para compensar...




Vamos, Mécia?

«E para que conste, direi o que neste mês de Outubro de 2009 me contou D. Mécia de Sena: que no próprio dia em que se deu o 25 de Abril, Jorge de Sena, ao ouvir pela rádio que tinha caído a ditadura em Portugal, se voltou para ela e lhe disse, com uma alegria e um entusiasmo quase infantil: - "Ó Mécia, vamos para Portugal"? Ao que a D. Mécia respondeu: - "Ó Jorge, como é que podemos ir assim sem mais, se tu não tens nenhuma garantia de emprego em Portugal nem sabes sequer se to vão oferecer? Vamos esperar e depois se verá."

E a verdade é que, através dos anos, por mais de uma vez me referiu a D. Mécia que o tal convite para ensinar numa universidade portuguesa só foi feito a Jorge de Sena quando ele estava no leito de morte, no hospital, em Santa Bárbara, no ano do Senhor de 1978. Fizera-lho António Reis, na sua qualidade de Secretário da Cultura num dos governos socialistas. Que nesse momento, muito comovido e sensibilizado pelo convite, Jorge de Sena se voltou para a D. Mécia e lhe disse: - "Vamos, Mécia"? Ao que a D. Mécia respondeu: - "Jorge, primeiro tens de melhorar; depois falamos nisso".»



«(...) Mécia, a mulher que recusou ser o lugar de espera para ser a activa companheira de uma singularíssima aventura intelectual e moral.» (Baptista Bastos)


Nos 100 anos de Jorge de Sena

A 2 de Novembro de 1919 nasceu Jorge de Sena
«(...) o poeta, o ficcionista, o dramaturgo, o crítico, o ensaísta – uma das vozes mais potentes do século XX. Uma voz que cruzou os oceanos e o tempo para estar hoje, aqui, no meio de nós, não só fazendo ecoar a si mesma como todas aquelas vozes subtis, sussurradas, silenciadas por censuras e repressões.
(...) Este poeta, cuja voz é um clamor pela liberdade, pelos direitos humanos, pela dignidade da vida, completa seu primeiro centenário mais actual que nunca, como cumpre a todos os grandes autores, e dentre estes, não é exagero dizer que Sena ocupa uma posição das mais altas. Sua vasta e complexa obra, que reflecte um apetite de tudo, um desejo imenso de conhecimento, do outro, dos outros, de si mesmo, do mundo, ainda nos desloca dos lugares-comuns, das conclusões fáceis, do que é aceite sem questionamento, e assim o será pelos centenários que virão, actualizando-se de acordo com o tempo e a sociedade, mas sempre mantendo aquela desconfiança metódica de tudo que não passou pelo filtro da meditação.»

Jorge de Sena em fotografia de Fernando Lemos (1949)


Epitáfio de Jorge de Sena

Epitáfio

De mim não buscareis, que em vão vivi
de outro mais alto que em mim próprio havia.
Se em meus lugares, porém, me procurardes
o nada que encontrardes
eu sou e minha vida.


Essas palavras que em meu nome passam
nem minhas nem de altura são verdade.
Verdade foi que de alto as desejei
e que de mim só maldições cobriam.
Debaixo delas a traição se esconde,
porque de mais me conheci distante
de alturas que de perto não existem.

Fui livre, como as águas, que não sobem.
Pensei ser livre, como as pedras caem.
O nada contemplei sem êxtase nem pasmo,
que o dia a dia
em que me via
ele mesmo apenas era e nada mais.

Por isso fui amado em lágrimas e prantos
do muito amor que ao nada se dedica.
Nada que fui, de mim não fica nada.
E quanto não mereço é o que me fica.

Se em meus lugares, portanto, me buscardes
o nada que encontrardes
eu sou e minha vida.
Jorge de Sena
(8/1/1953)
in Fidelidade

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

A Igreja de S. Roque, o terramoto e a Santa Casa da Misericórdia


A 1 de Novembro de 1755, caiu o Carmo e a Trindade, mas a Igreja de S. Roque ficou de pé (e ainda bem - é lindíssima!).
Caiu o frontão e ficaram danificados os tectos de três capelas - as que se vêem à esquerda na imagem, porque a quarta, a que apresenta as armas reais no arco exterior (a capela de S. João Baptista) tinha sido acabada de montar em 1752, no lugar da antiga capela do Espírito Santo, e, talvez por isso, resistiu melhor.

Resistiu a igreja, não resistiram os seus proprietários à sanha que contra si tinha o Marquês de Pombal: em 1759 foi decretada a expulsão dos Jesuítas do território de Portugal.

Vazia a ex-Casa-Professa da Companhia de Jesus, e como os seus edifícios estavam de pé, serviram para albergar, a partir 1768, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que tinha sofrido a perda da sua igreja (a da Misericórdia, no lugar da actual Conceição-a-Velha).

A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa mantém-se na antiga sede da Companhia de Jesus, considerada um dos ex-libris do testemunho jesuíta em Portugal (foi a primeira igreja jesuíta em Portugal, e uma das primeiras em todo o mundo).