"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

sábado, 27 de julho de 2019

Morreu Salazar

«Morreu Salazar.
Mas tarde demais para ele e para nós, os que o combatíamos. Para ele, porque não morreu em glória, como sempre deve ter esperado; para nós, porque o não vimos morrer na nossa raiva, na nossa humilhação, na nossa revolta. Viveu a frio conscientemente, envolto numa redoma de severidade gelada, a meter medo, e acabou por morrer a frio inconscientemente, numa preservada agonia amolecida, a meter dó.
A doença desceu-o de super-homem a homem, e, a duração dela, de homem a farrapo humano. E, quando há pouco chegou a notícia de que se finara de vez, nenhum estremecimento abalou o País. Nem o dos partidários, nem o dos adversários. Para uns, a sombra definitiva do cadáver sobrepôs-se apenas à bruxuleante luz do ídolo; para os outros, o sentimento de piedade cobriu cristamente o ressentimento sectário. A obra de domesticação nacional estava realizada há muito por uma tenacidade dominadora que utilizava apenas as qualidades negativas do português, e não tinha outra sabedoria do tempo senão a lição da rotina sancionada nos códigos do passado. A fome de aventura, a inquietação da liberdade, o alento da esperança, o orgulho, o brio, a alegria e a coragem - tudo fora sistemática e impiedosamente apagado na lembrança da grei. Daí que se não vislumbrem quaisquer sinais de tristeza aterrada, e, menos ainda, de euforia redentora.
A Nação inteira passou, sem qualquer sobressalto, de respirar monotonamente com ditador, a respirar monotonamente sem ele.»
Miguel Torga (Coimbra, 27 de Julho de 1970), Diário XI


terça-feira, 23 de julho de 2019

Parabéns, Maria João Pires

Maria João Pires nasceu a 23 de Julho de 1944.



Época de incêndios

Entrámos na época de incêndios, anunciada como antes só o era a época balnear.

É tempo de entrarem em cena os muitos especialistas em incêndios e os imberbes e presumidos jornalistas que têm nas suas risíveis reportagens, em cima de brasas e com chamas por fundo, a hipótese de mostrar trabalho, procurando um lugar ao sol com o seu show-off, correspondente ao padrão das televisões para que trabalham ou em que são estagiários.
São as opções de um certo jornalismo(?)-espectáculo.

Por mim, nesses momentos, mudo de canal ou desligo e ouço música.

Cartoon de Antero Valério (21 de Junho de 2017)


Nem todos precisam de saber História






Caído de pára-quedas



O Mundo é dos loucos e dos ignorantes.


segunda-feira, 22 de julho de 2019

Salazar na capa da Time

22 de Julho de 1946 - a metáfora numa maçã: bonita por fora, podre por dentro.


«Portugal Salazar's: Dean of Dictators – How Bad is the Best?»
«(...) com duas décadas de ditadura, Portugal era uma terra melancólica de pessoas empobrecidas, confusas e assustadas.», escreveu no texto o correspondente da revista em Portugal.

Balanço:
- Salazar zangou-se.
- Este número da Time foi retirado do mercado nacional. Os exemplares por vender foram apreendidos e a PIDE recebeu ordens para confiscar as revistas que viessem a ser encontradas em domicílios privados.
- A venda da revista foi proibida em Portugal por um período de seis anos.
- Um despacho PIDE, ratificado pelo Secretariado de Propaganda Nacional, deu ordem ao correspondente da Time para abandonar o país, o que se concretizou.

A ditadura aguentou-se mais 28 anos.


Dois erros com uma cajadada só...



Um pode ser erro de digitação e faz rir.
O outro faz chorar, mas já mais gente o fez - Horta em vez de Orta (que assim era o Garcia da).

Lembrei-me da notícia de outro acidente em que se informava que um dos condutores tinha sofrido traumatismo ucraniano. 


Edward Hopper

Edward Hopper nasceu a 22 de Julho de 1882.

Até ao minuto 6:25


domingo, 21 de julho de 2019

sábado, 20 de julho de 2019

Across the moon

Quando um ET deixa a sua sombra na Lua...



Viagem à Lua (1902)

Nos primórdios do cinema de ficção científica, o filme do ilusionista Georges Méliès.




Fly me to the moon




Outras viagens à Lua

Nos livros, na música, no cinema...

1650 – Cyrano de Bergerac escreveu a História Cómica dos Estados e Impérios da Lua, romance de ficção científica que conta a história de uma viagem à Lua.


1801 - Beethoven compõe a Sonata para piano n.º 14, posteriormente (5 anos após a morte do compositor) chamada Sonata ao Luar.



1865 – Júlio Verne publicou Da terra à Lua, uma antecipação da realidade. No romance, 3 astronautas norte-americanos partem do Estado da Flórida, a apenas 30 Km de Cabo Canaveral.
A 100 anos de distância, só falhou por 30 Km!



1901 – H. G. Wells publicou Os Primeiros Homens na Lua, mais tarde passado a filme por Nathan Juran, em plena época da corrida soviética-americana (1964).



1902 – A Viagem à Lua, filme de George Méliès, considerado o primeiro filme de ficção científica.


1953-1954 – Foram editadas duas aventuras lunares de Tintim.


 1968 – 2001, Odisseia no Espaço, filme “mítico” de Stanley Kubrick (que ultrapassa, em muito, a "simples" corrida à Lua).


1973 – Edição de The dark side of the moon, dos Pink Floyd, outra obra "mítica".


1995 – Estória do Gato e da Lua, filme de animação do português Pedro Serrazina.


Pedro Serrazina - Estória do Gato e da Lua (1995) from Pedro Serrazina Animation on Vimeo.


Há 50 anos, o Homem no Mar da Tranquilidade






sexta-feira, 19 de julho de 2019

A Ronda da Noite em Portugal

«Em 19 de Julho de 2006, Agustina colocava um ponto final no que viria a ser o seu último manuscrito, A Ronda da Noite. No enredo do livro, já perto do final, o protagonista, Martinho Nabasco, sente receio de vir a sofrer um derrame, dado um conjunto de sintomas suspeitos que começa a experimentar.
(...)
Mónica Baldaque é peremptória:"Sinto que foi a despedida, consciente. Nunca a vi trabalhar com um esforço interior tão grande como na escrita desse livro. Havia uma entrega, uma ausência..."»
Isabel Rio Novo, O poço e a estrada - biografia de Agustina Bessa-Luís


«Maria Rosa ficou impassível, tanto mais que A Ronda era para ela um património que nunca entrara em partilhas e a que não lhe interessava pôr um preço. Sempre esteve convencida de que era uma cópia do atelier do pintor e que, por isso, tinha um valor incalculável. Alguma coisa lhe dizia que A Ronda não estivera guardada mas escondida propositadamente desde que a duquesa de Mântua, regente de Filipe IV, saíra de Portugal com um espólio que carregava mais de cem burros. Ou porque A Ronda fosse demasiado grande para ser transportada, sobretudo transportada sem dar na vista, ou porque o saque não a incluía por estar num palácio das cortes de aldeia, o facto é que não saiu do país.»
Agustina Bessa-Luís, A Ronda da Noite



sábado, 13 de julho de 2019

Sábado



Se o céu estivesse azul,
mas só vejo nevoeiro...

Pinturas de Axel Krause, um rapaz da minha idade.


sexta-feira, 12 de julho de 2019

Trocaram a ponte!

Nem as pontes distinguem!...



Guernica na Exposição Internacional de Paris de 1937

A 12 de Julho de 1937, na Exposição Internacional de Paris, a pintura Guernica foi apresentada ao público pela primeira vez.

Delegação espanhola na Exposição, com Guernica por fundo

Em Espanha decorria a Guerra Civil. Foi ainda o Governo da II República que se responsabilizou pelo Pavilhão de Espanha na Exposição. E era uma delegação cultural de peso: filmes de Buñuel, versos de García Lorca, Guernica, de Picasso, obra inspirada nos bombardeamentos efectuados pela aviação alemã sobre a cidade basca de Guernica.

Nessa Exposição, Portugal afirmava propagandisticamente o regime do Estado Novo, os seus líderes - figuravam no Pavilhão de Portugal as estátuas do Marechal Carmona e de Salazar - e as suas realizações.
É significativa a forma de saudação presente em fotos que preencheram algumas das salas e o próprio nome destas (Sala do Estado, Sala das Realizações...).
Tendo António Ferro como comissário da representação portuguesa, parece o ensaio da Exposição do Mundo Português.

Pavilhão de Portugal na Exposição Internacional de Paris

Pavilhão de Portugal - Sala das Realizações

Fotografia para a Sala do Estado do Pavilhão de Portugal


quinta-feira, 11 de julho de 2019

Bolero



Do 3.º LP dos King Crimson, Lizard (1970)

Disco entre o clássico e o free jazz, em que a suite que ocupa todo o lado B (estávamos no tempo do vinil) dá o nome ao disco.
Uma das partes dessa suite, que conta a história de um príncipe, é este bolero, de grande beleza.
Os King Crimson, com uma nova formação, mais voltada para os instrumentos de sopro e que não se repetiria, contaram com a participação de Jon Anderson (dos Yes) e de um músico da BBC Symphony Orchestra (Robin Miller) a tocar oboé e corne inglês. 
Lizard é um disco diferente e brilhante.

E a capa é lindíssima!


Igreja de S. Cristóvão

Concluíram-se as obras de reabilitação do telhado e das fachadas da Igreja de S. Cristóvão, na Mouraria (Lisboa). Foi feita, igualmente, a recuperação da tela do altar-mor e a tela de Santo António, atribuída a Bento Coelho da Silveira.

A última fase incluirá o restauro e iluminação dos painéis existentes na igreja (36 telas atribuídas à escola de Bento Coelho da Silveira).




quarta-feira, 10 de julho de 2019

Uma vitória anti-Bonifácio


Há 3 anos, a selecção portuguesa de futebol, integrando pessoas que não fazem parte de uma entidade civilizacional e cultural milenária que dá pelo nome de Cristandade, venceu o Campeonato da Europa de Futebol, derrotando na final os descendentes directos dos Direitos Universais do Homem decretados pela Grande Revolução Francesa de 1789.

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P.S. - Mas também tenho todas as reservas à criação de quotas para minorias étnico-raciais no tocante ao acesso ao ensino superior (o assunto que foi ponto de partido para o tão badalado texto de uma historiadora, no jornal Público).


domingo, 7 de julho de 2019

Mais Património Mundial em Portugal

O complexo constituído por Palácio, Basílica, Convento, Jardim do Cerco e Tapada de Mafra foi classificado como Património Cultural Mundial da UNESCO.
A mesma classificação para o conjunto arquitectónico do Bom Jesus do Monte de Braga.

Sobre o conjunto de Mafra, o site da Direcção-Geral do Património Cultural informa...
«Conjunto arquitectónico barroco, de matriz italiana, constituído por palácio real, basílica e convento franciscano, construído ininterruptamente entre 1717 e 1744 (...)
A construção do monumento de Mafra decorreu ao longo de vinte e sete anos, e muito embora tenha sido alvo de vários projectos parciais elaborados por uma vasta equipa no decorrer da obra, a ininterrupção dos trabalhos e a supervisão régia terão contribuído para uma de invulgar coerência e harmonia construtiva que esta enorme mole arquitectónica apresenta.»

Na SIC, o entusiasmo da notícia fez reduzir o processo de construção a 3 anos!


Que a classificação ajude a melhorar os serviços de apoio aos visitantes e não aconteça o mesmo que no Convento de Cristo, em Tomar, onde esses serviços são risíveis (até no número ridiculamente reduzido de audioguias disponíveis).  

«Ao Bom Jesus e ao Sameiro vai-se por devoção e gosto. O viajante foi lá por gosto. É larga a paisagem, fresco o ar neste Novembro de muito Sol, e se artisticamente as maravilhas não são pródigas, há em tudo isto um sabor popular, um colorido de romaria que se pegou às estátuas, ao escadório, às capelas, e que justifica abundantemente a visita. O Bom Jesus ganha em beleza plástica à Senhora do Sameiro, nem há sequer comparação. Quanto a pontos de maior ou menor devoção, não são contas do rosário do viajante. Siga a viagem.»
José Saramago, Viagem a Portugal


O Museu Nacional Machado de Castro, em Coimbra, foi integrado na área classificada pela UNESCO como Património Mundial da Universidade de Coimbra, Alta e Sofia.


Este museu não tinha sido incluído na área que veio a ser classificada em 2013 por se encontrar em trabalhos de restauro e remodelação na ocasião em que foi apresentada a candidatura.
O Museu Machado de Castro vale bem uma visita!


sábado, 6 de julho de 2019

4th July - A imaginação não chegaria a tanto...



Revisão da História:



João Gilberto

«João Gilberto é o maior artista brasileiro. Ele não procura exibir capacidade neuronal para a música. Ele vai sempre mais para dentro do essencial da música (da canção escolhida, da música composta, da Música como instância humana) e mostra com simplicidade a complexa rede de sugestões de que uma peça poético-musical é capaz, abrangendo História, religião, política, plasticidade, matemática, psicologia, moral, afectos. Com ele não é gincana em que competem velocidade de execução, precisão de afinação do instrumento e enfeite harmónico (que tantas vezes se ilude de enriquecer o que já é rico). Não. João vai ao fundo do que é a peça e analisa seu contexto. Mudou a história da música popular no Brasil, seu passado e seu futuro. Os jornais querem saber de sua vida. Deveriam tentar saber melhor da sua música. Sua música é vida.»
Caetano Veloso (10 de Junho de 2018, 
dia em que João Gilberto completou 87 anos)



João Gilberto faleceu hoje.


quinta-feira, 4 de julho de 2019

Analfabetismo económico


«Tenho a certeza de que o compromisso político que deveríamos fazer é o de curar as divisões sociais que se abriram nas sociedades. Isso exigirá que os bem sucedidos paguem mais. Mas não se trata de pôr os menos bem sucedidos a viver de subsídios, mas sim torná-los mais produtivos.»


Contra maiorias absolutas!

De qualquer espécie!

Dialogar custa muito?


Parabéns, Maria do Céu Guerra!


Maria do Céu Guerra ganhou o prémio Actor of Europe, do Festival Internacional de Teatro.


terça-feira, 2 de julho de 2019

O perigo da usura dos valores democráticos

«JNH - Estamos hoje a assistir à falência ou, pelo menos, à fragilização da democracia representativa?
AMH - Acho que sim, mas o perigo principal, a meu ver, já não são essas alternativas radicais à esquerda, que tiveram a sua época, mas não estão no horizonte. O perigo são as alternativas de usura dos valores democráticos em nome de valores como a eficácia, a competitividade, a análise de custo-benefício ("a democracia é muito cara!) ou a ineficiência do regime democrático, que é muito demorado, porque têm de se ouvir os partidos, porque tem de se votar numa assembleia, porque há eleições de quatro em quatro anos... Há muita gente a dizer que a democracia não é eficiente, que não é competitiva. Os perigos estão realmente por aí.»
(entrevista de António Manuel Hespanha ao Jornal de Notícias História, Outubro de 2018)


segunda-feira, 1 de julho de 2019

Salgueiro Maia

O capitão Salgueiro Maia faria hoje 75 anos.


«Aquele que foi "Fiel à palavra dada à ideia tida"»
(Sophia de Mello Breyner Andresen)


António Manuel Hespanha

Faleceu António Manuel Hespanha, historiador e jurista, considerado um dos nomes mais importantes no estudo da História Institucional e Política e História do Direito dos países ibéricos.

Foi professor catedrático da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa e investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, sendo autor de uma vasta obra, sobretudo no âmbito da História do Direito e das Instituições.