"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

domingo, 30 de setembro de 2018

José-Augusto França (1922 - X)

Retiro o 2018 do título (e aguardo que faça o século de vida!)
Tinha ouvido a notícia na Antena 1...


Hoje, último dia de Setembro, partiu José-Augusto França, 95 anos vividos.

«"A beleza da vida está em viver de acordo com a sua natureza e o seu ofício" Fray Luis de León. 
Há muito o cito!»
José Augusto França

Personalidade incontornável do meio cultural português do século XX e já do XXI, com forte ligação às artes (pintura, literatura, arquitectura, cinema...), deixa uma extensa obra publicada e, acredito, alguns estudos por publicar. Aos 92 anos ainda tinha planos para escrever...

Como ele próprio se definiu, numa entrevista em Abril de 2015: «Escritor (que é aquele que escreve, também romances); historiador (que é aquele que escreve história, não só da arte); académico por docência profissional, desde 1974.»

No quadro Os críticos, de Nikias Skapinakis, pintado para A Brasileira,
José-Augusto França é o primeiro da direita.

Na semana passada, a Imprensa Nacional lançou a colecção Biblioteca José-Augusto França, com títulos escolhidos pelo próprio.

Era É natural de Tomar, a cuja Câmara doou a sua colecção de arte, criando o Núcleo de Arte Contemporânea.
«A certa altura da vida (e da idade) ou é leilão ou é doação.»

Aí se pode ver um conjunto de obras de um número vasto de artistas por quem José-Augusto França nutria nutre apreço e, em muitos casos, com quem manteve relações de amizade.

José-Augusto França por José de Guimarães

sábado, 29 de setembro de 2018

Michelangelo Merisi

Michelangelo Merisi, (mais) conhecido como Caravaggio, nasceu a 29 de Setembro de 1571.



Não me ocorreria a música J. S. Bach para acompanhar a pintura de Caravaggio, tão distantes são as suas personalidades.


Morreu fundador dos Jefferson Airplane

Marty Balin, fundador dos Jefferson Airplane, grupo fundado na década de 1960, morreu na passada semana, com 76 anos.


Os Jefferson Airplane no Festival de Woodstock (1969)

Marty Balin era o vocalista (também tocava guitarra) e "homem da pandeireta".
Com Grace Slick em palco, era mais fácil focarmo-nos na vocalista.


Dia de S. Miguel Arcanjo


Nas Jornadas do Património Europeu, de visita ao Museu de S. Miguel de Odrinhas, em dia do Arcanjo.
O Arcanjo S. Miguel a matar o demónio - escultura do séc. XV.
A (desaparecida) mão esquerda segurava a balança
com que pesava as almas dos fiéis. Conforme o peso dos pecados,
assim a alma seguiria para o Céu ou para o Inferno.
O Purgatório era a via intermédia...
Museu de S. Miguel de Odrinhas

Necrópole medieval
Mosaico romano

«O renovado Museu de Odrinhas é herdeiro de uma longa tradição de salvaguarda dos vestígios antigos do local, verificando-se as primeiras iniciativas neste local em pleno Renascimento, ao abrigo do Humanismo e fascínio pelo passado romano do Ocidente europeu. Em 1955, a Câmara Municipal de Sintra lançou as bases modernas do museu, por intermédio de Joaquim Fontes, primeiro director da instituição, depois de uma tentativa frustrada de alguns eruditos em transportar o espólio para um grande museu nacional. O actual plano museológico iniciou-se em meados da década de 90 do século XX e teve como principal impulsionador José Cardim Ribeiro.»
(Direcção-Geral do Património Cultural)






Museu Arqueológico de S. Miguel de Odrinhas
Exposição permanente


P.S. - Com tantas referências a S. Miguel, agora reparo que o programa que inicialmente tracei para hoje era... ter visitado o Paço de S. Miguel, em Évora.


quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Helena Almeida (1934 - 2018)

«Espero que tenha contribuído de uma maneira original para a arte do meu tempo.»


Fiquei surpreendido pela notícia da morte de Helena Almeida. 



"A ideia de Flaubert de que a fotografia tornaria a pintura completamente obsoleta e que, por sua vez, o daguerreótipo ocuparia o lugar da pintura, é completamente desprezada na obra de Helena Almeida. A artista combina as técnicas de criação (manualmente cria o seu azul, mistura as cores; faz desenhos e colagens) com as técnicas de reprodução (a fotografia e o vídeo) contaminando a pureza modernista da separação das disciplinas.

Existe na sua obra um movimento permanente de ocultamento e desocultamento, um vaivém entre dar a ver e esconder; que é igualmente o movimento que vai da experiência individual ao carácter universal que toda a obra de arte deve perseguir.

Do minimalismo ao conceptualismo, da performance à fotografia, a obra de Helena Almeida lida com todos os grandes movimentos artísticos que marcaram a segunda metade do século XX. E fá-lo de um modo que nunca é epigonal, mas sempre profundamente inventivo e pessoal, uma vez que consegue criar um vocabulário e inventar um mundo, sem se desprender dos seus referentes."
(Fundação Calouste Gulbenkian)

«Um gesto pode ser muito enganador: uma mão mais para o lado é já outra coisa.»



«Eu quero a fotografia tosca, expressiva, como registo de uma vivência, de uma acção.»



«Ando em círculo; os ciclos voltam. O trabalho nunca está completo, tem de se voltar a fazer. O que me interessa é sempre o mesmo: o espaço, a casa, o tecto, o canto, o chão; depois, o espaço físico da tela, mas o que eu quero é tratar de emoções. São maneiras de contar uma história.»

Penso que Helena Almeida contribuiu de uma maneira original para a arte do seu tempo.
Contribuiu para a nossa felicidade.


















domingo, 23 de setembro de 2018

Equinox




Oblíquo Setembro

Oblíquo Setembro de equinócio tarde
que se alonga e depara e vê e mira
Tarde que habita o estar do seu parado
Sol de Sul pelo sal detido

Assim o estar aqui e o haver sido
Quasi a mesma que sou no tão perdido
Morar aberto de um Setembro antigo
Com o mar desse morar em meu ouvido

Pura paixão que não conhece olvido
Sophia de Mello Breyner Andresen


Segundo o Observatório Astronómico de Lisboa, 2h54m é a hora do Equinócio de Outono de 2018.


sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Fui aos Açores...



Cozido das Furnas 
(e a respeitável barriga do Sr. Alfredo Alves)


Mentira!
Fui só ao Espaço Açores.
E matei (algumas) saudades.


Inconsciente mas seduzida



Pode alguém inconsciente estar seduzido(a)?

Neste e em outros casos semelhantes, gostava de saber o que diriam os juízes se as vítimas fossem as suas filhas.
Manteriam a opinião de uma "mediana ilicitude" e de "danos físicos sem especial gravidade"?


terça-feira, 18 de setembro de 2018

Nem prós, nem contras, antes pelo contrário

Discutir a educação, em geral, do básico ao secundário, sendo abordadas questões tão diversificadas e com participantes tão variados... não dá para ir muito longe.

E as realidades escolares variam de local para local, muito em função dos níveis social e cultural dos pais. E os meios mais pequenos têm diferenças significativas em relação aos grandes meios urbanos. Lisboa ou o Porto não são o país e, mesmo dentro destas cidades, há diferenças assinaláveis conforme as zonas. Os subúrbios são outra realidade.
Os jornalistas das televisões têm muita tendência a considerar o meio em que vivem como o modelo universal, também aplicável às escolas portuguesas.

Os convidados são pessoas que, muitas vezes, têm experiências de ensino a nível superior (o que não tem nada a ver com o Básico) ou são pessoas... "bem falantes", dos tais níveis superiores (social e culturalmente falando).
Tive de dar uma gargalhada ao ouvir uma encarregada de educação falar do filho que não gostava de ir à escola, porque em casa aprendia com muito mais gosto, de forma muito mais atractiva e desafiante. Os seus filhos jogam internacionalmente e um deles até quer ir ao Butão ou para o Butão.

Gostaria de ouvir encarregados de educação de alunos da minha escola, daqueles que chegam a casa às tantas, cujos filhos estiveram entregues a si próprios e andaram sabem lá os pais por onde, e não têm as aptidões para ensinarem os filhos - é esse papel que eles esperam que a escola cumpra, na esperança de que os filhos possam ter uma vida melhor do que a deles.
E sabem lá eles que existe um Butão para a banda dos Himalaias - nem sabem que os Himalaias existem! O que é isso?
Ir ao Centro Comercial no fim de semana já é uma festa. E Lisboa ali tão perto!...
Ainda bem que o filho da senhora quer ir ao Butão ou para o Butão.

Cá - faltou dizer, como o D. Carlos, "nesta piolheira" - "os professores não se deixam conhecer" e "não criam relações com os alunos".
Passam os alunos mais tempo na escola com os professores do que em casa com os pais! Há alunos que conhecemos melhor do que os próprios pais. Está a falar de quê? 
Há uns anos, perguntava-me um encarregado de educação: "A minha filha está em que ano?". Estava no 8.º. 
(não estou a dizer que são todos assim!)

Eu também ia ao Butão, se aquilo que dizem que eu ganho fosse verdade!...
Eu até sei localizar os Himalaias no mapa!


E a moderadora também podia ir para lá... de castigo, pela falta do trabalho de casa.
  

domingo, 16 de setembro de 2018

Us and Them



"(...)
também eu queria escrever um poema maior que o mundo,
escrevê-lo com o mais verbal e primeiro de mim mesmo
(...)"
Herberto Hélder


O que me espera amanhã...




Mau exemplo de jornalismo

Nada altera a opinião do director do Público, Manuel Carvalho.
Por isso escreveu o editorial do passado dia 12.

No dia anterior tinham sido divulgadas as conclusões do relatório anual Education at a Glance, da OCDE.
Verificou-se que dados desse relatório, fornecidos pelo Ministério da Educação (quem mais o poderia ter feito?), são falsos.
Verificou-se que a primeira leitura feita e editada pela comunicação social não só publicitava esses dados de forma acrítica, como fazia uma leitura apressada que distorcia os dados já por si falsos, pervertendo as análises - a comunicação online a isso obriga!

Manuel Carvalho, director do Público, escreveu um editorial sobre o assunto, no dia seguinte: os factos são diferentes, metemos água nas análises (isto não é dito explicitamente)...
«Pode haver de facto alguns erros na informação de base que afectam de forma irremediável as conclusões do estudo, como sindicatos e professores trataram de revelar.»... mas a conclusão é a mesma!

A asneirada jornalística (comum a muitos meios da comunicação social, que nem a reconheceram!) não interessa ao director de um jornal dito de referência.
O que interessa? Fazer vencer a ideia da falta de justeza da luta dos professores pela contagem integral do seu tempo de serviço.
«Ora, os cidadãos terão dificuldade em entender a justeza dessa luta, se souberem que os docentes são relativamente bem pagos e se suspeitarem que as suas exigências são incomportáveis para as finanças públicas.»

A questão concreta da contagem do tempo de serviço é polémica, pelas verbas que envolverá a mais longo prazo, apesar de não acreditar que sejam tantos milhões como os 600 que foram declarados pelo Governo. E nunca se negociou seriamente a medida e os prazos!

Para os professores dos primeiros escalões - que até o relatório e os jornalistas (mesmo os apressados) reconhecem ser os mais mal pagos -, é extremamente injusta a não contagem do tempo: são criadas situações que, não sendo corrigidas ao longo da carreira, limitarão inexoravelmente a vida desses professores - nos vencimentos, na impossibilidade de atingirem os escalões mais altos e nos valores das reformas.
Assim se limitarão, no futuro, os vencimentos dos professores. Existirão vencimentos fictícios, pela não existência de professores nos escalões mais altos.

A opinião, sobre este assunto ou qualquer outro, deve ser livre, mas uma opinião livre deve basear-se em premissas verdadeiras.
Não há verdadeira liberdade de opinião se não houver uma informação livre e verdadeira.
Nos comentários dos media online e nas redes sociais são inúmeros (já o eram antes) aqueles que contestam a luta dos professores e acrescentam comentários de pouco apreço sobre o seu trabalho e os seus (supostos) "privilégios", embora revelem grande desconhecimento - criticam-se, frequentemente, realidades inexistentes - e muitos espíritos ressabiados.

Quando aqueles que deviam informar não se preocupam com a informação que fazem passar... (ao serviço de quem ou de que interesses?) como se costuma dizer: estamos falados!
Como afirmam os nossos (supostos*) críticos "os professores estão velhos, ganham muito dinheiro, trabalham menos que os outros e inventam doenças."
Como afirmava Galileu, "quanto menos alguém entende, mais quer discordar".


* Supostos, na medida em que a maioria dos críticos ignora a realidade sobre a qual se pronuncia. 

P.S. - Ainda serei capaz de assistir à situação da falta de professores... 


terça-feira, 11 de setembro de 2018

Pelos intervalos dos pingos de chuva...



Uma magreza gorda

Ler as gordas e ver a magreza do título.

Correio da Manhã de hoje


Sou rico e não sabia!... ou Como se abusa dos dados

Ao ver a notícia na televisão, a minha mulher quis saber onde é que eu ando a gastar o dinheiro e insiste em contratar um detective!


Da autoria de Paulo Serra - aqui
O relatório anual Education at a Glance, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), afirma que, em comparação com os restantes trabalhadores nacionais que têm cursos superiores, os professores auferem um salário 35% mais elevado. 
Não sei como é que as contas são feitas.
Tratando-se de Docentes da Educação Pré-Escolar e dos Ensinos Básico e Secundário, falar em professores, indistintamente, é falar de professores que tanto podem ter um vencimento bruto de pouco mais de mil euros (1.145€), contratado (licenciado não profissionalizado) com horário completo, como um vencimento bruto de 3.364€, professor no topo da carreira.

São dois níveis muito distintos. O relatório refere esta diferença: "No 2.º e no 3.º ciclo, no início da carreira, os professores portugueses recebem menos 240 euros anuais do que a média dos países da organização."

E dos docentes que estão no início da carreira, a grande maioria não chegará ao topo - poderá, até, ficar longe! 

Porque...
... ao contrário do que geralmente se diz, para os professores progredirem na carreira não basta o tempo de serviço. Para além da avaliação no final de cada escalão, há duas transições de escalão que exigem uma avaliação de Excelente ou de Muito Bom e a possibilidade de atribuição dessas classificações está dependente de quotas muito apertadas.

... a dificuldade de entrada na carreira, a juntar à não contagem de anos de tempo de serviço (os tais 9 anos, 4 meses e 2 dias que estiveram congelados e que o Governo não quer - diz que não pode - contar), não permite que muitos professores, mesmo que com as tais boas classificações na sua avaliação, possam chegar, em "tempo útil" de serviço, ao último escalão.

Outra questão são alguns números do vencimento.
Mesmo que estejam no topo (10.º escalão) e mesmo que recebessem por inteiro o vencimento ilíquido (o que não acontece, porque a chegada ao 10.º escalão só se pôde fazer agora, após o descongelamento das carreiras, e o ordenado ainda não foi reposto na totalidade - só em dezembro de 2019), o total anual nunca chegaria aos 56 mil euros anuais que são referidos no relatório:
"quando os docentes chegam ao topo da carreira: 56.401 euros por ano [dos professores portugueses] contra os 51 mil de média da OCDE."
3.364€ brutos x 14 meses (já contando os subsídios) = 47.096€
Sempre é uma diferença de 9.000€.
São 9.000€ por uma mentira, repetida na comunicação social (como outros valores), onde ninguém confirma a informação. Estão comprados ou são incompetentes?

Pode ser verdade que, em média, os professores ganhem mais do que os outros licenciados - haverá muitos licenciados que são mal pagos e, havendo um elevado número de professores com mais idade (no conjunto de escalões mais elevados), isso criará a discrepância.
Mais do que professores com ordenados altos, haverá, então, licenciados com salários muito baixos!
Mas... caramba! Gestores, juízes, arquitectos, engenheiros, advogados, deputados, professores do ensino superior, médicos, comentadores de televisão, etc. 
35%?!?!

Na comparação com os professores dos outros países, o relatório reconhece que "os professores portugueses ganham menos do que a média dos seus colegas dos outros países que pertencem à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE)", situação que se acentua quando se tem em conta o custo médio de vida.

Quanto ao número de horas que os professores passam na escola, não consigo compreender como se chega àqueles números relativos aos professores portugueses (e dos outros não sei).

Mas o relativo baixo número de horas da componente lectiva (vão-se reduzindo a partir dos 50 anos de idade) é mesmo relativo e pela relativa velhice do quadro docente. A diferença é mínima em relação aos dos outros países (42% do horário de trabalho para 44%). Eu, aos 60, já saio muitas vezes de língua de fora! E gostaria muito que as pessoas que dizem que os professores "só dão umas aulinhas" experimentassem o mesmo exercício.
Em compensação, horas de reuniões, elaboração de planos, preenchimento de papéis, redacção de relatórios, etc. não nos faltam! Devemos ser os maiores!...

Quando, no fim disto tudo, penso que a Cristina Ferreira pode ganhar um milhão por ano...
E os outros que dão chutos na bola...


quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Claudio Scimone

Faleceu o maestro Claudio Scimone, aos 83 anos.

Foi dos primeiros maestros cujo nome eu fixei.
Conheci-o de ouvido, a dirigir Vivaldi.
Tinha uma particularidade que me fez estar mais atento às diferentes orquestrações das obras: o ritmo rápido com que as músicas que dirigia eram executadas.
Com o colega de Ed. Musical que me deu a conhecer os discos, demos-lhe a alcunha de "o apressadinho".

Assisti a vários concertos em que esteve à frente da Orquestra Gulbenkian, de que foi maestro titular (1979-1986) e de que era maestro honorário.
Fundou o agrupamento I Solisti Veneti.




domingo, 2 de setembro de 2018

sábado, 1 de setembro de 2018

O tempo...

Independentemente da mudança (ou não) da hora...

O tempo acaba o ano, o mês e a hora
A força, a arte, a manha, a fortaleza;
O tempo acaba a fama e a riqueza.
O tempo o mesmo tempo de si chora;

O tempo busca e acaba o onde mora
Qualquer ingratidão, qualquer dureza;
Mas não pode acabar minha tristeza,
Enquanto não quiserdes vós, Senhora.

O tempo o claro dia torna escuro
E o mais ledo prazer em choro triste;
O tempo, a tempestade em grão bonança.

Mas de abrandar o tempo estou seguro
O peito de diamante, onde consiste
A pena e o prazer desta esperança.
Luís de Camões


A mudança da hora



Organizem um calendário de maneira a que da meia-noite de Domingo se salte para a meia-noite de 6.ª feira (ou "uma coisa em forma de assim").
Até dispensava as férias.



O que quer que seja que se decida terá prós e terá contras, defensores e detractores...
Lembremo-nos que, em 1992, quando Cavaco Silva era 1.º Ministro, Portugal adoptou o horário da Europa central (fuso de Berlim), para "facilitar as comunicações e transportes internacionais".
Até 1996, altura em que o governo de Guterres nos fez regressar à hora do Meridiano de Greenwich, o Sol acordava mais tarde e punha-se lá para as tantas.
E não foi a primeira vez que se verificou esse "alinhamento".

As raízes da mudança da hora estão associadas ao racionamento de energia no período da I Guerra Mundial.
A hora de verão já tinha sido proposta por Benjamin Franklin, para poupar energia (na altura, século XVIII, toneladas de cera de vela), mas só no contexto daquele conflito se concretizaria a mudança da hora.
A poupança energética continua a ser um dos argumentos dos defensores da mudança.

Ilustração de João Vaz de Carvalho