"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

domingo, 25 de março de 2012

Tabucchi - Lisboa e Portugal

Antonio Tabucchi (AT) - Gosto muito de perder tempo. Acho que é um grande privilégio. P - Como é que perde tempo em Lisboa?
AT - Olhando para as coisas, para as pessoas na rua, para a paisagem. A pessoa fica a pensar, a aprender coisas, observa. Pelo gosto de ver, de apanhar a vida alheia, ou de a imaginar. Gosto muito de passar pelo jardim do Príncipe Real, de tomar um cafezinho, de ouvir as conversas dos outros.



P - Passaram 40 anos sobre o seu encontro com Portugal. Muitos portugueses fazem um balanço amargo destes últimos anos — os ideais, a solidariedade. A sua amargura vai só para Itália. Porque é que poupa este seu segundo país, ou este seu outro país, Portugal?
AT - A minha amargura vai também para Portugal, por muita coisa, em geral. Talvez que respondendo possa fechar esta nossa conversa com uma frase de Fernando Pessoa, quando ele diz: “Falta por aqui uma grande razão.” Acho, efectivamente, que hoje em dia falta por aqui — e por aí — uma grande razão. Teremos de nos contentar com as pequenas razões. É a nossa época. Esta não é a época dos grandes ideais. Não existem grandes chamas de entusiasmo. E por isso, o importante é manter aceso o fósforo. Contentemo-nos em que o fósforo não se apague.


Entrevista a Antonio Tabucchi, Público - suplemento "Mil Folhas", 22 de Abril de 2006


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