"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

domingo, 11 de março de 2012

As ilhas

«De que falamos nós, quando falamos de ilhas? Creio que de formas. Das belas estranhas formas que elas nos sugerem ao olhar. Sempre que as vemos no mapa, não são mais do que corpos fixos, sem nenhum fogo na alma; corpos em deriva nas voltas, volutas e luxúrias do mar. Mas quando olhamos de uma ilha para a outra, essa nova perspectiva representa também uma mudança na alma e na forma das ilhas. O que dantes nelas era difuso e longínquo como que se ilumina agora sobre as linhas da costa. As cores e as coisas emergem ao lado das sombras. Quando sobre elas se descerra a imensa e húmida cortina do mar, outros relevos saem do encoberto para se acenderem no dia. Então, passam a ser uma visão revelada ou diferentemente configurada nos nossos sentidos. As ilhas ganham um rosto e uma expressão. Os nossos olhos enchem-se de brilho. Tornam-se diáfanas e coloridas de luz as paisagens. E nós passamos do segredo ao conhecimento das ilhas.»

João de Melo, Açores – o segredo das ilhas

Açores - Flores, sobre a esquerda, e Corvo, ao fundo

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