"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

domingo, 16 de fevereiro de 2014

À sombra de Camões

Poeta amigo me fez encontrar um poema que alguém atribui a Diogo Bernardes.
Mas também há quem o atribua a Camões.
E descobri a disputa da autoria de mais sonetos entre estes dois poetas. Dizem as más línguas que Diogo Bernardes, que viveu até mais tarde que Camões, terá editado como seus versos que eram do outro.
Sobre este soneto, disse Manuel de Faria e Sousa, erudito da primeira metade do século XVII, "não ter o mesmo Bernardes cabedal, não só para o fazer, mas nem ainda para o entender".
Será, então, de Luís Vaz...

Que doudo pensamento he o que sigo?
Apoz que vão cuidado vou correndo?
Sem ventura de mi! Que naõ me entendo;
Nem o que callo sei, nem o que digo.

Pelejo com quem trata paz comigo;
De quem guerra me faz não me defendo.
De falsas esperanças que pertendo?
Quem do meu próprio mal me faz amigo?

Porque, se nasci livre, porque me captivo?
E pois o quero ser, porque o não quero?
Como me engano mais com desenganos?

Se já desesperei, que mais espero?
E se inda espero mais, porque não vivo?
E se vivo, que accuso mortaes danos?

Será pelo indevida apropriação que Camões está com este ar...


Hoje à tarde, bebi um café à sombra deste Camões, ainda sem saber o porquê de tal fastio...


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