"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

BPN - "Anatomia de um golpe" (de Nicolau Santos)


«Revejo o excelente documentário que Pedro Coelho realizou para a SIC sobre o BPN, com o título "Anatomia de um golpe".

No final de um dos episódios, depois de ouvidos três especialistas em off-shores, que garantem que mesmo quando o dinheiro se escapa por estes paraísos financeiros fica sempre um rasto, é colocada a pergunta decisiva: qual a razão misteriosa pela qual as autoridades não vão atrás deste dinheiro, preferindo antes esperar pelo final de um morosíssimo processo judicial aparentemente infindável?

Mais uma vez se constata que Oliveira e Costa convidava amigos a quem vendia acções a um preço X e se comprometia a recomprá-las passado dois ou três anos pelo dobro ou pelo triplo do valor. E mais uma vez se constata que de políticos a empresários, a esmagadora maioria dos convidados para a festa era tudo gente ligada ao PSD. Dias Loureiro, Joaquim Coimbra, Alberto figueiredo, Francisco Sanches estiveram mesmo ligados à administração. Cavaco Silva e Rui Machete foram duas personalidades que tiveram lucros significativos com o investimento que foram convidados a fazer.

Sabe-se já que houve muita gente que recebeu financiamentos que nunca pagou e quem tenha feito excelentes mais-valias com a compra e venda de acções: 150% ou mais do que tinha investido. É bom que essas pessoas percebam que os financiamentos que não liquidaram e as mais-valias que embolsaram estão agora a ser pagas pelos contribuintes. Mais de quatro mil milhões de euros. Um escândalo sem precedentes. Como lembrava recentemente Silva Lopes, o BPN está a custar muito mais ao país que Alves dos reis e Jorge de Brito juntos.

É por isso inadmissível este laissez faire por parte das autoridades judiciais, que cinco anos depois de iniciado o processo, mantém apenas Oliveira e Costa em prisão domiciliária e não conseguem identificar os que beneficiaram de empréstimos fraudulentos e conduziram à implosão do banco.
Um banco que tinha na administração uma pessoa com o apelido de Fantasia e outra com o apelido de Caprichoso só podia acabar mal. É lamentável que o Banco de Portugal não tenha conseguido evitar a falcatrua. Mas é inadmissível que as autoridades judiciais não tenham conseguido até agora meter mais uns quantos senhores na prisão e recuperar grande parte dos 4000 milhões que os contribuintes estão a pagar para evitar a falência de um banco que não tinha qualquer salvação e que é sobretudo um caso de polícia.»

Nicolau Santos
5 de Agosto de 2013



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