Portugal não é a Grécia. Esta frase foi repetida, vezes sem conta, desde que rebentou a crise do euro. A prova desta afirmação vem, geralmente, de seguida: Portugal não "maquilhou" as suas contas públicas para escapar ao radar da União Europeia.
O que não se sabia, até agora, é que houve tentativas de o fazer.
Logo em 2005, quando o primeiro Governo de José Sócrates tomou posse, uma das maiores instituições financeiras mundiais, o Citigroup, tentou oferecer uma "solução para melhorar o ratio dívida/PIB em cerca de 370 Milhões de euros em 2005 e 450 M de euros em 2006". Essa solução passaria pela aquisição, pelo Estado português, de três contratos de swap fornecidos pelo Citigroup, baseados em produtos "derivados". O documento, entregue pelo banco ao IGCP, ao ministério das Finanças, e ao gabinete do primeiro-ministro, explicava, no final, as vantagens: "Os Estados geralmente não providenciam [ao Eurostat] informação sobre o uso de derivados. (...) Os swap serão, efetivamente, mantidos fora do balanço".
Ao gabinete de José Sócrates, a proposta foi entregue por Paulo Gray, diretor-executivo para Portugal do Citi, e atual responsável pela consultora Stormharbour (contratada por Maria Luís Albuquerque para analisar os swaps das empresas públicas) e pelo diretor do Citibank Coverage Portugal, Joaquim Pais Jorge, o homem que assumiu, no dia 2 de julho, o cargo de secretário de Estado do Tesouro, na atual equipa do ministério das Finanças.