"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

Os bons negócios fazem-se à mesa

«(...) para se fazer negócios em Portugal, tem que se abrir a reunião com conversa sobre o tempo, a família, ou uma refeição surpreendentemente saborosa num restaurante pouco conhecido, por exemplo, antes de se passar aos factos.»
Barry Hatton, Os Portugueses

Os portugueses parecem ter razão, cientificamente provada.

As conclusões são de um estudo da insuspeita Booth School of Business, da Universidade de Chicago.

«Basicamente, cada refeição que está a comer sozinho é uma oportunidade perdida para se conectar com alguém (...) E cada refeição que envolve a partilha de comida utiliza totalmente a oportunidade de criar esse laço social.»

Diário de Notícias, 17 de Dezembro de 2018

Nuno Condinho, Country manager da Regus Portugal (empresa especializada em soluções de gestão para escritórios e empresas), partilha a mesma opinião:

«Considero que muitas coisas positivas acontecem quando misturamos negócios e prazer, durante uma boa refeição, por exemplo. Será que os negócios devem apenas limitar-se aos escritórios, salas de reuniões ou ambientes concebidos para minimizar a possibilidade de alegria ou prazer?

Portanto, eis a minha sugestão: se quer fazer negócios com alguém, convide-o para uma refeição. (...) Já que a maioria de nós não só necessita de comer em determinados momentos do dia, mas também gosta de o fazer, isso dá-nos uma oportunidade para sermos nós mesmos, partilhar uma experiência do dia a dia e talvez encaixar algum negócio ao mesmo tempo. É um momento em que, pelo menos parcialmente, as barreiras são eliminadas e as hierarquias desaparecem - quer seja dentro de uma organização ou com clientes e contactos comerciais. (...) 

Isso acontece porque os negócios dependem das relações humanas e uma reunião de negócios comum raramente permite que essas relações se estabeleçam. Em qualquer lugar do mundo, as pessoas revelam-se pela sua atitude perante a comida e mostram se são o tipo de pessoas com as quais deseja fazer negócios."

Dinheiro Vivo, 22 de Agosto de 2013

Há muitas recomendações de etiqueta e boas maneiras sobre estas ocasiões:

Manda o protocolo que... Não se deve convidar um cliente muito importante para um restaurante muito simples, pois a ideia é fazê-lo sentir-se valorizado. É conveniente a conversa inicial ser sobre amenidades, mas... "sem perder o foco nos negócios". A comida deve ser saborosa, o vinho deve ser bem escolhido, o clima do restaurante deve ser propício (ausência de ruído, não proximidade de mesas, etc.). 

Importante: A conta deve ser paga por quem convida, "mesmo que o anfitrião seja mulher. Ainda que o restaurante seja económico, o ideal continua sendo pagar a conta do convidado."

Depois...
Temos leis nórdicas anti-cultura tradicional e patriótica, indutoras da moral, e temos almoços e jantares consumidos como tráfico de influências (como corrupção ou crime, na visão dos mais radicais)!... 
Os defensores de uma suposta transparência querem imitar aqueles que se alimentam com umas simples sandes, bocadinhos de queijo ou salsichas de lata espetadas em palitos e fazem com que se entre em julgamentos morais que não enchem barriga.

A sério...
Há crime? Creio que não. Há promiscuidade de interesses. É a permissividade capital-política (como existe - e está a funcionar - a permissividade justiça-política). É a Administração Pública prisioneira.

A comunicação de António Costa no dia 11 é a justificação dessa permissividade. Uma preocupação explícita, perante as notícias da comunicação social internacional sobre a corrupção que o mancharia a si e ao Governo, com todas as consequências de reputação e de possível fuga de investimentos, foi a de sossegar os investidores estrangeiros, os Mercados externos. Ao mesmo tempo, justificar (reconhecendo) a nossa dependência dos soberanos interesses internacionais. Esses interesses justificariam os processos que podem parecer mais obscuros mas que são, assim, apresentados como necessários.

Os interesses (ou interessados) nacionais são poucos, mas sobram quadros médios com ambições de ascensão social - possível através da política e do poder no Estado. Há sempre uns chicos-espertos dispostos a servir quem os possa ajudar na ascensão. E há quem tenha lentilhas (história bíblica que já vem dos tempos de Jacob)...

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