"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Solstício de Inverno

Começo a juntar a fraca
claridade
dos dias demasiado curtos

e a gélida sombra
sobra entre os meus dedos

Mas eu teimo e sigo devagar
agasalhado de frio
ao encontro do sol mais a sul

Capricórnio - afirmam-me

Então as gralhas e os corvos
levantam voo da neve `minha frente
num fragor de gelo quebradiço

Inverno - digo em surdina

Esta é a geada do solstício

sei, sem no entanto entender
a sua respiração sustida

Trópico de Câncer - lembro

enquanto na esfera celeste
o sol num amplo movimento
atinge a sua maior inclinação

durante a noite mais longa

É então que chamo o meu amado
quem sabe perdido por entre
cardos, espinhos e lírios devastados

- "Vem para os meus braços!"

Clamo em vão, a procurar abrigo
na floresta onde fico
à espera entre as árvores

da vitória da luz sobre a escuridade

Maria Teresa Horta, 
22 de Dezembro de 2015

(um poema fresquíssimo!)

Paisagem de Inverno, de Pieter Brueghel


2 comentários:

  1. Feliz e doce Natal!
    Que a amizade percorra os caminhos da internet e junte as pessoas de boa vontade

    Angela

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    1. Obrigado.
      Que os caminhos levem a prados verdejantes e possamos ver o sorriso das vacas.
      Boas Festas

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