"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

sábado, 5 de dezembro de 2015

A expulsão de judeus e mouros de Portugal

«Que Judeus e Mouros se saiam destes Reynos, e nom morem, nem estem nelles. (...) sendo Nós muito certo, que os Judeus e Mouros obstinados no ódio da Nossa Sancta Fee Catholica de Christo nosso Senhor, que por sua morte nos remio, tem cometido, e continuadamente contra elle cometem grandes males, e blasfémias em estes Nossos Reynos, as quaes nom tam soomente a elles, que sam filhos de maldiçam, em quamto na dureza de seus corações esteuerem, sam causa de mais condenaçam, mas ainda a muitos Christãos fazem apartar da verdadeira carreira que he a Sancta Fee Catholica; por estas, e outras mui grandes e necessarias razões, que Nos a esto mouem, que a todo Christão sam notorias e manifestas, avida madura deliberaçam com os do Nosso Conselho, e Letrados, Determinamos, e Mandamos, que da pubricaçam desta Nossa Ley, e Determinaçam atá per todo o mez d'Outubro do anno do Nacimento de Nosso Senhor de mil e quatrocentos e nouenta e sete, todos os judeus, e Mouros forros, que em Nossos Reynos ouuer, se saiam fóra delles, sob pena de morte natural, e perder as fazendas, pera quem os acusar. E qualquer pessoa que passado o dito tempo teuer escondido alguu Judeu, ou Mouro forro, per este mesmo feito Queremos que perca toda sua fazenda, e bens, pera quem o acusar (...)»
Do édito de expulsão de Portugal de judeus e mouros 


O decreto foi assinado a 5 de Dezembro de 1496, por D. Manuel I, pressionado pelos futuros sogros - os Reis Católicos, Fernando II de Aragão e Isabel I de Castela - e pela própria Isabel com quem D. Manuel quis casar, depois da infanta já ter ficado viúva de D. Afonso, filho de D. João II.
D. Isabel terá dito que só (re)entraria em Portugal quando o reino estivesse limpo de infiéis.
E D. Manuel I terá pensado "Vão-se os judeus e fique a noiva." ou, eventualmente, que conseguiria mitigar a sua própria lei, pois a saída dos judeus seria um rombo financeiro e uma perda de saberes para a epopeia marítima.

A pobre Isabel não teve tempo de ser feliz. Se com o príncipe D. Afonso esteve casada sete meses, também nem a um ano chegou o seu casamento com D. Manuel. Morreu na sequência do parto daquele que foi pensado como o herdeiro das coroas de Portugal, Castela e Aragão, o príncipe Miguel da Paz.
Miguel da Paz morreria antes de completar os dois anos e lá se foi a possível união das coroas ibéricas.

De tudo isto, sobra a expulsão de judeus e mouros!
A Inquisição não tardaria.
A tolerância religiosa iria ter uma longa travessia do deserto...


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