"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

sábado, 5 de dezembro de 2015

Os Capelinhos - Um território caído da Lua

«Os Capelinhos estão para ali, em lava e em cinza, com o seu quê de trágico e de grandioso ao olhar, mas como um acrescento ou uma ocupação: a lava que veio do fundo do mar anexou os ilhéus, soterrou em parte o farol, varreu a fogo e matéria ígnea a população do Capelo, estendeu para ocidente os limites primitivos do verde e do azul. É um território caído da Lua desde 1957-58, espécie de chuva radioactiva onde o vento corre como um latido de cão abrasivo, levantando nuvens de cinza e deslocando uma terra de lava que não consolidou uma estrutura nem uma ossada rochosa definida nesse território desolado. A erosão entrou por ali dentro - como entra o cinzel ou o escopo do escultor na pedra arrancada à montanha - e tem vindo a modelar o chão, a forma pouco a pouco descoberta da primeira baía assoreada pela areia escura e pedregosa, entre as duas primeiras falésias.»
João de Melo, Açores - o segredo das ilhas




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