"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Graça Morais – “Os desastres da guerra”

Pinturas e desenhos recentes de Graça Morais (2011 - 2012) numa exposição temporária no Museu Arpad Szenes e Vieira da Silva, até 14 de Abril.


Inclui as obras das séries Sombras do Medo e A Caminhada do Medo.
Em qualquer delas, Graça Morais parte da realidade vivida directa ou indirectamente, através dos media, para a denúncia "da maldade sem rosto que ensombra a Terra" mas também para a afirmação de esperança na resistência, a recusa da "fatalidade do Medo e da indignidade do Mal".
A "maldade" é bem real, não metafórica, presente no/do nosso quotidiano. Como fonte inspiradora as imagens das múltiplas tragédias que constituem a Tragédia Humana, reveladas pela comunicação social.
«Estas pinturas e desenhos são o meu grito de alerta e de revolta perante um mundo que apreendo através dos jornais, das televisões e dos media e que também sinto no olhar das pessoas com que me cruzo no meu quotidiano, numa cumplicidade de olhares, cheios de dignidade mas também de muito sofrimento.»


Para quem pressentiu Paula Rego nas figuras de Graça Morais agora expostas, entendo que Graça Morais não é Paulo Rego. Da pintura de Graça Morais gosto (posso gostar mais, pode-me ser menos "agradável", mas gosto); ainda não consegui gostar da pintura de Paula Rego.
Por muito que as figuras humanas de GM se transformem em animais com cornos - cabras/bodes - essas figuras têm o condão de ser o lado positivo, redentor dos males - são personagens que resgatam as vítimas, os homens e as mulheres, do Inferno (dos desastres das guerras e das doenças).
Nas personagens desfiguradas de PR vejo o reflexo de fantasmas interiores, pessoais, não o "sobressalto cívico" que assumem as obras de GM, mesmo que sombrias, perante um futuro que nos está a ser roubado.
Contra a fatalidade, apesar das sombras e do medo.

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