"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

domingo, 15 de março de 2015

Lei contra "o delito de se porem cornos nas portas"

A 15 de Março de 1751, D. José I fez publicar uma nova lei.

«Faço saber aos que esta lei virem que, por me ser presente que de alguns tempos a esta parte se frequenta o delito de se porem cornos nas portas, e sobre as casas de pessoas casadas, ou em partes em que claramente se entende se dirige este excesso contra as mesmas pessoas; e por desejar evitar estes delitos, de que resulta atrocíssima injúria àqueles contra quem se cometem, e grande perturbação à paz, e quietação necessária entre os casados; e tendo outrossim consideração ao que sobre esta matéria me foi presente em consultas da Mesa do meu Desembargo do Paço: Hei por bem que este caso seja de devassa: e mando a todos os corregedores, ouvidores, juízes e mais justiças a que o conhecimento disto pertencer, que, sucedendo este caso, ou tendo sucedido de dois anos a esta parte, tirem devassa deles na forma que o devem fazer dos mais, de que por seus ofícios são obrigados a devassar; e outrossim mando ao Doutor Francisco Luís da Cunha de Ataíde, do meu Conselho, e meu chanceler-mor, faça publicar esta lei na Chancelaria, a qual se imprimirá, e enviará por ele assinada à Casa da Suplicação e Relação do Porto e a todos os julgadores dos meus reinos, para que procedam na forma dela.»  




Sete anos depois, durante a noite, regressava discretamente D. José I, numa carruagem, à sua real barraca da Ajuda, após mais um encontro com a sua amante, quando a sua real personagem foi objecto de um atentado - três homens dispararam sobre a carruagem. O rei foi ferido num braço.

A amante era D. Teresa de Távora e Lorena, mulher do 4.º Marquês de Távora.
Os Távoras, uma das mais importantes famílias da nobreza daquela época, foram acusados de terem fomentado o atentado. E pagaram bem caro por isso.

Será que antes, alguém tinha posto cornos nas portas do palácio da família Távora?
E falava o malandro do D. José na "quietação necessária entre os casados".

Atentado contra D. José I (3 de Setembro de 1758)


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