"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

A encomenda prodigiosa - Capela de S. João Baptista

A encomenda prodigiosa de D. João V fez-me voltar Museu de Arte Antiga e à igreja de S. Roque, onde ainda não tinha visto a capela de S. João Baptista restaurada.

S. Roque é daquelas igrejas a que volto sempre e continuo a ver (quase) como se fosse a primeira vez.
Construída na segunda metade do século XVI, foi a primeira igreja da Companhia de Jesus em Portugal e sede da Ordem.


No local, perto da muralha fernandina, mas fora dela, existia um cemitério onde eram sepultadas as vítimas da peste. Por esse motivo, ali se construiu uma ermida dedicada a S. Roque, santo protector no que à peste diz respeito, no reinado de D. Manuel I.
O seu filho, D. João III, tendo convidado os Jesuítas a instalarem-se em Portugal, cedeu os terrenos da ermida para a construção da igreja e da casa professa da Companhia. A nova igreja conservou uma capela lateral para o culto do santo.

Capela de S. Roque
Mas a encomenda a que desejo chegar ultrapassa a área de competência daquele santo.
Foi nesta igreja que D. João V quis instalar uma capela dedicada a S. João Baptista. Essa, sim! Essa foi a encomenda que o monarca efectuou a arquitectos italianos, em 1740.
Foi sendo construída em Roma, montada e preparada para que o Papa Bento XIV, para além de a sagrar, nela pudesse celebrar missa - 6 de Maio de 1747 - e, posteriormente, desmontada e transportada para Lisboa, em 3 naus, substituindo outra capela que se encontrava no espaço agora ocupado pela encomendada em Roma.


A capela é uma obra de arte, em puro barroco. Os materiais de que é feita e a qualidade artística fariam inveja a muitos outros edifícios religiosos da época, dentro e fora de Portugal.
Não chegam os dedos das mãos para contar a variedade dos mármores utilizados. O mosaico também é profusamente utilizado, tendo a sua montagem sido concluída já após a morte de D. João V. Junte-se-lhe o bronze dourado.
Os paramentos e as peças de culto, igualmente de grande valor, encontram-se, em parte, no Museu de S. Roque, com o qual a igreja comunica internamente. Algumas das peças encomendadas teriam desaparecido na viagem de Roma para Lisboa.



A capela de S. João Baptista sofreu obras de restauro há pouco tempo, visando a realização da exposição A encomenda prodigiosa, centrada na encomenda da Igreja Patriarcal (parte da exposição no Museu Nacional de Arte Antiga) e desta capela.





Trabalhos de restauro da capela 
(fotos de Agosto de 2011)


O conjunto formado pelo Convento, Palácio e Basílica de Mafra, ilustrado em vários passos da exposição nas Janelas Verdes, bem podia completar estas encomendas prodigiosas.
E não falamos do Palácio de Belém, do Palácio e do Convento das Necessidades e de outras igrejas e conventos...

Perguntava-me há dias um aluno: "Stôr, para onde é que foi o ouro do Brasil?"

Pormenor de um tocheiro monumental
Escultura de S. Roque (em calcário) do início do séc. XVI
Proveniente do antigo postigo de S. Roque
(na torre de Álvaro Pais, na muralha fernandina, demolida em 1835),
resistiu incólume ao terramoto de 1755,
quando caiu "o Carmo e a Trindade".
Encontra-se no Museu de S. Roque

2 comentários:

  1. será verdade que o ouro do Brasil serviu para construir inúmeros monumentos não só em Portugal mas também no Brasil que ficou cheio de cidades classificadas pelo Unesco, de conventos de arte barroca e de igrejas de talha dourada, podemos ver a igreja de São Salvador da Baía que é uma autentica caverna coberta de ouro, o Youtube ajuda!
    se não fossem os monumentos, o dinheiro teria desaparecido como costuma desaparecer o dinheiro dos dias de hoje, então assim ficam essas jóias de umas gerações para as outras

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  2. Salvem-se as jóias (mas fiquemos com os dedos!).
    Bem-vinda.

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