"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

domingo, 27 de maio de 2012

Três pessoas e um sobreiro ou quatro pessoas de boa vontade!

A propósito da plantação do sobreiro por Cavaco Silva, recordo/dou a conhecer um texto escrito em 1957 por aquele que foi o maior especialista do mundo em subericultura, o Eng. Vieira Natividade (1899 – 1968).
O texto, parte final de um artigo do Boletim da Junta Nacional da Cortiça (n.º 228),  refere a plantação de um sobreiro na Herdade dos Leitões (Montargil), em 19 de Agosto de 1957.
Sente-se o afecto de Vieira Natividade por esta espécie florestal.




João Lopes Fernandes, Vieira Natividade
e Sardinha de Oliveira junto
ao sobreiro transplantado
«Para comemorar esta grata jornada suberícola, e segundo velhos rituais, foi plantado um sobreiro, frente à porta da casa acolhedora do monte de Leitões. Estávamos em plena canícula de Agosto, e chegavam até nós as lufadas de ar quente do deserto longínquo... O Senhor Lopes Fernandes parece ter riscado há muito do seu vocabulário a palavra “impossível”... Não oculto que antes de meter as mãos à tremenda aventura, e estarrecido pela responsabilidade técnica, invoquei em segredo a protecção de todos os Santos patronos da floresta, de reforço com um patético apelo àquelas divindades silvanas que já nos bosques sagrados da remota Hélada habitavam a própria alma das árvores...
Presidia à cerimónia o Senhor Lopes Fernandes. A seu lado, o colega e querido amigo Sardinha de Oliveira lançava aos preparos do acto o olhar apreensivo e sofredor de quem vê lançar à água, em mar de escolhos batido pela procela, um frágil e mísero batel... Com pouco mais de três palmos de altura, mal saído ainda da infância, era tão franzino o sobreirito!
Por cenário, a floresta circundante e inspiradora. E no recolhimento e no silêncio que a gravidade do acto impunham, apossou-se de mim a confiança e a fé, pois quase diria que senti palpitar nas minhas mão, venturosa e confiada, a tenra e pequenina árvore! Estávamos ali três pessoas e um sobreiro; mas confesso que acreditei e acredito que éramos, ao todo quatro pessoas de boa vontade!
E o sobreirito lá viceja, garboso e feliz!»
Vieira Natividade, Devoção Suberícola

O sobreiro há poucos anos atrás

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