"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

sábado, 19 de maio de 2012

A lembrança da História - "resposta" à Susana

Obrigado, Susana, pela lembrança da História.
Da História não sabemos o futuro, mas será do senso comum que, a prosseguirmos neste caminho, mesmo com a reforma aos 72 anos (eh, eh, eh), não acredito que chegue a ver o discurso de Severn Suzuki nos livros de História.
Poderá haver uma imagem captada do vídeo, uma referência ao evento – a Eco-92 – às preocupações ecológicas, mas não aos poderes que são postos em causa. E são esses poderes que nos lixam!

Há verdades simples, óbvias – que alguns poderão chamar de demagógicas – mas outros valores mais altos se levantam, e a esses não chamam demagógicos. Esses são os pilares do sistema, do modelo de sociedade que temos. Por isso, mais facilmente verás nos livros a referência à entrada do facebook na Bolsa.
A minha esperança ainda está na geração a que vocês pertencem, pela educação – pelos valores – que poderão transmitir aos vossos filhos. Os actuais filhos com que eu lido são, na sua maioria, mal educados. Eles não sabem – não lhes cabe o quinhão maior de responsabilidade – mas são. Estão desformatados! Por variadas razões, por visões deformadas do que é (devia ser) a vida. Mas a minha visão também é… a minha. E estará certa?

Nesta “tasca”, onde se pode reparar no sorriso das vacas, mantenho em destaque, na coluna à esquerda, uma passagem de Indignai-vos!, um manifesto escrito por Stéphane Hessel. Este senhor, actualmente com 94 anos, fugiu com os pais da Alemanha nazi antes da II GM, naturalizou-se francês, pertenceu à Resistência, e esteve preso nos campos de concentração (de onde conseguiu fugir). Depois da Guerra esteve nas Nações Unidas e participou na elaboração da Declaração dos Direitos Humanos (1948). Em 2010, perante o modelo de globalização e as ameaças ao valores mais profundos da democracia e da justiça social, considerou necessário escrever o manifesto para lembrar uma série de princípios presentes na construção da França e das democracias modernas (pós-II GM).
E diz mais:
«Cabe-nos a todos em conjunto zelar para que a nossa sociedade se mantenha uma sociedade da qual nos orgulhemos: não essa sociedade dos imigrantes ilegais, das expulsões, da desconfiança em relação aos imigrantes, não essa sociedade na qual se põem em causa as reformas, os direitos adquiridos da Segurança Social, não essa sociedade na qual os media estão nas mãos dos poderosos.»
Lembra Jean-Paul Sartre: «Somos responsáveis enquanto indivíduos.»
Se calhar, o Homem não muda tão depressa como as tecnologias. Pelo menos, os vícios permanecem!...

Severn Suzuki é da tua geração – o seu discurso foi proferido já em 1992 (cerca de 3 meses antes de eu te conhecer), na Conferência do Rio de Janeiro para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento.
Dez anos depois, segundo a Cimeira de Joanesburgo 2002, as principais propostas aprovadas no Eco-92 – Agenda 21 – ainda não tinham saído do papel.
O filme de Severn Suzuki a discursar na Eco-92 passou como imagem de fundo num momento do filme promocional ou de abertura da Cimeira de Copenhaga de 2009. 17 anos depois estava quase tudo por fazer.


Espero que a Severn Suzuki e as suas colegas também eduquem bem os seus filhos.
Talvez essa geração consiga ter sucesso – um conceito abrangente de sucesso, não o estritamente capitalista – e pôr “o discurso” nos livros de História, por as suas ideias estarem a triunfar na realidade. Porque a História, regra geral, é o relato dos vencedores.

Texto de resposta/comentário à Susana P., a propósito do vídeo que pode ser visto abaixo, postado parcialmente no fb.
A minha formação histórica leva-me a simpatizar mais com esta via que me permite facilmente arquivar/(re)encontrar a informação. O fb é a espuma dos dias…




1 comentário:

  1. Durante anos foi crescendo o sentimento que algo se perdeu, ou que nós nos perdemos... enquanto crianças, o nosso ritmo e a liberdade que sentimos, impede-nos de vêr a impossibilidade das coisas, tudo é possível.
    Severn Suzuki viveu duas semanas no seio de uma tribo na Amazónia, ameaçada pelos interesses económicos instalados, e foi nesse contexto que surgiu a sua indignação.
    Das pequenas ideias e atitudes se pode mudar o rumo da história.
    As novas gerações serão sempre um desafio...
    enquanto houver professores que lhes leiam a histórias do rapaz que viajava no dorso de um ganso, estão em boas mãos.
    Beijinho Stôr :)
    Susana Pinto

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