"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Na hora da morte todos são muito bons

Morreu o historiador José Hermano Saraiva.
As televisões, sobretudo a RTP, estão a relembrá-lo.
Já muitas altas individualidades se referiram ao prof. Hermano Saraiva.
É natural. Era uma figura popular, pelas suas características de comunicador.

Na net encontrei muitas referências, algumas delas "ao maior historiador português". Nada menos!
Hermano Saraiva foi, após o 25 de Abril, um divulgador de temas de História.
A quem afirma tratar-se do maior historiador português, peço que me elucide qual foi o assunto da nossa História que estudou aprofundadamente e sobre a qual tenha produzido obra significativa - não me estou a referir às suas "generalistas" Histórias de Portugal, de que não discuto o mérito.

Desde a década de 1950 e até ao 25 de Abril de 1974, José Hermano Saraiva exerceu vários cargos públicos: foi Director da Campanha Nacional de Educação de Adultos, esteve na direcção do Instituto de Assistência aos Menores, foi deputado à Assembleia Nacional pelo única força política autorizada, foi professor no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (leccionando cadeiras de Direito), foi reitor do Liceu D. João de Castro (Lisboa), procurador à Câmara Cooperativa, Ministro da Educação (1968-1970, período de triste memória pela sua actuação na crise académica), embaixador de Portugal no Brasil (1971-1974).
Cargos de confiança política do Estado Novo, como se vê, não lhe faltaram.

António José Saraiva

Em comparação, o seu irmão, António José Saraiva, já falecido em 1993, produziu a grande História da Cultura em Portugal, escreveu com Óscar Lopes a História da Literatura Portuguesa, publicou ainda Inquisição e Cristãos-Novos (obra de referência sobre o tema, com 4 edições em 1969), para além de uma grande quantidade de estudos sobre grandes autores portugueses (Gil Vicente, Bernardim Ribeiro, Camões, Fernão Mendes Pinto, Eça de Queirós, Alexandre Herculano).
Ainda em contraponto a seu irmão, António José Saraiva foi impedido de exercer a profissão de professor em qualquer estabelecimento de ensino público ou privado, depois de ter sido preso pela PIDE (1949). Foi obrigado a exilar-se na década de 1950. A sua carreira académica prosseguiu em França e na Holanda, onde permaneceu até 1975, regressando a Portugal já como professor catedrático.

Quando existiu Herculano, quando tivemos Vitorino Magalhães Godinho e temos José Mattoso, dizer que José Hermano Saraiva era o maior historiador português só pode ser ignorância ou pobreza de espírito.
É como eu dizer que este é o melhor blog de todos!!!

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