"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

terça-feira, 10 de junho de 2025

Sem cor de virtude

«[Camões, Shakespeare e Cervantes] Procederam à anatomia dos dilemas humanos e entre eles os mecanismos universais do poder. Corpus que continua válido e intacto até aos nossos dias. Sobre o poder grandioso, o poder cruel, o poder tirânico, o poder temeroso e o poder laxista. 

No caso de Camões, de que se queixa ele quando interrompe o poema das maravilhas da História para lembrar a mesquinha realidade que envenenava o presente de então? 
Queixava-se da degradação moral, mencionava o vil interesse e "sede i[ni]miga" do dinheiro que a tudo nos obriga e evocava, entre os vários aspectos da degradação, o facto de sucederem aos homens de coragem, que tinham enfrentado o mar desconhecido, homens novos, venais, que só pensavam em fazer fortuna.
Mais do que isso, queixava-se da subversão do pensamento, queixava-se da falta da sociedade intelectual que resultava depois, na prática, na degradação dos actos do dia a dia.»

Do discurso de Lídia Jorge nas cerimónias do 10 de Junho de 2025 



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