"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

quarta-feira, 11 de junho de 2025

Atribulações de um Dia de Portugal

Em Dia de Portugal, há quem deite os corninhos ao sol (e não é por bom motivo).

Um grupo associado à extrema-direita agrediu o actor Adérito Lopes, do grupo teatral A Barraca.

Confesso que, para mim, foi um choque! Um sinal que "as coisas" estão a andar muito depressa.

Do que li (Público online de hoje), esse grupo pertencerá a uma organização internacional com representação em Portugal e pelo menos um dos autores do ataque aos actores d’A Barraca esteve envolvido na morte de Alcindo Monteiro, um português de origem caboverdiana, agredido no dia 10 de Junho de 1995 e que viria a falecer dois dias depois.

A referência a esse grupo - "Sangue e Honra" - faria parte do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) relativo a 2024, relatório esse que foi truncado pelo menos em sete páginas, nas quais se tratava dos problemas de segurança pública provocados por estes grupos de extrema-direita e pelo terrorismo (há quem refira o grupo "Reconquista").

Vários partidos querem o debate sobre o RASI, continuando à espera da explicação para o apagamento desse capítulo - por que razão não aparece na versão oficial que chegou ao Parlamento.


Entretanto, Xeque David Munir, o imã da mesquita de Lisboa, foi insultado no Encontro Nacional de Homenagem aos Combatentes, em Belém, para o qual foi convidado oficialmente, o que acontece desde 1995.

Os insultos partiram de um grupo que fazia a saudação nazi.


À margem das ideologias políticas, mas fruto da época, da banalização da violência, um grupo de cinco adeptos do F.C. Porto foi atacado no interior de uma viatura em que foram introduzidos engenhos incendiários, por um grupo de adeptos(?) do Sporting, após o jogo de hóquei em patins entre as duas equipas. 

Resultaram dois feridos graves e três ligeiros.


Entretanto, em relação ao discurso de Lídia Jorge nas comemorações oficiais em Lagos, há uma clara divisão nos poucos locais que frequento nas redes sociais: altamente elogiado por uns, deitado abaixo por outros (geralmente em mau Português e por muita gente que não compreendeu literalmente o discurso, pelo que os dislates são muitos). Sobretudo, não entenderam a menção à inexistência de "portugueses puros" - se os bisavós são de Freixo de Espada à Cinta, que é lá isso de não ser um português puro?...

Alegra-me que nos sítios que frequento o apreço pelo discurso saia largamente vencedor. Mas esse não será o registo em todos os lados. Não verifiquei: há locais a que não me chego, sobretudo por uma questão de sanidade mental. Campeia por aí uma grande indigência mental. 

Citando Lídia Jorge: «A cultura digital subverteu a regra de exemplaridade, o escolhido passou a ser o menos exemplar, o menos preparado, o menos moderado, o que mais ofende. 

Um Chefe de Estado de uma grande potência, durante um comício, pôde dizer: "Adoro-vos! Adoro os pouco instruídos." E os pouco instruídos aplaudiram.»

 Desejo-vos melhores dias.


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