"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

Tales from Topographic Oceans - 50 anos

Editado há 50 anos, continua a dividir a opinião dos fãs do chamado rock progressivo. Quem gosta... adora. Quem não gosta... detesta. O meio termo parece ser difícil.

Abertura da 1.ª faixa (The Revealing Science of God)

Disseram uns que é um dos melhores exemplos do pretensiosismo extremo - exuberante - das bandas dessa área musical - "música insuportável, pretensiosa e sem significado sentimental" (Rolling Stone). Disseram outros que é uma obra que ultrapassou os limites da criatividade e da capacidade humana de criar música (Pop!).
A revista Time elegeu-o como o melhor disco de 1973. A revista Showbizz colocou-o entre os 20 piores de todos os tempos.

Os próprios intervenientes no disco têm opiniões diferentes. Rick Wakeman, o teclista, reconhecendo que o disco tem melodias marcantes, considera que vários temas se repetem, se enrolam e prolongam demasiado, ficando chatas até para os fãs. O produtor, Eddie Offord, considerou o disco horrível - "tudo parece duplamente chato" (referência ao facto de Tales from Topographic Oceans ser um disco duplo). 

Os seus grandes defensores foram os seus principais mentores: Jon Anderson (vocalista e multi-instrumentista) e Steve Howe (guitarrista).
Jon Anderson, seguindo os princípios do mestre hindu Paramhansa Yogananda, apresentou Tales como uma viagem espiritual - um conjunto de quatro suites (cada uma ocupando uma face de cada um dos discos) que formam uma peça única (com mais de 80 minutos e que se deverá ouvir seguindo a ordem das faixas, pois pretenderá narrar a história da criação do mundo).
Steve Howe secundou a ideia inicial do vocalista e teve papel fundamental na composição.
Chris Squire (baixista) estaria duvidoso...
Alan White (baterista) tinha entrado muito recentemente nos Yes, substituindo Bill Brufford, pelo que não estaria em posição de ter uma opinião de peso.
Rick Wakeman era a voz decididamente contra - e deixaria mesmo os Yes antes da gravação do disco seguinte (regressaria mais tarde aos Yes, já numa fase diferente, passado o pico do rock progressivo).



A venda do disco foi um sucesso.
Curiosidade: a tournée de Tales from Topographic Oceans incluiu dezenas de concertos nos Estados Unidos (um sucesso que me causa espanto, pelo tipo de música...), no Reino Unido e em vários países da Europa, e encerrou em Roma (o último concerto, a 23 de Abril de 1974, terá terminado já nas vésperas do nosso 25 de Abril).


Eu avalio Tales from Topographic Oceans como uma das grandes obras do rock progressivo. A estrutura clássica da sua composição justifica a designação de rock sinfónico com que por vezes se classificam as obras desta corrente da música pop-rock. 
Não será por acaso que, numa determinada fase da sua carreira, os Yes antecediam os seus longos concertos com a audição de O Pássaro de Fogo, de Igor Stravinsky.  


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