"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Geringonça


Estávamos nós a contar
Ai as patas às ovelhas,
A ver se faltava alguma,
Quando aquela geringonça
Ai desceu lá do alto
E poisou entre molhos de caruma.
Ai aquilo era coisa
Do outro mundo, era.

Estávamos nós a contar
Ai as patas às ovelhas,
Quando aquela geringonça
Poisou na beira da eira
Aquilo era coisa,
Aquilo era coisa
Do outro mundo.

Ao sair da geringonça
"Aquilo" entrou em nossa casa,
Atravessando as paredes
E eu sei lá, ó minha mãe.
Tudo aquilo foi assim
Sem água vai nem água vem.
Aquilo era coisa,
Aquilo era coisa
Do outro mundo.

As ovelhas assustadas
Entretanto debandando,
Debandaram pelo campo afora.
Quando aquela geringonça,
Ai subiu lá no alto,
Fez-se uma luz no céu,
Indo-se embora.

E vieram os falsos,
Cada falso trouxe um falso,
E assim o mundo se fez falso.
Políticos (cegos, surdos mudos).
Banqueiros (cegos, surdos mudos).
Filósofos (cegos, surdos mudos).
Profetas (cegos, surdos mudos).
Sábios (cegos, surdos mudos).
Deuses (cegos, surdos mudos).


(António Avelar Pinho / Nuno Rodrigues)


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