"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

sexta-feira, 31 de outubro de 2025

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Sá Carneiro - Exposição do arquivo Ephemera

Foi hoje inaugurada, no espaço Lisboa Social Mitra, a exposição Francisco Sá Carneiro, do arquivo Ephemera.
A exposição, que pode ser visitada até 31 de Janeiro, com entrada gratuita, revela documentos inéditos que permitem conhecer aspetos e curiosidades, até agora desconhecidas, da biografia de Francisco Sá Carneiro.





segunda-feira, 27 de outubro de 2025

José Rodrigues Miguéis - Uma placa para assinalar prédio em que nasceu

Foi hoje descerrada uma placa a assinalar o prédio em que nasceu o escritor José Rodrigues Miguéis, sobre cuja morte passaram, exactamente, 45 anos.

Recordo o que já escrevi há uns anos.

Depois de uma história rocambolesca - mas parece-me que não tanto como a dos direitos de autor sobre a sua obra... - em que Teresa Martins Marques e Eduardo Cintra Torres tiveram um papel central, uma placa metálica lá está, finalmente!, junto à entrada dos números 12 e 14 da Rua da Saudade (uma entrada para dois prédios),  freguesia de Santa Maria Maior, Lisboa, para assinalar que naquela casa nasceu José Rodrigues Miguéis.

Devia ser dito: nas águas-furtadas do n.º 12.

Uma frase de A Escola do Paraíso acompanha a informação básica.


O descerrar da placa por Teresa Martins Marques, 
autora de uma recente biografia de José Rodrigues Miguéis -
Nos passos de José Rodrigues Miguéis - Uma biografia como um romance 


A singela homenagem atrapalhou a saída do prédio de uma família de turistas, agora que o edifício (ou quase todo ele) funciona como Alojamento Local.
Aliás, a instalação da placa metálica foi a alternativa possível à não autorização da empresa proprietária do edifício para nele afixar uma lápide.
O imóvel seria desfeiado e, pasme-se, desvalorizado!
L'argent avant la culture...


Estratégias de gestão

Nunca mais o INEM terá problemas no seu funcionamento!...

O que não faz uma Autoridade?


Democrata por natureza

«Eu sou democrata por natureza, mas há uma expressão que se ouve muito e que faz sentido: não era preciso um Salazar, eram precisos três Salazares, porque o país está tão podre de corrupção, impunidade e bandidagem que seriam necessários três Salazares para pôr isto na ordem.»

Da entrevista de André Ventura a Clara de Sousa, na SIC, a generalidade dos comentadores destacou a afirmação da necessidade de 3 Salazares. Eu destaco o início da frase. Essa é que é a novidade!...
Da vontade das limpezas já nós sabíamos.


O resto... siga o Carnaval!...
Portugal está feito um país tropical, "bonito por natureza".



domingo, 26 de outubro de 2025

João Queiroz (1957 - 2025)


Na semana que passou, semana de muitos desaparecimentos de gente conhecida e respeitável, faleceu, também, João Queiroz, pintor e desenhador.

Meu colega na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, começou a expor pintura e desenho no início dos anos 80, enquanto ainda estudava Filosofia.

Esteve ligado ao ensino da arte plástica, exposições foram muitas, prémios também os ganhou...

Morreu na véspera de Bernardo Pinto de Almeida apresentar, na Fundação de Serralves, o documentário João Queiroz – Instruções para subir a uma montanha, que resulta de uma conversa com o artista, e o livro João Queiroz A Substância da Paisagem, ambos da sua autoria.

Segundo o crítico, “João Queiroz é um dos grandes Artistas portugueses das últimas décadas. Afirmado nos finais dos anos 80 do século XX, viu a sua obra crescer desde então para um pleno que faz dele um dos mais originais, inteligentes e misteriosos Artistas da nossa contemporaneidade. Reconhecido pela crítica, é, ainda assim, pelo seu temperamento discreto, menos conhecido do público, apesar de figurar nas principais Colecções institucionais portuguesas e algumas internacionais." 


As coisas não estão completamente definidas. Não há uma ideologia anterior capaz de definir o mundo tal como ele é atualmente. A indeterminação que permanece no quadro tem a ver com essa indeterminação que eu penso que existe nas coisas que nos rodeiam. (João Queiroz)


Mais exposto ao público terá sido o trabalho de pintura que fez para os cenários do filme de António Botelho, Os Maias: Cenas da vida romântica (2014).  


Tenho com ele uma história inesquecível do tempo em que estivemos juntos na direcção da Associação de Estudantes - coisas da inconsciência da juventude, quando assumimos ter recebido 200 contos... que só recebemos, de facto, quinze dias mais tarde! Durante esse espaço de tempo, quando nos cruzávamos, nem dizíamos nada! Só sentíamos o aperto do medo... de que não nos chegassem a pagar.
Onde iríamos buscar 200 contos?


quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Laborinho Lúcio (1941 - 2025)

Álvaro Laborinho Lúcio foi muita coisa na sua vida, mas sobretudo um cidadão interveniente com valores humanos. 

«Imagino um mundo melhor a partir de uma inequívoca aposta na pessoa humana.»

Dos vários cargos que desempenhou, sentia-se mais realizado com os 10 anos em que esteve à frente do Centro de Estudos Judiciários. 

Não deixando o tom optimista, não deixava de manifestar uma profunda preocupação com a situação social e política actual.

«Estamos a criar a exponenciação do individualismo. De cada um se desinteressar da coisa pública, de não participar activamente na vida pública comum. Vivemos uns com os outros, não vivemos juntos. Estamos muito fechados sobre nós próprios, muito ligados a uma ideia de individualismo, muito consumista. E conflituante. É o ter mais que o outro, independentemente da qualidade do que se tem.»

Estão a desaparecer os (verdadeiros) sociais-democratas.

Sobram-nos os arrivistas abastardados.


sexta-feira, 10 de outubro de 2025

John Lodge (The Moody Blues)

Morreu John Lodge, baixista e uma das vozes dos Moody Blues.

John Lodge integrou a formação clássica dos Moody Blues, a mais conhecida, com a gravação de Days of Future Passed (1967), contribuindo para a via mais psicadélica e progressiva da banda.


I’m just a singer (in a rock’n’roll band)


Uma medida prioritária da União Europeia


terça-feira, 7 de outubro de 2025

43 anos por este rio acima...

Dizem que faz hoje 43 anos que foi lançado um dos melhores discos de sempre da música portuguesa...



Hediondo(s) terrorismo(s)

Assinalam-se hoje 2 anos de um acto hediondo de terrorismo.

Seguiram-se quase 2 anos de hediondo terrorismo de Estado.


Fernando Paulouro (1947 - 2025)

Li, há dias, a notícia de que presidiria à Comissão de Honra do jornal de que foi director (creio que entre 2002 e 2012, sucedendo a seu tio, António Paulouro, fundador do jornal), depois de já ter sido seu jornalista e chefe da redacção.

O nome Paulouro está no ADN do Jornal do Fundão e associado a uma história de luta e resistência que chegou a custar a suspensão do jornal durante 6 meses, no período do Estado Novo.

Poucos jornais fora do círculo das cidades de Lisboa e do Porto terão tido a qualidade jornalística e o destaque que o Jornal do Fundão conquistou.


Hoje, leio a notícia da sua morte.

Fiquei a saber que, no Domingo passado, Fernando Paulouro apresentara o seu último livro, As Sombras do Combatente, numa sessão realizada na Biblioteca Eugénio de Andrade (Fundão).

Essa sessão, realizada numa sala repleta, terminou com a sua leitura do poema Os Amigos, do poeta que dá nome à biblioteca.

Os amigos amei
despido de ternura
fatigada;
uns iam, outros vinham;
a nenhum perguntava
porque partia,
porque ficava;
era pouco o que tinha,
pouco o que dava,
mas também só queria
partilhar
a sede de alegria -
por mais amarga.

Os amigos de Fernando Paulouro despediram-se com uma emocionada ovação.

Fica o exemplo, num tempo em que a dignidade faz falta no jornalismo.


quinta-feira, 2 de outubro de 2025

José Cardoso Pires - centenário do nascimento


Um centenário completamente esquecido, à excepção da adaptação para cinema de Lavagante.

«E não há dúvida de que o regime passa muito bem sem os escritores. Os escritores são sempre uma espécie de tolerados, de animais marginais, que servem para dourar a festa quando é preciso e mais nada.» 
(José Cardoso Pires em entrevista a Mário Ventura, não datada, mas que deverá ser do princípio da década de 80)

José Cardoso Pires (1925 - 1998) pintado por Júlio Pomar, em 1954


Não podemos desistir das utopias

Manifestação por Gaza, hoje em Lisboa


quarta-feira, 1 de outubro de 2025

segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Dia de S. Miguel

Hoje é dia de S. Miguel, um dos dias em que, na Idade Média portuguesa, se costumava pagar os tributos.

A economia medieval baseava-se em relações de dependência, onde os artesãos, os comerciantes e, sobretudo, os camponeses, sustentavam a nobreza e o clero através de diversos tipos de tributos. Estes, para além de serem muitos, eram elevados, variando conforme os acordos feitos. Enquanto os senhores cobravam taxas sobre a terra e o trabalho (algumas pagas em géneros), os reis impunham contribuições para financiar as guerras e administrar os seus reinos. A Igreja, por sua vez, exigia o dízimo (o “Tostão de Pedro”), consolidando o seu poder espiritual e material.

«O sistema tributário medieval era um espelho da hierarquia social, onde cada camada da população tinha obrigações específicas para com seus superiores.» Marc Bloch, A Sociedade Feudal



domingo, 28 de setembro de 2025

A 28 de Setembro de 1966, o Metro chegou aos Anjos

No dia 28 de setembro de 1966, foi oficialmente inaugurado o troço Rossio - Anjos do Metropolitano de Lisboa, um prolongamento de forte impacto na rede urbana.

Com cerca de 1,5 km, o novo troço acrescentou três estações: Socorro (actual Martim Moniz), Intendente e Anjos. As linhas do Metro perfaziam um total de 8,6 km, ligando 15 estações.


O revestimento azulejar da estação dos Anjos é da autoria de Maria Keil. Conjuntamente com o da estação Restauradores, constituem os únicos casos onde a autora incluiu elementos figurativos, afastando-se um pouco da orientação dada pelo Conselho de Administração, que obedecia à norma imposta pelo gabinete de Salazar.


Rogério Ribeiro foi o artista convidado para criar os revestimentos necessários quando da ampliação da estação e abertura do átrio Norte, em 1982, inovando a composição a partir do padrão base de Maria Keil que enquadra o átrio Sul.

Rogério Ribeiro já havia sido encarregue do revestimento da estação Avenida, por sugestão de Maria Keil.

A criatividade de Maria Keil, aliada à possibilidade de desenvolvimento de uma proposta barata e eficaz de colorir e caracterizar as estações, quando as verbas do Metropolitano estavam no vermelho, "animou", desde o princípio da construção do Metro, o projecto arquitectónico de Francisco Keil do Amaral, seu marido.

Até 1972-73, a decoração de todas as estações, à excepção da Avenida (já referida), foi da responsabilidade de Maria Keil.

Essas obras foram realizadas em parceria com a Fábrica Viúva Lamego, que passaria dificuldades.



Olha que três!... Andei


Fora de moda

«Creio que os blogues estão ultrapassados, sim. Mas esse é um dos factores que me atrai nos que frequento. O que passou de moda e continua a existir, vale mais: ficaram os fiéis, sem luzinhas a piscar e florinhas que abrem e fecham e demais enfeites - ficaram as palavras no mais intrínseco de si. Hoje, os blogues são lugar de sossego. Dão assunto e tempo para pensar; rasam as novidades e a notícia sem espalhafato, contam histórias verosímeis e tanta vez verídicas, opinam sem alarde. Tendemos até a julgar conhecer quem está por detrás das palavras, suposição incorrecta, ninguém é o que escreve senão em parte ínfima e tanta vez incerta. Sou pelos blogues tal como estão: existência pacata e sem alarde de quem ama a escrita.»

Bea, comentário no blog Delito de Opinião (7 de Setembro de 2025)


sábado, 27 de setembro de 2025

Bicentenário da primeira viagem de comboio

A 27 de setembro de 1825, realizou-se a primeira viagem de comboio com transporte de carga e passageiros, de Shildon a Stockton-on-Tees, passando por Darlington, na Grã-Bretanha. Foi o início de uma revolução nos transportes e na mobilidade.

Uma multidão estimada entre 40 mil e 50 mil pessoas reuniu-se no Condado de Durham, para assistir à primeira viagem ferroviária pública do mundo a utilizar locomotivas a vapor para o transporte de carga e de passageiros.

A locomotiva, a Locomotion N.º 1, puxou um conjunto de... 36 vagões.

A composição incluía um vagão construído especificamente para passageiros, chamado Experiment, mas, a julgar pela pintura que ilustra a viagem, há passageiros em outros vagões. 

Pintura de John Dobbin, representando o comboio na ponte sobre o rio Skerne

A viagem, de cerca de 42 km, chegou a alcançar a impressionante velocidade de 24 km/h, um feito de tirar o fôlego para a época e uma demonstração inegável do potencial do vapor.

Em Portugal, a primeira viagem de comboio realizou-se a 28 de Outubro de 1856. 


Quando o mar explodiu no Faial

 27 de Setembro de 1957

«Momentos após o movimento estranho das águas ser detectado, começam a ser observados fumos de progressiva intensidade a sair do mar. Ao fim do dia, o vapor de água e as cinzas negras atingiam 4000 metros de altitude e eram visíveis de todas as ilhas do grupo central do arquipélago dos Açores. Eram as primeiras manifestações de um vulcão submarino, que se começava a erguer de uma profundidade de cerca de 70 metros.»


«O vulcão dos Capelinhos é ainda hoje um dos mais bem conhecidos e estudados em todo o mundo. Apresenta particularidades únicas. Foi um vulcão observado desde a fase do seu aparecimento como vulcão submarino, para evoluir, posteriormente, para um vulcão terrestre. Com uma actividade invulgarmente longa, cerca de treze meses, o vulcão dos Capelinhos conta-nos a história de como se formaram as ilhas açorianas e também um pouco da história da Terra.»

«Entretanto, ficaram milhares de fotografias da época que nos mostram uma realidade agora distante (...)
O que mais me fascina nessas imagens é a presença das pessoas, a forma como observam o vulcão, como ousam aproximar-se dele; ou os habitantes da área sinistrada, que assistem ao desmoronamento das suas casas e à destruição dos campos agrícolas. Vemos a altura das cinzas a crescer com o passar do tempo. Vemos a violência das explosões do vulcão, sem sentirmos o medo e o pânico dessa ameaça. E esta talvez seja a memória que fica de um vulcão que não matou ninguém, mas que gerou a desordem e o caos e que mudou para sempre a vida de milhares de pessoas.


O vulcão tem a nossa idade, há um pedaço de terra que aparece em 1957 e que cinquenta anos depois já perdeu cerca de quatro quintos da sua massa. A actual fase de erosão intensa é como o dissecar de um cadáver que vai mostrando a sua génese, a matéria do seu ser, a forma como o víramos crescer e agora a transformar-se de novo em pó, a contribuir para a formação de outras rochas, num processo activo e incessante de transformação do solo.
Os processos erosivos, provocados pela acção do mar, do vento e da chuva, vão consumindo o vulcão naquele que continua a ser um invulgar documento vivo da história da Terra.»

Duarte Belo, FOGO FRIO - O vulcão dos Capelinhos





As fotografias do vulcão em actividade são da National Geographic Portugal.
As duas seguintes são do vulcão em 1994-96.
As duas últimas são da Viagem de Finalistas do 9.º 8 da Escola Básica Paulo da Gama (Amora), em 1997.