«A minha secretária é, em certo sentido, a imagem da minha vida. De vez em quando, procuro ceder aos imperativos de uma ordem que nos dirigiria para para a eficácia absoluta, para a economia radical de gestos, para a rigorosa racionalidade de comportamentos. Mas depois, quase sem dar por isso, as coisas entram-me pela secretária como me entram pela vida, sem bater à porta nem procurar poiso certo, entre as ideias do momento e os livros de sempre, a cavalo umas nas outras, como se o espaço lhes fosse pequeno, e isso é talvez porque, na minha vida, o tempo é curto para tanta coisa. Ficam ali, aparentemente esquecidas, pacientes e fiéis companheiras do sono, à espera que um dia um acidente qualquer provoque o acesso de arrumação que inexoravelmente lhes traçará o destino.
Não posso deixar de pensar que algumas dessas coisas mereceriam melhor destino que o cesto dos papéis, se ao menos eu fosse capaz de perceber a linguagem secreta que entre si murmuram, ao longo dos meses em que modesta e silenciosamente coabitam em cima da minha secretária.»
Não sei quem escreveu! Podia ter sido eu (se soubesse!...)
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