«Vais crescendo, meu filho, com a difícil luz do mundo.
Não foi um paraíso, que não é medida humana, o que para ti sonhei.
Só quis que a terra fosse limpa, nela pudesses respirar
desperto e aprender que todo homem, todo, tem direito a sê-lo inteiramente até
ao fim. Terra de sol maduro, redonda terra de cavalos e maçãs, terra generosa,
agora atormentada no próprio coração; terra onde teu pai e tua mãe amaram para
que fosses o pulsar da vida, tornada inferno vivo onde nos vão encurralando o
medo, a ambição, a estupidez, se não for demência apenas a razão; terra
inocente, terra atraiçoada, em que nem sequer é já possível pousar num rio os
olhos de alegria, e partilhar o pão, ou a palavra; terra onde o ódio a tanta e
tão vil besta fardada é tudo o que nos resta; abutres e chacais que do saber
fizeram comércio tão contrário à natureza que só crimes e crimes e crimes
pariam.
Que faremos nós, filho, para que a vida seja mais que a cegueira e cobardia?»
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