"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

domingo, 18 de junho de 2023

Memórias da Mundet na prenda oferecida ao Presidente

O Presidente da República agraciou a Confederação Portuguesa das Micro, Pequenas e Médias Empresas com a Ordem de Mérito, na cerimónia do seu 38.º aniversário.

O evento decorreu no Seixal e o Presidente do município ofereceu uma serigrafia representando a saída da fábrica dos trabalhadores da Mundet, da autoria de Luis Badosa.

Luis Badosa, falecido em 2015, era um pintor catalão radicado em Bilbau.
Em Janeiro de 1999 teve uma exposição no Núcleo da Mundet do Ecomuseu Municipal do Seixal (Edifício das Caldeiras Babcock), exposição essa organizada especificamente para este espaço, então beneficiado com obras de conservação, com trabalhos realizados entre 1980 e 1998.
A exposição explorava uma das mais importantes facetas da pintura de Luis Badosa: a representação de espaços fabris e de paisagens marcadas pela indústria.

Na base da obra encontra-se uma foto dos anos 50 do século XX representando a saída do pessoal da fábrica do Seixal da Mundet & C.ª Lda.


No final dos anos 90, apenas 10 anos passados sobre o encerramento da importante fábrica de cortiça (1988), o sonho era a musealização dos espaços fabris da Mundet (adquiridos pela C. M. Seixal em 1996).
As fachadas voltadas ao rio eram uma imagem de marca.

Hoje, no lugar dos refeitórios (identificados na imagem), um restaurante moderno que de Mundet tem o nome.
No lugar dos restantes edifícios da imagem está em construção um hotel que de Mundet terá, provavelmente, o nome.
Outros valores se levantaram.

O nome Mundet, no interior do espaço antes ocupado pela fábrica, não aparece uma única vez em qualquer planta, cartaz ou sinalização do Parque Urbano do Seixal, entretanto aí instalado (será distração minha?).
Muitos dos antigos trabalhadores da fábrica já, entretanto, faleceram.
Muitas das memórias da fábrica já se perderam.
Muitas das ideias de musealização dos seus espaços ficaram pelo caminho, muito do seu património se perdeu.
Foi-se património material e vão-se as memórias.

Mas a serigrafia oferecida ao Presidente da República remete para esse património e acorda História adormecida.


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