"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

terça-feira, 4 de junho de 2019

Eu nasci em Vila Meã...

«Eu nasci em Vila Meã, que em tempos foi sede de concelho e perdeu o título como os campeões o perdem, menos os santos, que são campeões do amor de Cristo e têm patrono mais fiel do que os juízes deste mundo. Vila Meã, portanto, que cai de surpresa da estrada de Amarante para os lugares airosos de Travanca e de Real. Há outra Travanca, que foi onde viveu Pascoaes e que eu visitei há muitos anos a cavalo, por caminhos serranos e serpentinos onde a poesia se adornava de giestas brancas.

Em Vila Meã, na rua principal e coração da vila, eu nasci num domingo de chuva, às seis horas da tarde. A casa tem fachada que parece anexo do mosteiro de Las Huelgas, de tão ampla e solene. Ali vi o dia, que era, como disse, de chuva pegada. Ainda hoje gosto da chuva e quanto mais diluviosa melhor.»
Agustina Bessa-Luís
26-2-1997
In, Anto, n.º 1, Amarante (Primavera, 1997)



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