"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Introdução à História - Marc Bloch

Começar Agosto a encontrar uma relíquia e a recordar o tempo da descoberta da História.

Esquecido numa estante da livraria, um livro, na sua edição de 1997 (a 1.ª em Portugal):


À ideia, pela proximidade da visita do Papa aos campos de concentração nazis e às imagens passadas, o fim de Marc Bloch.
Historiador francês nascido há 130 anos (6 de Julho de 1886), grande especialista em história medieval, teórico de uma nova corrente da História e fundador da revista Annales d'Histoire Économique et Social, revista símbolo dessa corrente, judeu perseguido pelos nazis/regime de Vichy, que integrou a Resistência e foi preso e fuzilado (em território francês) pela Gestapo, em Junho de 1944.

Introdução à História - título original, Apologie pour l'Histoire ou Métier d'historien - na sua nova edição, revista, aumentada e criticada pelo filho mais velho, Étienne Bloch, a partir da totalidade dos manuscritos deixados, o que permitiu corrigir algumas passagens da edição anterior, da responsabilidade do velho companheiro de Marc Bloch, o também grande historiador Lucien Febvre, a quem a obra foi dedicada.

Obra incompleta, pelas circunstâncias históricas em que se encontrava a ser escrita.
Na dedicatória, redigida em 1941, já Marc Bloch duvidava da própria publicação da obra:
«Se este livro vier, um dia, a ser publicado; se, de simples antídoto ao qual peço hoje, entre as piores dores e as piores ansiedades, pessoais e colectivas, um pouco de equilíbrio da alma, vier a tornar-se jamais num verdadeiro livro, lançado para ser lido (...)»

Da primeira edição portuguesa, guardo o exemplar comprado quando da entrada na Faculdade, com muitas anotações (a lápis, claro!) nas margens, em letra miudinha de estudante "aplicado", cheio de vontade de aprender com o velho mestre.

«"Pai, diga-me lá para que serve a história." Era assim que um rapazinho meu próximo parente interrogava, há poucos anos, um pai historiador. Gostaria poder dizer deste livro que ele é a minha resposta.»
Assim começava.
Adivinha-se que o rapazinho seria o seu filho.
Assim entrei na História, feito filho de Marc Bloch.



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