"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Exames de 6.º ano - Acho que vem aí borrasca!

Depois do Presidente de um órgão como o Conselho Científico (CC) do Instituto de Avaliação Educativa (IAVE) ter explicado como se podem manipular resultados, em média, mais altos ou mais baixos, através da simples alteração da formulação de uma ou duas perguntas e/ou das cotações dos vários itens, pode-se questionar a realização de todos os exames e os seus resultados e a sua utilidade.
As candeias às avessas entre CC do IAVE e Ministério, desde a realização das Provas de Acesso à Carreira, deram palco a um diferendo que coloca tudo em causa.

Diz o Presidente do CC do IAVE que o Ministério deu indicações para que se mantenha a "estabilidade dos resultados" dos exames em relação aos anos anteriores, porque é difícil de explicar, socialmente, as variações das notas.

Diz o Ministério que é mentira, que apenas quer "uma estabilidade dos instrumentos de avaliação", para que seja possível a comparação entre resultados dos diferentes anos lectivos. 
Mas a verdade é que as comparações não serão tão directas, atendendo às alterações curriculares e a introdução das metas, com uma linguagem que é um tipo de "eduquês" com novo dono.

Também não deixa de ser curiosa a diferença de análise das provas de Matemática feita pela Sociedade Portuguesa de Matemática (de onde é oriundo o Ministro da Educação) e pela Associação de Professores de Matemática.

Eu, simples professor, sobrevoado ou ultrapassado por estas mensagens trocadas, questiono qual será a estratégia mais útil que os professores devem seguir nas escolas: apostar na preparação dos alunos para as provas de exame ou trabalhar o desenvolvimento das suas competências, atendendo às características desses alunos e às suas dificuldades (incluindo as comportamentais), independentemente das provas de exame.

A opção a fazer está condicionada pela repercussão indirecta dos resultados dos exames.
E o que não será lícito é que as escolas possam ser penalizadas na sua avaliação externa e na atribuição de horas de crédito em consequência do grau de afastamento dos resultados dos exames em relação aos da avaliação interna. Cada escola ou agrupamento é uma realidade diferente e a avaliação interna não pode ignorar, nestes níveis de escolaridade, os comportamentos e atitudes dos alunos (não avaliável nos exames).

E, não sendo professor de Matemática, ao analisar leigamente as provas realizadas, ontem e hoje, pelos alunos do 4.º e 6.º anos de escolaridade, pensando no nível dos alunos do meu agrupamento de escolas, ainda mais preocupado fiquei. Acho que vem aí borrasca.

As provas pareceram-me difíceis, pelo que exigiam de interpretação dos enunciados. 
A vice-presidente da APM considera que "o tipo de perguntas colocadas não terá facilitado a tarefa destes alunos. Tem muitas questões que não são imediatas, mas de difícil interpretação. Não sabemos até que ponto perceberam o que se perguntava e o que estava em causa”.
Os alunos têm uma grande dificuldade em compreender/pensar este tipo de enunciados. 
Pode ser que em escola com alunos de outros estratos sociais, estes consigam. Mas há diferenças abissais entre escolas/ambientes sociais condicionadores das aprendizagens.

O presidente da SPM fala em “perguntas fora de habitual, sobre temas do novo programa". E se as considera fáceis, olhando, por exemplo para a pergunta 4.2 da 1.ª parte da prova do 6.º ano, acho que é bem difícil, chegando-se à resposta por tentativa e erro, o que me parece uma aberração.
Mas, se calhar, sou eu, que não sou professor de Matemática.


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