"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Cupressus lusitanica

«É através de ti, ó Árvore
que celebro os esponsais entre mim e a Natureza
É através de ti que bebo
a nuvem fresca e mordo a terra ardente.
É de ti que recebo as leis do Amor e da Beleza
Amo-te, ó árvore, apaixonadamente!»
          António Gedeão, Máquina de Fogo

As florestas, nomeadamente as mais antigas,constituem um importante património cultural.
Em Portugal, existem áreas florestais que são disso o exemplo.

Cedro do Buçaco
(fotografia do acervo do Eng. José Neiva Vieira)
Das "florestas" afectadas pelas ventanias do último fim de semana, as duas em que as consequências parecem ser mais graves são a do Parque da Pena (Sintra) e a da Mata Nacional do Buçaco.
Nesta última, "o mais belo bosque de Portugal", o seu ex-libris - o chamado Cedro do Buçaco - foi atingido, dele restando "um tronco e um pequeno ramo de pé".
Trazido da América Central (das montanhas do México, Guatemala ou Costa Rica), foi ali plantado, provavelmente em 1644 ou poucos anos antes, pelos Carmelitas Descalços, a quem o bispo de Coimbra, D. João Manuel, doara a mata, em 1626.
E o cedro (ou cipreste - parece que as diferenças são mínimas e as confusões muitas) lá pegou de estaca, ao lado da Ermida de S. José, sendo também conhecido pelo cedro de S. José. Bem tratado pelos monges, cresceu no ambiente místico da mata, destacando-se pelo porte: o perímetro do seu tronco atinge (ou atingia) cerca de 5,5 metros.

Das outras árvores exóticas e igualmente centenárias introduzidas pelos Carmelitas, e que também terão sido afectadas, não reza tanto a história.
Quanto ao nosso cedro (ou será cipreste?), já referenciado pelo botânico de Luís XIV (J. P. Tournefort) e que enganou o naturalista Philip Miller ganhando o epíteto de lusitano (Cupressus lusitanica), espera-se que se consiga aguentar, mesmo que fragilizado. Como dizia um jornalista, "enquanto existirem folhas verdes, há esperança". Caso contrário, será um ex-ex-libris.

Em 1859 foram plantados mais de mil exemplares
de Cupressus lusitanica a marginar os arruamentos

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