"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

sexta-feira, 4 de março de 2011

Fialho dos Gatos e das Uvas

Morreu há 100 anos José Valentim Fialho de Almeida, natural da alentejana Vila de Frades. "Eterno insatifeito", cronista e contista socialmente crítico, de palavra fácil e corrosiva.
«Assuntos torpes não podem ser tratados em linguagem virginal, e é bom que se saiba que quem maneja a pena deve ter do papel de escritor noção mais estridente do que espremer frases cândidas para entretenimento de madamas que vão à Trindade aplaudir o Parfum, como cocottes

Raúl Brandão dirá que "se o virassem do avesso, escorria ternura". Mas, como escreveu o próprio Fialho na entrada de Os gatos, «Deus fez o homem à sua imagem e semelhança, e fez o crítico à semelhança do gato. Ao crítico deu ele, como ao gato, a graça ondulosa e o assopro, o ronrom e a garra, a língua espinhosa e a câlinerie. Fê-lo nervoso e ágil, reflectido e preguiçoso; artista até ao requinte, sarcasta até à tortura, e para os amigos bom rapaz, desconfiado para os indiferentes e terrível com agressores e adversários.»

A sua linguagem é que, em tempos de vocabulário curto e semântica estreita, não facilita que se afague "o gato".
Fialho de Almeida caricaturado por Vasco


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