"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

quarta-feira, 3 de julho de 2024

Franco Charais, Capitão de Abril

Continuando o que já parece uma secção de necrologia...

Morreu Franco Charais, mais um dos militares de Abril (e já agora, do 25 de Novembro... de que a direita não se lembra!) 

Franco Charais foi um oficial de Artilharia que esteve fortemente envolvido no 25 de Abril. Integrou a Missão Coordenadora do MFA, colaborou na redacção do Programa do MFA, integrou o Conselho de Estado, fez parte do Conselho da Revolução, foi comandante da Região Militar Centro e foi um dos subscritores do chamado “Documento dos Nove”.


Franco Charais entre Vasco Gonçalves e Melo Antunes


terça-feira, 2 de julho de 2024

Espectáculo!

«O espectáculo de Cristiano Ronaldo é imparável e reduz os outros jogadores a atores secundários. Neste mundo de adoração de celebridades, ganhar partidas de futebol parece uma preocupação secundária. É tudo sobre Ronaldo.

Tudo em Portugal é reduzido a Cristiano Ronaldo. O futebol português tornou-se o grande psicodrama do seu envelhecimento. Diogo Costa pode ter defendido três penáltis no desempate (3-0), mas mesmo assim só se fala de Ronaldo.»

Ao que dizem, isto foi escrito por Jonathan Wilson, jornalista do The Guardian.
A ser verdade, foi bem escrito.


Dias de luto nacional... e panteões

Os dias de luto nacional, como se costuma dizer, valem o que valem.

Mas por que razão Manuel Cargaleiro, artista consagrado, mereceu a consideração do decreto de luto nacional e Fausto, artista consagrado, não mereceu?

Porque era "mais à esquerda" e este Governo é "mais à direita"?

Quais são os critérios?

É como a ida para o Panteão. 
Uns presidentes, um candidato a presidente, uns escritores, uma fadista, um futebolista... Que critério para panteonar?
E a saga em torno dos restos mortais do Eça... O próprio seria capaz de escrever um bom romance com base nela (na qualidade de morto já viajou de Paris para Lisboa e da capital para Santa Cruz).
E tem que se pensar em deixar espaço para os futuros panteonáveis: Cavaco, Ronaldo...


segunda-feira, 1 de julho de 2024

Dia Mundial das Bibliotecas


«Os livros dotam uma divisão de uma identidade particular que pode, em alguns casos, usurpar a do proprietário - uma peculiaridade bem conhecida de personalidades estúpidas que exigem ser retratadas com uma parede coberta de livros em fundo, na esperança de que eles lhes concedam um lustre de erudição.»

Alberto Manguel, A biblioteca à noite


Morreu o Fausto!

"Soube escutar as marcas de referência da nossa identidade enquanto povo, enquanto cultura" (Nuno Galopim) 

Nome grande da música portuguesa, dos compositores mais criativos partindo da música tradicional portuguesa ou de ritmos africanos (Fausto viveu em Angola até aos 20 anos).

A ele se deve um dos melhores discos de sempre da música portuguesa: Por este rio acima, primeiro duplo da trilogia Lusitana Diáspora, a que se seguiram Crónicas da terra ardente e Em busca das montanhas azuis, o último disco de originais que gravou (e que eu continuo a procurar, como já disse aqui , quando Fausto completou os 75 anos). Com essa trilogia podemos dizer que Fausto se tornou o Fernão Mendes Pinto da nossa música.

"Era um grande criador, intérprete, criador de letras e músicas e criou um universo próprio, muito pessoal e muito personalizado. A gente consegue dizer aquela canção é do Fausto porque de facto ele tinha um carimbo" (Sérgio Godinho)

Lembro-me de ter conhecido a sua música logo após o 25 de Abril de 1974, com o LP P'ró que der e vier, que terá sido acabado de gravar uma semana antes dessa data. 

Era o tempo das canções de intervenção, de "luta pura e dura" (Venha cá sr. burguês, O patrão e nós, P'ró que der e vier...), altura em que Fausto esteve envolvido na criação do GAC (Grupo de Acção Cultural - Vozes na Luta), com José Mário Branco, Afonso Dias e Tino Flores, entre outros, embora não se tenha demorado no grupo. Aí compôs O poder aos operários e camponeses, cuja letra é exemplo da cantiga como arma.

Fausto no I Encontro da Canção Portuguesa, 29 de Março de 1974

Eu pego na minha viola
e canto assim
esta vida
a correr
eu sei que é pouco e não consola 
nem cozido à portuguesa há sequer
quem canta sempre se levanta
calados é que podemos cair
com vinho molha-se a garganta
se a lua nova está p'ra subir
que atrás dos tempos vêm tempos
e outros tempos hão-de vir

Atrás dos tempos, de Madrugada dos trapeiros (1977)



Deixa uma marca como poucos deixam...
Memórias
(que me lembram sonhos lindos)
Ao som do mar e do vento