"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

quarta-feira, 31 de julho de 2013

A Casa da Cerca, de S. Pedro do Estoril

Conhecia a referência à "Casa da Cerca", em S. Pedro do Estoril, como o local em que se reuniram, no dia 24 de Novembro de 1973, os elementos das comissões Coordenadora e Consultiva do Movimento das Forças Armadas, e onde se contava, pela primeira vez, com a presença de patentes mais elevadas, como os tenentes-coronéis.
E, a crer nos relatos, foi de um tenente-coronel, Luís Ataíde Banazol, que se ouviram as palavras mais entusiastas em relação ao Movimento e o apontar do caminho possível para a reconquista do prestígio perdido pelas Forças Armadas: o derrube pela força do Governo de Marcelo Caetano, através de um golpe militar - a revolução e o fim da guerra colonial.
Mas, agora, eu só queria chegar à casa, porque, morando perto, não sabia onde ficava e, depois de saber, não conhecia a sua história.

Pensava que o "casarão" de que falava Otelo Saraiva de Carvalho pertencia à Colónia Balnear Infantil de O Século (e muita gente pensa isso).
Mas a propriedade era privada, pertencendo a uma família de origem "conservadora, de antecedentes monárquicos e profundas convicções católicas, com ligações de amizade pessoal a numerosas figuras proeminentes do regime salazarista."
Antiga fábrica de conservas de sardinha, tinha sido comprada por essa família, em 1943, para no terreno construir uma nova casa, com vista para o mar. Mas a construção não estava autorizada e o edifício só foi recuperado.

Foi um neto do comprador da casa que a cedeu para a reunião, mais por amizade "militar" com organizadores da reunião do que por motivações políticas.
Motivações políticas tinha a sua irmã, Maria da Fonseca Ribeiro, que já utilizara a casa para esconder propaganda, sem o irmão saber.
E o irmão, tal como os organizadores da reunião, também não sabiam que ela fora presa pela PIDE na véspera da reunião. Levada para Caxias, foi interrogada durante 8 dias. À hora a que a reunião decorreu M.ª da Fonseca Ribeiro estava a ser interrogada. E da casa de S. Pedro não falou.

A casa foi adquirida, em 1988, por um construtor. Parece que terá passado para a posse da Câmara de Cascais. O estado em que se encontra é o que se vê: tristemente em ruína.

Casa da Cerca, S. Pedro do Estoril
(foto tirada do comboio)

1 comentário:

  1. (Como em ruína estão moralmente os daí e os daqui que nos desgovernam. Mas gostei de saber mais sobre a vossa história, eu que sou uma apreciadora das tantas que contas aqui... )

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