"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Neil Young, 80 lá cantam!...


Neil Young, figura icónica na história da música das últimas décadas, com uma das trajectórias mais autênticas, comemora hoje o seu 80.º aniversário.
Mantendo o espírito rebelde, ainda se encontra bem activo.

Keep on rockin' in the free world!


O jovem Neil (1971) cantando Old man look at my life...


sexta-feira, 7 de novembro de 2025

A importância de Sintra para o preço do cabaz alimentar...

Querer ser minimalista nas notícias dá nisto: uma mixórdia de temáticas!... 
Esta forma de informar deixa muito a desejar!... 

É criada a ideia de que o preço do cabaz alimentar voltou a subir pelo facto de o IL ter retirado a confiança política à vereadora de Sintra.


Joni Mitchell, 82.º aniversário

Joni Mitchell é a minha grande paixão musical pós-adolescência.

Só a conheci verdadeiramente em Shadows and Light, duplo álbum ao vivo, gravado em Setembro de 79 e editado um ano depois.

E que maneira de a conhecer, na sua fase mais jazzy, num disco que reúne um conjunto significativo das melhores canções dessa fase.

Já este ano - Setembro! - foi editada uma compilação de músicas suas (caixa de 4 CDs ou 8 LPs): Joni Mitchell Jazz, de homenagem a Wayne Shorter, que iniciou a sua colaboração com Joni em Don Juan's Reckless Daughter (1977).   

O disco inclui Summertime, gravado ao vivo no Newport Folk Festival, em Julho de 2023. Com quase 80 anos, Joni Mitchell regressara a este festival após a recuperação de um aneurisma cerebral que lhe afectara a fala (2015). 

Recupero Stormy Weather... Será uma das poucas interpretações em que não canta composições suas.


Muitos anos de vida para Joni Mitchell, com saúde e música!


Acumulações

Não consigo compreender como é que um Ministro pode/consegue/tem vontade de acumular esse cargo com outro(s) que, a meu ver, também têm um certo grau de exigência.

Não chegará a Fernando Alexandre toda a panóplia de problemas que a pasta da Educação lhe oferece?

Por muita capacidade de trabalho que tenha, não acredito numa dedicação ao exercício daquelas funções que não seja a 100%.

Não havia necessidade!
E não tem nada a ver com aquilo que muitas pessoas consideraram logo como sendo "uma acumulação de tachos", uma visão muito popular.


Formas de contrariar a desertificação do interior


Povoá-lo com painéis solares e paquidermes...


quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Não há nada a fazer

«A minha secretária é, em certo sentido, a imagem da minha vida. De vez em quando, procuro ceder aos imperativos de uma ordem que nos dirigiria para para a eficácia absoluta, para a economia radical de gestos, para a rigorosa racionalidade de comportamentos. Mas depois, quase sem dar por isso, as coisas entram-me pela secretária como me entram pela vida, sem bater à porta nem procurar poiso certo, entre as ideias do momento e os livros de sempre, a cavalo umas nas outras, como se o espaço lhes fosse pequeno, e isso é talvez porque, na minha vida, o tempo é curto para tanta coisa. Ficam ali, aparentemente esquecidas, pacientes e fiéis companheiras do sono, à espera que um dia um acidente qualquer provoque o acesso de arrumação que inexoravelmente lhes traçará o destino.

Não posso deixar de pensar que algumas dessas coisas mereceriam melhor destino que o cesto dos papéis, se ao menos eu fosse capaz de perceber a linguagem secreta que entre si murmuram, ao longo dos meses em que modesta e silenciosamente coabitam em cima da minha secretária.»

Não sei quem escreveu! Podia ter sido eu (se soubesse!...)



Peter Hammill, 77.º aniversário

A data explica o escorpião do seu ex-libris. 

Camaleão na sombra da noite, a sua voz muda da recitação para o murmúrio, para o grito, para a declamação... Teatral, também o timbre varia. 

Alguém apelidou as suas canções de "baladas dramático-sinfónicas".   

In the end

Prometo-te, não deixarei pistas:
nem denúncias, nem pegadas dos sapatos.
Quieta, uma vereda segura até à beira d'água -
manterei a minha palavra até ao fim:
tenho a intenção de ser livre.

(...)

Quando a minha boca se cansa
e não posso apelar para outra música,
deverei então olhar para trás e dizer
que fiz tudo
demasiado cedo?


segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Lô Borges (1952 - 2025) e o Clube da Esquina

Era numa esquina que adolescentes se reuniam para conversar ou tocar violão. 

Naqueles clubezinhos surgiam amizades para a vida inteira. Lô Borges, ainda adolescente, ficava horas com os amigos numa esquina próxima do prédio onde morava, com o seu irmão, Márcio, Milton Nascimento e outros. Era na esquina das ruas Divinópolis e Paraisópolis, no bairro de Santa Teresa, em Belo Horizonte, durante a década de 1960.


Desses encontros e dessas amizades nasceram os duplos álbuns Clube da Esquina (n.º 1 e n.º 2 - 1972 e 1978). O nome do grupo de amigos-músicos, que viria a ser o dos dois discos, foi posto pela mãe dos irmãos Borges (D. Maricota). 

«O disco Clube da Esquina foi um momento de grande criação de Milton, ele estava numa fase muito criativa, eu, iniciando a minha fase de compositor, muito criativa também, e acho que o grande barato desse disco, o que chamou atenção desse disco, até no mundo inteiro, foi exatamente esta mistura.» (Lô Borges). 

Lô Borges e Milton Nascimento

A sua música era, também, uma mistura de diferentes estilos. Muitos dos músicos envolvidos continuaram a colaborar e a criar música juntos.


O grupo e os discos tornaram-se emblemáticos.


Ontem morreu um dos fundadores do Clube da Esquina, o caçula Lô Borges. 


sexta-feira, 31 de outubro de 2025

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Sá Carneiro - Exposição do arquivo Ephemera

Foi hoje inaugurada, no espaço Lisboa Social Mitra, a exposição Francisco Sá Carneiro, do arquivo Ephemera.
A exposição, que pode ser visitada até 31 de Janeiro, com entrada gratuita, revela documentos inéditos que permitem conhecer aspetos e curiosidades, até agora desconhecidas, da biografia de Francisco Sá Carneiro.





segunda-feira, 27 de outubro de 2025

José Rodrigues Miguéis - Uma placa para assinalar prédio em que nasceu

Foi hoje descerrada uma placa a assinalar o prédio em que nasceu o escritor José Rodrigues Miguéis, sobre cuja morte passaram, exactamente, 45 anos.

Recordo o que já escrevi há uns anos.

Depois de uma história rocambolesca - mas parece-me que não tanto como a dos direitos de autor sobre a sua obra... - em que Teresa Martins Marques e Eduardo Cintra Torres tiveram um papel central, uma placa metálica lá está, finalmente!, junto à entrada dos números 12 e 14 da Rua da Saudade (uma entrada para dois prédios),  freguesia de Santa Maria Maior, Lisboa, para assinalar que naquela casa nasceu José Rodrigues Miguéis.

Devia ser dito: nas águas-furtadas do n.º 12.

Uma frase de A Escola do Paraíso acompanha a informação básica.


O descerrar da placa por Teresa Martins Marques, 
autora de uma recente biografia de José Rodrigues Miguéis -
Nos passos de José Rodrigues Miguéis - Uma biografia como um romance 


A singela homenagem atrapalhou a saída do prédio de uma família de turistas, agora que o edifício (ou quase todo ele) funciona como Alojamento Local.
Aliás, a instalação da placa metálica foi a alternativa possível à não autorização da empresa proprietária do edifício para nele afixar uma lápide.
O imóvel seria desfeiado e, pasme-se, desvalorizado!
L'argent avant la culture...


Estratégias de gestão

Nunca mais o INEM terá problemas no seu funcionamento!...

O que não faz uma Autoridade?


Democrata por natureza

«Eu sou democrata por natureza, mas há uma expressão que se ouve muito e que faz sentido: não era preciso um Salazar, eram precisos três Salazares, porque o país está tão podre de corrupção, impunidade e bandidagem que seriam necessários três Salazares para pôr isto na ordem.»

Da entrevista de André Ventura a Clara de Sousa, na SIC, a generalidade dos comentadores destacou a afirmação da necessidade de 3 Salazares. Eu destaco o início da frase. Essa é que é a novidade!...
Da vontade das limpezas já nós sabíamos.


O resto... siga o Carnaval!...
Portugal está feito um país tropical, "bonito por natureza".



domingo, 26 de outubro de 2025

João Queiroz (1957 - 2025)


Na semana que passou, semana de muitos desaparecimentos de gente conhecida e respeitável, faleceu, também, João Queiroz, pintor e desenhador.

Meu colega na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, começou a expor pintura e desenho no início dos anos 80, enquanto ainda estudava Filosofia.

Esteve ligado ao ensino da arte plástica, exposições foram muitas, prémios também os ganhou...

Morreu na véspera de Bernardo Pinto de Almeida apresentar, na Fundação de Serralves, o documentário João Queiroz – Instruções para subir a uma montanha, que resulta de uma conversa com o artista, e o livro João Queiroz A Substância da Paisagem, ambos da sua autoria.

Segundo o crítico, “João Queiroz é um dos grandes Artistas portugueses das últimas décadas. Afirmado nos finais dos anos 80 do século XX, viu a sua obra crescer desde então para um pleno que faz dele um dos mais originais, inteligentes e misteriosos Artistas da nossa contemporaneidade. Reconhecido pela crítica, é, ainda assim, pelo seu temperamento discreto, menos conhecido do público, apesar de figurar nas principais Colecções institucionais portuguesas e algumas internacionais." 


As coisas não estão completamente definidas. Não há uma ideologia anterior capaz de definir o mundo tal como ele é atualmente. A indeterminação que permanece no quadro tem a ver com essa indeterminação que eu penso que existe nas coisas que nos rodeiam. (João Queiroz)


Mais exposto ao público terá sido o trabalho de pintura que fez para os cenários do filme de António Botelho, Os Maias: Cenas da vida romântica (2014).  


Tenho com ele uma história inesquecível do tempo em que estivemos juntos na direcção da Associação de Estudantes - coisas da inconsciência da juventude, quando assumimos ter recebido 200 contos... que só recebemos, de facto, quinze dias mais tarde! Durante esse espaço de tempo, quando nos cruzávamos, nem dizíamos nada! Só sentíamos o aperto do medo... de que não nos chegassem a pagar.
Onde iríamos buscar 200 contos?


quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Laborinho Lúcio (1941 - 2025)

Álvaro Laborinho Lúcio foi muita coisa na sua vida, mas sobretudo um cidadão interveniente com valores humanos. 

«Imagino um mundo melhor a partir de uma inequívoca aposta na pessoa humana.»

Dos vários cargos que desempenhou, sentia-se mais realizado com os 10 anos em que esteve à frente do Centro de Estudos Judiciários. 

Não deixando o tom optimista, não deixava de manifestar uma profunda preocupação com a situação social e política actual.

«Estamos a criar a exponenciação do individualismo. De cada um se desinteressar da coisa pública, de não participar activamente na vida pública comum. Vivemos uns com os outros, não vivemos juntos. Estamos muito fechados sobre nós próprios, muito ligados a uma ideia de individualismo, muito consumista. E conflituante. É o ter mais que o outro, independentemente da qualidade do que se tem.»

Estão a desaparecer os (verdadeiros) sociais-democratas.

Sobram-nos os arrivistas abastardados.


sexta-feira, 10 de outubro de 2025

John Lodge (The Moody Blues)

Morreu John Lodge, baixista e uma das vozes dos Moody Blues.

John Lodge integrou a formação clássica dos Moody Blues, a mais conhecida, com a gravação de Days of Future Passed (1967), contribuindo para a via mais psicadélica e progressiva da banda.


I’m just a singer (in a rock’n’roll band)


Uma medida prioritária da União Europeia


terça-feira, 7 de outubro de 2025

43 anos por este rio acima...

Dizem que faz hoje 43 anos que foi lançado um dos melhores discos de sempre da música portuguesa...



Hediondo(s) terrorismo(s)

Assinalam-se hoje 2 anos de um acto hediondo de terrorismo.

Seguiram-se quase 2 anos de hediondo terrorismo de Estado.


Fernando Paulouro (1947 - 2025)

Li, há dias, a notícia de que presidiria à Comissão de Honra do jornal de que foi director (creio que entre 2002 e 2012, sucedendo a seu tio, António Paulouro, fundador do jornal), depois de já ter sido seu jornalista e chefe da redacção.

O nome Paulouro está no ADN do Jornal do Fundão e associado a uma história de luta e resistência que chegou a custar a suspensão do jornal durante 6 meses, no período do Estado Novo.

Poucos jornais fora do círculo das cidades de Lisboa e do Porto terão tido a qualidade jornalística e o destaque que o Jornal do Fundão conquistou.


Hoje, leio a notícia da sua morte.

Fiquei a saber que, no Domingo passado, Fernando Paulouro apresentara o seu último livro, As Sombras do Combatente, numa sessão realizada na Biblioteca Eugénio de Andrade (Fundão).

Essa sessão, realizada numa sala repleta, terminou com a sua leitura do poema Os Amigos, do poeta que dá nome à biblioteca.

Os amigos amei
despido de ternura
fatigada;
uns iam, outros vinham;
a nenhum perguntava
porque partia,
porque ficava;
era pouco o que tinha,
pouco o que dava,
mas também só queria
partilhar
a sede de alegria -
por mais amarga.

Os amigos de Fernando Paulouro despediram-se com uma emocionada ovação.

Fica o exemplo, num tempo em que a dignidade faz falta no jornalismo.


quinta-feira, 2 de outubro de 2025

José Cardoso Pires - centenário do nascimento


Um centenário completamente esquecido, à excepção da adaptação para cinema de Lavagante.

«E não há dúvida de que o regime passa muito bem sem os escritores. Os escritores são sempre uma espécie de tolerados, de animais marginais, que servem para dourar a festa quando é preciso e mais nada.» 
(José Cardoso Pires em entrevista a Mário Ventura, não datada, mas que deverá ser do princípio da década de 80)

José Cardoso Pires (1925 - 1998) pintado por Júlio Pomar, em 1954


Não podemos desistir das utopias

Manifestação por Gaza, hoje em Lisboa


quarta-feira, 1 de outubro de 2025

segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Dia de S. Miguel

Hoje é dia de S. Miguel, um dos dias em que, na Idade Média portuguesa, se costumava pagar os tributos.

A economia medieval baseava-se em relações de dependência, onde os artesãos, os comerciantes e, sobretudo, os camponeses, sustentavam a nobreza e o clero através de diversos tipos de tributos. Estes, para além de serem muitos, eram elevados, variando conforme os acordos feitos. Enquanto os senhores cobravam taxas sobre a terra e o trabalho (algumas pagas em géneros), os reis impunham contribuições para financiar as guerras e administrar os seus reinos. A Igreja, por sua vez, exigia o dízimo (o “Tostão de Pedro”), consolidando o seu poder espiritual e material.

«O sistema tributário medieval era um espelho da hierarquia social, onde cada camada da população tinha obrigações específicas para com seus superiores.» Marc Bloch, A Sociedade Feudal