"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

domingo, 7 de abril de 2013

"O que hoje não sabemos, amanhã saberemos"

Há algum tempo, durante um jantar com universitários americanos, estes colocaram em causa o que Onésimo Teotónio Almeida afirmava sobre o contributo português para a história da ciência, o seu papel, no século XVI, na expansão da mentalidade empírica. «Desculpe lá, mas o seu nacionalismo está aí a saltar-lhe ao de cima e a fazê-lo encher de ficção essa fabulosa história.»
Será preciso fazer muito para que a historiografia universal faça esse reconhecimento e altere “a sua narrativa” tradicional quanto ao nascimento da ciência moderna.
Como escreveu Francis Bacon (1620): «Seria lamentável se, neste nosso tempo em que as regiões do globo material foram abertas e reveladas, o globo intelectual permanecesse encerrado dentro dos estreitos confins das antigas descobertas.»

O seu alcance será limitado no público a que se destina, mas a exposição 360º Ciência Descoberta, na Fundação Calouste Gulbenkian, responde ao desafio enunciado. A exposição centra-se na ciência ibérica do período das grandes viagens oceânicas dos séculos XV e XVI, dando a conhecer “desenvolvimentos científicos e técnicos dos ibéricos no período dos descobrimentos, mas também o impacto que essas mudanças provocaram na ciência europeia.”
«A exposição procura mostrar como o encontro com Novos Mundos permitiu também descobrir uma Nova Ciência.»
Esperemos que com o novo paradigma da historiografia científica, esta ganhe uma visão que apreenda o dinamismo da actividade científica e se atinja a compreensão de como “as ideias e as práticas científicas se adaptam e transformam em diferentes contextos históricos e geográficos, e como essas alterações modificam os usos e os conteúdos da própria ciência.”
Aceite-se o convite para percorrer registos da maravilhosa aventura ibérica, e que o façamos através do “olhar renovado com que os historiadores de hoje examinam e descrevem o passado da ciência.”
Acredite-se, como acreditava Garcia de Orta, que "O que hoje não sabemos, amanhã saberemos."

Citações retiradas de:
Onésimo Teotónio Pereira, Utopias em Dói Menor
360º Ciência Descoberta - Catálogo da Exposição




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