"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

terça-feira, 2 de abril de 2013

Ceia

Na fase pós-Páscoa, uma Ceia, pintura mural na pequena capela de Vale da Castanheira, próximo de Chaves.


A pintura popular - a fé - genuína (nada a ver com restauros falhados!...)
Em primeiro plano, à direita, parece que há uma mão sem apóstolo...

O verdadeiro pão tem alegria!
Tem o saibo da terra e a luz do sol!
E é de todos!
E há-de acalmar a mão,
se é realmente o pão
da pele, dos ossos e do coração!

E depois dele há-de ficar no sangue
um desejo sem fim de amar a vida!
Mas amá-la na seiva, no mais fundo,
no mais branco do mundo,
lá onde ela se estrema, recolhida!

Há-de correr nas veias
uma onda de paz.
E as horas, depois,
longas e fundas como o azul do mar,
hão-de ser puras e de cada um.
A chorar,
a sorrir,
cada qual há-de poder passar,
e chegar, se tinha verdadeiramente onde ir!

(...)
Miguel Torga


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