Kubrick foi o fotógrafo, não o fotografado |
"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)
terça-feira, 30 de abril de 2013
Kubrick no Castelo de S. Jorge
Gente amiga lembrou que, em 1948, também Stanley Kubrick foi ao castelo de S. Jorge.
2.º Dia Internacional do Jazz
Jazzzzzzzz...
Património imaterial
John Coltrane começa a aparecer por aqui... anualmente.
Do Castelo a Alfama
domingo, 28 de abril de 2013
O sorriso
Creio que foi o sorriso,
o sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso.
Eugénio de Andrade, O outro nome da terra
Semana do Pastel de Bacalhau
Mas também nem todos os devem comer. Saibam porquê:
«O bacalhao, que he huma especie de pescada, mais duro, e de peior alimento que ella, coze-se difficultosamente, gera humores melancólicos, e mal depurados das suas partes excrementícias. He o alimento dos pobres, e dos rusticos; he proprio pera pessoas que trabalhão, e se exercitão muito. Não se deve usar em pessoas delicadas, nem nas que passão vida sedentária.»
Dr. Francisco da Fonseca Henriques, médico de D. João V
Eu confesso-me rústico.
sexta-feira, 26 de abril de 2013
Guernica
A aviação foi utilizada, pela primeira vez, como tecnologia militar de destruição massiva.
A Legião Condor, nome dos contingentes da Força Aérea do III Reich que, em Espanha, apoiavam os nacionalistas, por ordem do general Franco, bombardeou Guernica no seu dia de feira. Esta cidade basca ficou quase completamente destruída, tendo morrido milhares de civis.
Picasso imortalizou-os com a sua Guernica, quadro exibido pela primeira vez na Exposição Internacional de Paris, ainda em 1937. Era um grito contra os sanguinários acontecimentos da guerra civil de Espanha.
Guernica em exposição, nos anos 40 |
A medição da beleza da Lua
Nascer da Lua - ontem |
Imagino que se trata de uma conclusão brilhante (como o luar) de um estudo iluminado (pelo luar).
São estudos assim que fazem avançar a ciência (lunar).
Talvez por modéstia ou timidez (ou por causa do discurso de Cavaco Silva), a lua ter-se-á eclipsado parcialmente, ontem.
Mas eu já só fui a tempo de a ver inteirinha e de concluir, após investigação, que a Parede tem uma Lua Cheia equivalente em beleza à de Lisboa. Pelo menos...
Pôr-da-Lua - já hoje ao amanhecer |
quinta-feira, 25 de abril de 2013
25 de Abril de 1974
Para os devidos efeitos didácticos e memoriais, podemos encontrar um largo número de fotografias dos acontecimentos do 25 de Abril da autoria de Alfredo Cunha (o grande fotógrafo da revolução), disponibilizados aqui.
25 de Abril sempre, e hoje ainda mais
«(...) o caminho seguido pelo governo para o objectivo de cumprimento do memorando da troika (...) não teve em conta qualquer preocupação em salvar um quantum da economia nacional, desprezou os efeitos sociais do “ir para além da troika”, não deu importância a qualquer entendimento social e político, vital em momentos de crise. Foi um caminho de pura engenharia social, económica e política, prosseguido com arrogância por uma mistura de técnicos alcandorados à infalibilidade com políticos de aviário, órfãos de cultura e pensamento, permeáveis a que os interesses instalados definissem os limites da sua política. Quiseram servir os poderosos com um imenso complexo de inferioridade social, e mostraram sempre (mostrou-o de novo o primeiro-ministro ontem), um revanchismo agressivo com os mais fracos.
Pensaram sempre em atacar salários, pensões, reformas, rendimentos individuais e das famílias, serviços públicos para os mais necessitados e nunca em rendas estatais, contratos leoninos, interesses da banca, abusos e cartéis das grandes empresas. Pode-se dizer que fizeram uma escolha entre duas opções, mas a verdade é que nunca houve opção: vieram para fazer o que fizeram, vieram para fazer o que estão a fazer.
Por isto, hoje, os cravos estão descoloridos e oferecem um ténue perfume.
Mas (aproveito as palavras de Torga) somos "obrigados a andar para diante, forçados pela realidade. A hora de sim ou sopas. De total rotura e mudança. Basta de remendos num pano podre. E o capitalismo só remenda farrapos. Quanto mais tem, mais quer. E quanto mais promete, menos dá."
Miguel Torga, Diário XVI
Escrito a 6 de Junho de 1993, encontrava-se Miguel Torga na fase final da sua vida, este excerto foi retirado de uma das entradas do seu Diário em que o tema central eram as eleições espanholas, ganhas pelo PSOE com uma margem apertada. Em Portugal era 1.º Ministro Aníbal Cavaco Silva.
Ouvi, hoje, que Espanha passou os 6 milhões de desempregados.
Faz falta um 25 de Abril Ibérico.
Para podermos viver o seu espírito e não ficarmos pelas recordações.
quarta-feira, 24 de abril de 2013
O último cafezinho na D. Amélia
Foi, durante uns aninhos e até hoje, o lugar do cafezinho de quem chegava ou de quem deixava o Seixal via Tejo.
O café tinha o calor e o aroma da boa disposição, de um sorriso de simpatia e de dois dedos de conversa, os possíveis para quem não podia perder o barco ou a camioneta.
Fechou hoje - opção de vida. Que a opção seja feliz (mas que vai sentir a falta... estou convencido).
Foi com a minha amiga Cristina que me habituei a parar no quiosque da D. Amélia, mas foi com a minha amiga Helena que tomei ali, hoje de manhã, o meu último cafezinho.
Nos próximos tempos, à saída do barco, como animal de hábitos, ainda imbicarei, de certeza, para o quiosque antes de me lembrar que ali já não servem um café caloroso e com aroma.
terça-feira, 23 de abril de 2013
Les Biches
Para quem não conhecia Les Biches.
(... e dedicado ao senhor afectado - e escandalizado! - que perguntava para que eram necessárias tantas bichas)
No "fogo frio" dos Capelinhos
Olhando o horizonte
sentindo o vulcão
(o tempo suficiente para mudarem os outros fotografados)
Gosto da serenidade que transmites numa paisagem de dimensão telúrica.
Um abraço
A 2.ª fotografia é do prof. António Jesus
Livro
«A mãe pousou o livro nas mãos do filho.
Que mistério. O rapaz não conseguia imaginar um propósito para o objecto que suportava. Pensou em cheirá-lo, mas a porta do quintal estava aberta, entrava luz, havia muita vida lá fora. O rapaz tinha seis anos, fugiu-lhe a atenção, distraiu-se, mas não se desinteressou pelo livro, apenas deixou de o interrogar enquanto objecto em si, começou a questioná-lo de maneira muito mais abstracta, enquanto intenção, enquanto sombra de um acto.»
Que mistério. O rapaz não conseguia imaginar um propósito para o objecto que suportava. Pensou em cheirá-lo, mas a porta do quintal estava aberta, entrava luz, havia muita vida lá fora. O rapaz tinha seis anos, fugiu-lhe a atenção, distraiu-se, mas não se desinteressou pelo livro, apenas deixou de o interrogar enquanto objecto em si, começou a questioná-lo de maneira muito mais abstracta, enquanto intenção, enquanto sombra de um acto.»
José Luís Peixoto, Livro
Juro...
Dia Mundial do Livro
e do Direito de Autor
Peço desculpa por ter roubado a imagem.
(Não sei quem é o autor. Foi-se o direito?)
domingo, 21 de abril de 2013
Foram dias de Música
O fim-de-semana foi musical.
O resto... tem tempo. Não podia ser de outra maneira - houve Dias da Música. Até para compensar 2012, em que, pela primeira vez, não fui ao CCB.
Alimentei-me de concertos, tipo camelo que se prepara para a travessia do deserto - e o tempo está de camelos magros!
Em grande parte fiz revisão de matéria:
Beethoven sinfónico (e eróico ou heróico), madrigais de amor de Monteverdi (por La Venexiana), concertos para violino de Mendelssohn, para violoncelo de Schumann e para piano o n.º 4 de Beethoven e o n.º 2 de Rachmaninov - obrigatório este, para (re)vermos a vida de outra maneira (um obrigado muito egoísta, mas certamente partilhado por largos milhares de pessoas, ao psicoterapeuta que, no tratamento da depressão de que o compositor e pianista sofria, lhe sugeriu a escrita de um concerto para piano). Obrigado, também, ao Artur Pizarro, pelo desempenho ao piano. E viva o romantismo de um e de outro (e o nosso, já agora).
Ao piano, igualmente, gostei de Huseyin Sermet, quer no concerto de Beethoven (entusiasmadíssimo com um arrebatado Pedro Carneiro na direcção da orquestra) quer em composições de Chopin, Mendelssohn e Liszt (não sei como é que o "homem" não se despenteou ao tocar a última sonata - devia ter acabado todo desgrenhado, mas não... manteve o ar aprumado).
Surpresa maior: o quarteto de cordas n.º 1 de Smetana. Já não me lembrava que o compositor checo também ensurdecera. O que é certo é que o quarteto, escrito já na fase de surdez do compositor (abençoado segundo sentido auditivo!), e que retrata a sua vida em 4 andamentos, foi um agradável reencontro com a música deste checo até à medula e com o Quarteto Prazak, que conheci numa das primeiras Festas da Música.
Outro quarteto, de outro checo, Janacek, foi a outra novidade, mas o lirismo de Smetana é mais doce para osnossos meus ouvidos.
E prontos!...
Houve o que ficou paraver e ouvir ouver, mas não se pode ir a todas: há o que se ganha... e o que não se pode ganhar.
O resto... tem tempo. Não podia ser de outra maneira - houve Dias da Música. Até para compensar 2012, em que, pela primeira vez, não fui ao CCB.
Alimentei-me de concertos, tipo camelo que se prepara para a travessia do deserto - e o tempo está de camelos magros!
Em grande parte fiz revisão de matéria:
Beethoven sinfónico (e eróico ou heróico), madrigais de amor de Monteverdi (por La Venexiana), concertos para violino de Mendelssohn, para violoncelo de Schumann e para piano o n.º 4 de Beethoven e o n.º 2 de Rachmaninov - obrigatório este, para (re)vermos a vida de outra maneira (um obrigado muito egoísta, mas certamente partilhado por largos milhares de pessoas, ao psicoterapeuta que, no tratamento da depressão de que o compositor e pianista sofria, lhe sugeriu a escrita de um concerto para piano). Obrigado, também, ao Artur Pizarro, pelo desempenho ao piano. E viva o romantismo de um e de outro (e o nosso, já agora).
Ao piano, igualmente, gostei de Huseyin Sermet, quer no concerto de Beethoven (entusiasmadíssimo com um arrebatado Pedro Carneiro na direcção da orquestra) quer em composições de Chopin, Mendelssohn e Liszt (não sei como é que o "homem" não se despenteou ao tocar a última sonata - devia ter acabado todo desgrenhado, mas não... manteve o ar aprumado).
Surpresa maior: o quarteto de cordas n.º 1 de Smetana. Já não me lembrava que o compositor checo também ensurdecera. O que é certo é que o quarteto, escrito já na fase de surdez do compositor (abençoado segundo sentido auditivo!), e que retrata a sua vida em 4 andamentos, foi um agradável reencontro com a música deste checo até à medula e com o Quarteto Prazak, que conheci numa das primeiras Festas da Música.
Outro quarteto, de outro checo, Janacek, foi a outra novidade, mas o lirismo de Smetana é mais doce para os
E prontos!...
Houve o que ficou para
Torre dos Clérigos - 250 anos
Ex-libris da cidade do Porto, concluiu-se há 250 anos a construção da torre que será a obra-prima de Nasoni ou, pelo menos, aquela que conhece(u) maior projecção, inspirada, talvez, nas torres da sua Toscana.
Este fim-de-semana decorreram várias actividades comemorativas dos 250 anos.
Também tenho as minhas fotos da Torre, ora essa...
Vale a pena subir os seus 240 degraus em caracol. Do alto tem-se uma vista deslumbrante da cidade.
Este fim-de-semana decorreram várias actividades comemorativas dos 250 anos.
Fotografia de Os Caminhos da História - Porto Canal Vai passar na TV um programa da série dedicado ao monumento de Nasoni |
Vale a pena subir os seus 240 degraus em caracol. Do alto tem-se uma vista deslumbrante da cidade.
Porto (e Gaia) visto do cimo da Torre |
sábado, 20 de abril de 2013
Vamos nas vagas
Será bom que se explique que "há lugares a mais" porque se reduziu o número de disciplinas de que os alunos usufruem e diminuiu-se o número de horas lectivas por ano de escolaridade, acabou-se com os pares pedagógicos que funcionavam em várias disciplinas, aumentou-se a carga lectiva dos professores, aumentou-se o número de alunos por turma e impediu-se o funcionamento de algumas turmas de cursos para adultos.
Podemos experimentar fechar as escolas...
Pouparíamos muito mais.
sexta-feira, 19 de abril de 2013
quinta-feira, 18 de abril de 2013
Da fama ninguém o livra!
A ser verdade estariam em causa todos os "eminentes" economistas que deram como certo o famoso trabalho. Significaria que todos tinham dado como boas as inspiradoras teorias sem as comprovar. Como os alunos preguiçosos, ter-se-iam limitado a fazer copy and paste.
Comprovadamente acéfalos.
Comprovadamente acéfalos.
Ainda vai dizer que a culpa foi do filho (que fez downloads de filmes pornográficos, encheu-lhe o computador de vírus, "marou-lhe" o excel...) Por isso é que esta austeridade é pornográfica! |
quarta-feira, 17 de abril de 2013
Pelo vento
terça-feira, 16 de abril de 2013
Teatro Fechado?
Teatro para quê, quando temos este Governo?
É cada cena!... (Esse é o verdadeiro drama!)
É a cultura, estúpido!
segunda-feira, 15 de abril de 2013
Inimigos anónimos
«Nesse tempo [Estado Novo], havia um inimigo que era visível, tinha um rosto - o Salazar, a ditadura que tinha essa figura a representá-lo. Era relativamente fácil o confronto. Nós sabíamos quem estava do outro lado e sabíamos com quem podíamos contar para essa luta. Hoje não é assim. A troika não é nada, são umas instituições que têm umas siglas. Há o capital, os mercados. São inimigos anónimos mas muito mais poderosos porque não se sabe onde estão, circulam por aí pelas bolsas, pelos computadores. É uma sociedade em que o Big Brother, no sentido orwelliano, encontrou formas até muito mais perigosas do que as que ele inventou nesse livro.»
Nuno Júdice, Ler, n.º 123
domingo, 14 de abril de 2013
Árvores...
Árvore, árvore. Um dia serei árvore.
Com a maternal cumplicidade do verão.
Que pombos torcazes
anunciam.
Um dia abandonarei as mãos
ao barro ainda quente do silêncio,
subirei pelo céu,
às árvores são consentidas coisas assim.
Habitarei então o olhar nu,
fatigado do corpo, esse deserto
repetido nas águas,
enquanto a bruma é sobre as folhas
que pousa as mãos molhadas.
E o lume.
Com a maternal cumplicidade do verão.
Que pombos torcazes
anunciam.
Um dia abandonarei as mãos
ao barro ainda quente do silêncio,
subirei pelo céu,
às árvores são consentidas coisas assim.
Habitarei então o olhar nu,
fatigado do corpo, esse deserto
repetido nas águas,
enquanto a bruma é sobre as folhas
que pousa as mãos molhadas.
E o lume.
I Encontro Indústria História Património
Este Encontro internacional pretende ser um fórum de discussão aberto e pluridisciplinar, dedicado à apresentação de estudos no domínio da história da indústria enquanto realidade social global, compreendendo o património material e imaterial (tecnologia, saber-fazer técnico, práticas sociais e culturais, infraestruturas, construções, equipamentos e objectos, sítios e paisagens).
Mais informações aqui.
sábado, 13 de abril de 2013
Psicopatia social?
«Carlos Vargas, ex-assessor do ministro da Economia Álvaro Santos Pereira, fez ontem duras críticas ao ministro das Finanças na sua conta Twitter, dizendo que Vítor Gaspar é um 'psicopata social e não um ministro das Finanças'. Num tweet anterior, Vargas chamou a Gaspar 'o ministro das Finanças mais arrogante e incompetente desde o reinado de D. Maria II.»
RTP notícias
sexta-feira, 12 de abril de 2013
Escritores intervenientes (questionar o sexo dos anjos)
"A cantiga é uma arma!"
As palavras são armas.
Na revista Ler de Março, Eduardo Pitta questionava a geração de escritores/ficcionistas portugueses nascidos entre 1967 e 1978 (muitos e conhecidos) a propósito da quase nula referência (ou reflexo das) às problemáticas sociais actuais nas suas obras - a sua "aparente abulia política".
«Gostava de saber o que pensam da falácia europeia, do desemprego sem freio, do empobrecimento geral, dos direitos das minorias, do arbítrio das agências de notação financeira, do diktat da Goldman Sachs, enfim, do retrocesso que tudo isto representa. Não vem longe o dia em que hordas de desempregados vão organizar-se em milícias, como já sucede em Atenas (não é inocente que a capital grega tenha desaparecido das televisões), e nesse dia ninguém vai querer saber do sexo dos anjos para nada.»
E recordava a história da Sociedade Portuguesa de Escritores, encerrada pelo poder político do Estado Novo com a sede destruída pela PIDE, em 1965, história contada por José Gomes Ferreira nos seus diários (Dias Comuns).
Quando os mais novos se parecem alhear da realidade - e ficam pela observação do sorriso das vacas, o sexo dos anjos - são os cotas, cuja memória feita de experiência apura a consciência cívica, que saem "à luta".
Nos encontros das Correntes d' Escritas, onde se "grandolou", Hélder Macedo afirmava que o actual Governo era "o mais estúpido de sempre".
Nuno Júdice editou A Implosão, livro que «nasceu do vazio que havia na literatura em relação a este mundo actual. (...) Esse vazio levou-me a escrever e a lembrar-me de outros períodos da nossa literatura em que o escritor também teve esse tipo de intervenção. O Manuel Alegre falou, a propósito d'A Implosão, no Guerra Junqueiro do Finis Patriae. Mas há mais: o Eça de Queirós quando escreveu A Batalha do Caia que depois não publicou por receio, ou o Aquilino Ribeiro do Quando os Lobos Uivam, ou o Raul Brandão que para mim é uma referência importante. Os livros dele nunca são neutros em relação à realidade.»
E nem referiu os neo-realistas, politicamente mais "marcados".
Alberto Pimenta lançou o ácido de nada.
Mário de Carvalho teve hoje direito a destaque na capa do Jornal de Negócios.
Não está tempo para o sexo dos anjos.
As palavras são armas.
Na revista Ler de Março, Eduardo Pitta questionava a geração de escritores/ficcionistas portugueses nascidos entre 1967 e 1978 (muitos e conhecidos) a propósito da quase nula referência (ou reflexo das) às problemáticas sociais actuais nas suas obras - a sua "aparente abulia política".
«Gostava de saber o que pensam da falácia europeia, do desemprego sem freio, do empobrecimento geral, dos direitos das minorias, do arbítrio das agências de notação financeira, do diktat da Goldman Sachs, enfim, do retrocesso que tudo isto representa. Não vem longe o dia em que hordas de desempregados vão organizar-se em milícias, como já sucede em Atenas (não é inocente que a capital grega tenha desaparecido das televisões), e nesse dia ninguém vai querer saber do sexo dos anjos para nada.»
E recordava a história da Sociedade Portuguesa de Escritores, encerrada pelo poder político do Estado Novo com a sede destruída pela PIDE, em 1965, história contada por José Gomes Ferreira nos seus diários (Dias Comuns).
Quando os mais novos se parecem alhear da realidade - e ficam pela observação do sorriso das vacas, o sexo dos anjos - são os cotas, cuja memória feita de experiência apura a consciência cívica, que saem "à luta".
Nos encontros das Correntes d' Escritas, onde se "grandolou", Hélder Macedo afirmava que o actual Governo era "o mais estúpido de sempre".
Nuno Júdice editou A Implosão, livro que «nasceu do vazio que havia na literatura em relação a este mundo actual. (...) Esse vazio levou-me a escrever e a lembrar-me de outros períodos da nossa literatura em que o escritor também teve esse tipo de intervenção. O Manuel Alegre falou, a propósito d'A Implosão, no Guerra Junqueiro do Finis Patriae. Mas há mais: o Eça de Queirós quando escreveu A Batalha do Caia que depois não publicou por receio, ou o Aquilino Ribeiro do Quando os Lobos Uivam, ou o Raul Brandão que para mim é uma referência importante. Os livros dele nunca são neutros em relação à realidade.»
E nem referiu os neo-realistas, politicamente mais "marcados".
Alberto Pimenta lançou o ácido de nada.
Mário de Carvalho teve hoje direito a destaque na capa do Jornal de Negócios.
Não está tempo para o sexo dos anjos.
quinta-feira, 11 de abril de 2013
Livrarias que resistem
Enquanto na Baixa fecham livrarias e alfarrabistas - está a acabar o amor aos livros? O capitalismo é inculto? - outras/outros vivem, com mais ou menos dificuldades - resistem? - e são merecedores(as) de destaque.
Parabéns aos lutadores pelos livros.
Baixa de Lisboa - um imenso hotel?
Segundo a comunicação social, decorrem obras para 7 novos hotéis na Baixa de Lisboa. Na Câmara serão 30 os pedidos de licenciamento de novos hotéis (não sei se todos na Baixa).
No Largo Trindade Coelho, mesmo em frente à Igreja de S. Roque, dizem que é para um hotel as obras que se irão fazer num prédio que alberga duas livrarias-alfarrabistas: a Olisipo e a Artes e Letras. Virá o hotel, desaparecem as livrarias.
A nova lei das rendas "agiliza" (verbo moderno) estes processos. As rendas poderão estar desadequadas ao espaço arrendado, desactualizadas, o sítio é atraente, o turismo é necessário, tudo legal, tudo justificado.
Mas... com este crescimento dos estabelecimentos hoteleiros e o desaparecimento dos espaços atractivos que dão a identidade à zona e fazem a diferença, não se corre o risco de se matarem os chamarizes e os turistas andarem na Baixa a ver... hotéis?
No Largo Trindade Coelho, mesmo em frente à Igreja de S. Roque, dizem que é para um hotel as obras que se irão fazer num prédio que alberga duas livrarias-alfarrabistas: a Olisipo e a Artes e Letras. Virá o hotel, desaparecem as livrarias.
O prédio em questão é o de esquina (junto à margem direita) |
A nova lei das rendas "agiliza" (verbo moderno) estes processos. As rendas poderão estar desadequadas ao espaço arrendado, desactualizadas, o sítio é atraente, o turismo é necessário, tudo legal, tudo justificado.
Mas... com este crescimento dos estabelecimentos hoteleiros e o desaparecimento dos espaços atractivos que dão a identidade à zona e fazem a diferença, não se corre o risco de se matarem os chamarizes e os turistas andarem na Baixa a ver... hotéis?
Livraria Olisipo |
Livraria Artes e Letras |
Portugueses melhores que alemães e franceses
Portugueses melhores que alemães e franceses - Portugal - DN
Num país cada vez mais cinzento de sombrio, as boas notícias são raras.
Estes resultados parecem confirmar uma melhoria já verificada desde 2010.
Eu, pela minha experiência educativa dos últimos anos, e não querendo ser "Velho do Restelo", apetece-me perguntar se não são os outros países que estão a descer.
O Governo faz bem em desinvestir na educação. Não nos fica bem estar à frente dos alemães!
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