Todos os meses lá seguia uma carta, mas do Ministério nem palavra,o silêncio mais absoluto. Meses a fio. Nem sei quanto ela terá gasto em selos. Até que uma manhã, ia ela a chegar, quando vê a Sra. Palmira, empregada da escola, a correr para ela, felicíssima, de braços abertos :"chegou a encomenda, professora, finalmente o ministério mandou as coisas!" Correu para ela, quis saber mais coisas, se tinham deixado algum recado - mas a Sra.Palmira disse que não, tinham descarregado os caixotes e tinham-se ido logo embora, ela até tinha perguntado se não era preciso assinar nenhum papel, mas eles que não, que tinham de voltar depressa porque em Lisboa havia grandes complicações, ainda ninguém percebia bem o que se estava a passar, mas andava tropa pelas ruas, a rádio até já tinha dito para toda a gente ficar em casa, aquilo era mesmo uma grande confusão. A Sra. Palmira até ria: "ó professora,olhe que eu até percebi "revolução"!! A Teresa riu também, "ó Sra Palmira, uma revolução em Lisboa?" E riram muito as duas, enquanto começaram a abrir os caixotes para retirarem o material tão desejado.
Só que, de todo o material pedido, o Ministério tinha apenas mandado os retratos do Senhor Presidente do Conselho e do Senhor Presidente da República....Que, evidentemente, nunca chegaram a ser pendurados.»
Alice Vieira
Sem comentários:
Enviar um comentário