Publicação do n.º 1 da Orpheu.
Os poetas de Orpheu são considerados "casos de paranóia", clinicamente falando. Orpheu é considerado um caso de foro psiquiátrico.
«Rilhafolescamente: A humanidade avança... mais 200 anos e o mundo será um grande manicómio.»
(O Povo, 17 de Abril de 1915)
Como escrevia Fernando Pessoa numa carta a Côrtes-Rodrigues (4 de Abril de 1915): «Somos o assunto do dia em Lisboa; sem exagero lho digo. O escândalo é enorme. Somos apontados na rua, e toda a gente - mesmo extraliterária - fala do Orpheu.»
É assim que Fernando Pessoa apresenta a revista, quando, depois do n.º 2, escreve a Camilo Pessanha a convidá-lo para colaborar:
«(...) é a única revista literária a valer que tem aparecido em Portugal, desde a Revista de Portugal, que foi dirigida por Eça de Queirós. A nossa revista acolhe tudo quanto representa a arte avançada; assim é que temos publicado poemas e prosas que vão do ultra-simbolismo ao futurismo.»
Orpheu é uma bem-aventurada reunião de um conjunto multifacetado de poetas e artistas com "afinidades dissonantes". «Quando algumas pessoas têm a mesma desgraça... juntam-se.», afirmou Almada Negreiros na entrevista que deu, em 1969, no Zip Zip.
Corresponde a um encontro pleno das letras com as artes, espaço de uma expressão criativa de ruptura. A alma modernista centra-se em Almada Negreiros, Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, todos numa fase de afirmação e de irreverência própria de quem está na casa dos vinte anos.
Como continua Fernando Pessoa na carta para Camilo Pessanha, «[A revista] tem sabido irritar e enfurecer, o que, como V. Ex.ª muito bem sabe, a mera banalidade nunca consegue que aconteça. Os dois números não só se têm vendido, como se esgotaram, o primeiro deles no espaço inacreditável de três semanas. Isto alguma coisa prova - atentas as condições artisticamente negativas do nosso meio - a favor do interesse que conseguimos despertar.»
Júlio Dantas atacava: «Quem não tem juízo, é quem os lê, quem os discute e quem os compra.»
Resposta (através de Almada): «Morra o Dantas, morra! PIM!»
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