"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

domingo, 8 de março de 2015

Visionárias

Elas são as visionárias
as sonhadoras furtivas

as preferidas dos anjos
profanas e metafóricas
rebeldes com avidez

no desacato da vida

Elas são as alumbradas
com êxtases
e visões múltiplas

apóstolas e passionárias
com crueldades simbólicas
metafóricas, destemidas

Elas são as pensadoras
fantasiosas, ascetas
no desacato das regras

reinventam riso e risco
a reescreverem a escrita
a linguagem perdida

Elas são as poetisas
mas também as romancistas
filósofas, historiadoras

chamejantes e luzentes
singulares e criativas
onde seria suposto

encontrar-se o seu oposto

Elas são mediadoras
no torvelinho dos dias
vão cerzindo a sua imagem

correm na vida sozinhas

Tomam conta do saber
inscrevem novas palavras
desatam mitos e símbolos

Elas são as jubilosas
singulares, impacientes
a recusarem os medos

desobedecem e partem
dizendo não ao destino
descobrem a própria sina

Elas saltam, elas dançam
em cima do seu passado
escolhem rumos e marés

vão navegando o futuro
timoneiras e corsárias
feiticeiras, estrelas d’alva

Crescem no espinho
em segredo
inventando a mulher nova


Senhoras de tanto enredo
Maria Teresa Horta



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