"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

domingo, 29 de março de 2015

A Invenção do Dia Claro

Almada tinha razão: mais luz, alegres.




História das Palavras

«As mulheres e os homens estavam espalhados pela Terra. Uns estavam maravilhados, outros tinham-se cançado. Os que estavam maravilhados abriam a bocca, os que se tinham cançado tambem abriam a bocca.

Houve um homem sósinho que se poz a espreitar esta diferença - havia pessoas maravilhadas e outras que estavam cançadas. 

Depois ainda espreitou melhor. Todas as pessoas estavam maravilhadas, depois não sabiam aguentar-se maravilhadas e ficavam cançadas.

As pessoas estavam tristes ou alegres conforme a luz para cada um - mais luz, alegres - menos luz, tristes.

O homem sósinho ficou a pensar n'esta diferença. Para não esquecer fez uns signaes n'uma pedra.

Este homem sósinho era da minha raça - era um Egypcio!

Os signaes que elle gravou na pedra para medir a luz por dentro das pessôas, chamaram-se hieroglifos.

Mais tarde veiu outro homem sósinho que tornou estes signaes ainda mais faceis. Fez vinte e dois signaes que bastavam para todas as combinações que ha ao Sol.

Este homem sósinho era da minha raça - era um Phenicio!

Cada um dos vinte e dois signaes era uma lettra. Cada combinação de lettras uma palavra.»

Almada Negreiros, A Invenção do Dia Claro


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