"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

quarta-feira, 18 de março de 2015

José Gomes Ferreira cinéfilo (1)

Às vezes fico com a sensação de que um local que visito se torna centro das atenções nos tempos mais próximos, que uma personagem "encontrada" em exposições ou em livros se torna súbita mas repetidamente referida nos meios de comunicação social... Distracção prévia, coincidências, efeito magnético ou egocentrismo.

Após a visita à exposição sobre Cottinelli Telmo, ao pegar n'O irreal quotidiano, de José Gomes Ferreira (1971), leio a passagem 
«Aqui, há quarenta anos, numa manhã de sol aberto, acampei com o operador cinematográfico Bobone, para filmarmos os planos iniciais de A Canção de Lisboa. O Cottinelli acordou aborrecido e, a mastigar sono, perguntou-me: "queres ir tu?".
Aceitei e lá fui por essas ruas, muito feliz daquele escândalo brando de andar a exibir-me com camisolas de cineasta, máquinas e reflectores...»

Penso "O que é que o José Gomes Ferreira tem a ver com o filme?"

José Gomes Ferreira
Procuro na sua fotobiografia e lá está a colaboração em revistas sobre cinema, o trabalho na tradução e legendagem de filmes e a sua participação, a diferentes títulos, na que se convencionou chamar sétima arte (sempre sétima, numa ordem com as suas variações...).

«Foi nessa época (...) que o Eduardo Chianca de Garcia (...) se entregou à tarefa de criar a Tóbis Portuguesa com outros comparsas entusiásticos. E assim se iniciou o período dos filmes falados portugueses, com A Canção de Lisboa de que o Cottinelli Telmo foi a alma viva e ainda hoje faz rir até às lágrimas do fundo dos olhos, pelo que existe de lisboeta à René Clair (a célebre "cegada", por exemplo) autêntico clássico do nosso cinema notavelmente interpretado por António Silva, Vasco Santana e a querida Beatriz Costa. Para mim é uma honra especial lembrar-me de que assisti, como representante do Telmo, à montagem de A Canção de Lisboa feita por uma francesinha gira. (Era o primeiro fonofilme - como nesse tempo se dizia na nossa língua - montado em Portugal. (...)»

Segundo a ficha técnica de A Canção de Lisboa, José Gomes Ferreira trabalhou na montagem do filme.
E encontramos, ainda, o pintor Carlos Botelho, como assistente de realização, e o realizador Manoel de Oliveira, como actor.
Os cartazes do filme são da autoria de Almada Negreiros.


Só artistas!!!


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