Num comemora-se, noutro lamenta-se. Ou vice-versa.
Ontem, comemorou-se a classificação da Universidade de Coimbra.
Na 5.ª feira passada, um grupo de refugiados da Segunda Guerra Mundial e familiares que devem as suas vidas aos vistos passados pelo cônsul Aristides de Sousa Mendes visitaram Cabanas de Viriato, a aldeia natal do diplomata, deslocando-se à sua casa - a chamada Casa do Passal.
A visita era uma homenagem, mas foi também um exercício deprimente pelo estado de ruína da casa, "aberta ao desrespeito, esventrada pela degradação".
«É tão triste ver a casa a cair, faz-me mal ao coração olhar para o edifício e pensar em algumas histórias que o meu pai, o meu avô e a família aqui viveram.», disse uma neta do cônsul. O avô morreu na miséria, ostracizado por Salazar, que nunca lhe perdoou a "traição" de ter desobedecido às suas orientações.
De há muitos anos para cá que se fala no acto de desobediência de Aristides de Sousa Mendes e o que ele significou no número de pessoas salvas. Foram mais de 30 mil os vistos que passou, mais de 30 mil vidas que puderam fugir do Holocausto. Com a popularidade do filme A lista de Schindler fizeram-se comparações.
Palavras e intenções, mas da casa, se se considerou que era património, ninguém cuidou. A passagem acima sublinhada e que fala da degradação do imóvel já é, pelo menos, de 1991, data da publicação de O Cônsul, romance de Júlia Nery.
O Sec. de Estado da Cultura não esteve presente na homenagem: que justificações teria para explicar o estado de degradação? A responsabilidade não é (só) sua - é de todos os anteriores secretários da cultura, ministros da dita cultura, governos, outras entidades... nossa, em último caso.
O futuro, espera-se, deverá ser mais risonho.
Certamente por vergonha, quando da visita à casa, uma mensagem do Sec. de Estado anunciou que o edifício vai ter obras de reabilitação. Mas parece que, por agora, é só para intervenção no telhado. Aqui, é preciso começar por cima.
Sem comentários:
Enviar um comentário