"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Emmerico Nunes entrou para a família

Há nomes, locais, acontecimentos que só ganham sustância na nossa consciência, às vezes por acaso, depois de atentarmos bem na sua existência, dela se tornar bem evidente aos nossos olhos e à nossa memória.

Depois, até cremos ser impossível ter passado tanto tempo da nossa vida sem darmos conta deles, porque passamos a estar atentos à sua referência por outros, parece que tropeçamos neles todos os dias, encontramo-los ligados a outros nomes, locais e acontecimentos que já faziam parte do nosso universo (ou passam a fazer).
Como é que não os descobrimos antes?


Emmerico Nunes, por exemplo.
Conhecia-o como autor de desenhos humorísticos do início do século passado, elemento participante no I Salão dos Humoristas Portugueses (1912).
Fui à exposição que lhe é dedicada no Centro de Arte Moderna, da Fundação C. Gulbenkian e de que aqui  falei. Descubro que há mais Emmerico Nunes. Muito mais - o exposto e o que passo a saber que existe e não está exposto. Aliás, os desenhos expostos foram, durante anos, considerados perdidos, por isso o nome da exposição: A obra perdida de Emmerico Nunes.

Depois fico a saber que estudou em Paris, conselho dado por Malhoa a seu pai, e associo-o àquele pintor. Também a Amadeo de Sousa Cardoso, por via do qual o podemos encontrar em fotografias já conhecidas, mas onde "o não via" (era personagem secundária, em comparação com a "estrela"). E encontramos aí, também, Manuel Bentes (mas desse falarei mais tarde, que ainda deve ser meu tio!).

Emmerico Nunes, Manuel Bentes, Amadeo de Souza-Cardoso e Alexandre Ferraz de Andrade
em casa de Amadeo, no Boulevard Montparnasse (Paris)
Depois descubro que viveu e morreu em Sines e associo-o ao nome do Centro Cultural daquela cidade, quando até aí o nome do Centro era neutro, não me fazia tilintar nenhuma campainha no interior da cabeça. Num blog sobre património em risco, descubro a casa que habitou em Sines, em estado de abandono. Antes, pouco ou nada me diria.

Casa em que Emmerico Nunes viveu, em Sines.
Pertencia à família da mulher, Clotilde Pidweel Nunes
Depois, pelo acaso de encontrar e folhear a vol d'oiseau um livro sobre pinturas de Portugal, deparo-me com uma pintura de paisagem da sua autoria, em que dificilmente repararia se não tivesse ido à exposição e passasse a estar atento ao seu nome. Acaso dos acasos, a pintura representa Serpa (será que foi a Serpa pela sua relação com Manuel Bentes?).



A net é um mundo. Entro, procuro e tenho mais pinturas de paisagens: Sines (natural, se lá viveu), Rana (campos de cultivo, será que é a Rana que conheço e que fica nas "traseiras" da minha casa? Olha que coincidência! A suspeita passa a verdade ao ver a pintura seguinte), Rebelva - Carcavelos (olá!, é mesmo aqui a dois passos de casa!)...

Emmerico Nunes - Sines
Emmerico Nunes - Rana
Emmerico Nunes - Rebelva
Não procurei muito mais, mas o suficiente para me deparar com o publicitário que também foi.
O blog Dias que voam apresenta um bom conjunto de anúncios bem dispostos.

A partir de agora, nada do que encontrar sobre Emmerico Nunes me será estranho, ou seja, passa a ser incorporado/processado na minha base de dados mental.
Estarei mais atento.

Emmerico Nunes caricaturado por Amadeo

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