"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

quinta-feira, 13 de junho de 2013

A casa ao pé do rio


Prédio onde Fernando Pessoa nasceu, há 125 anos, e viveu até aos 5 anos
Largo de S. Carlos, n.º 4, 4.º Esq.

(os 30 anos assinalados são os da sociedade de advogados,
actual proprietária do prédio)
«(...)
a lua sobe no horizonte
E a minha infância feliz acorda, com uma lágrima, em mim.
O meu passado ressurge, como se esse grito marítimo
Fosse um aroma, uma voz, o eco duma canção
Que fosse chamar ao meu passado
Por aquela felicidade que nunca mais tornarei a ter.

Era na velha casa sossegada ao pé do rio...
(As janelas do meu quarto, e as da casa-de-jantar também,
Davam, por sobre umas casas baixas, para o rio próximo,
Para o Tejo, este mesmo Tejo, mas noutro ponto, mais abaixo...
Se eu agora chegasse às mesmas janelas não chegava às mesmas janelas.
Aquele tempo passou como o fumo dum vapor no mar alto...)

Uma inexplicável ternura,
(...)
Mas todo este tempo não estive a reparar para nada.
Tudo isto foi uma impressão só da pele, como uma carícia
Todo este tempo não tirei os olhos do meu sonho longínquo.
Da minha casa ao pé do rio,
Das janelas do meu quarto dando para o rio de noite,
E a paz do luar esparso nas águas!...»
Álvaro de Campos, Ode marítima

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